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Imaginem-se a entrar numa sala relativamente escura. A sala é quadrada e, em toda a volta, há ecrãs gigantes. Há também uma divisão no meio que permite mais ecrãs, um para cada lado, com a possibilidade de andar à volta. Nesses ecrãs vão passando imagens, todos eles diferentes, mas todos eles mostram uma parte do todo. Esse todo é uma casa onde há várias pessoas, todas elas estão a tocar um instrumento e a cantar. Todos a mesma canção, mas cada um em seu ecrã. Percebemos que há uma mulher na sala, um homem na banheira, um grupo no alpendre, outros na cozinha. Vamos andando pela sala e vendo, em cada um desses ecrãs, uma parte desse todo. A música é melancólica, repetitiva, indolente, mas bonita, marca o tempo dos passos que damos à volta da sala e nos vai fazendo andar cada vez mais devagar. Mais pessoas entram na sala. Todas elas ficam surpreendidas, fazem um ar de espanto, mas depois entregam-se. Vão andado, vão vendo acontecer, com respeito, com ternura, até com carinho.

Isto que acabei de descrever corresponde ao que senti na exposição The Visitors, de Ragnar Kjartansson que tive a sorte de ver no Guggenheim de Bilbao no ano passado. Nunca cheguei a falar aqui dessa viagem pelo norte de Espanha porque foi uma vigem triste, mais de fuga que de prazer, mas teve coisas boas e momentos marcantes. Não sei porque hoje me apeteceu falar disto, mas apeteceu e, no fundo, não há melhor motivo para partilhar do que a vontade de o fazer. Ainda por cima, tenho que compensar o facto de estar há imenso tempo sem escrever aqui no blog.

Este vídeo mostra bem melhor do que eu poderia fazer.

 

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Ouvi falar de Susan Cain pela primeira vez quando a vi nas Ted Talks. O tema e a apresentação dela deixaram-me curioso e, agora, finalmente li o livro.

Gosto muito de livros que passam pela psicologia mas de uma forma bastante prática. É o caso deste.  Susan Cain interessou-se pelo tema da diferença entre introvertidos e extrovertidos e como é a vida dos primeiros num mundo que parece cada vez mais organizado em função dos segundos.

Em vez de estar aqui a escrever sobre o livro, o melhor que posso fazer é deixar a autora fazê-lo. Aqui fica a Ted Talk:

 

 

Já agora, para quem não conheça, há de tudo nestas Ted Talks, e quase sempre são imensamente interessantes. A primeira que conheci foi esta, e ainda hoje não encontrei nenhuma mais fascinante:

 

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Nesta coisa de escrever as minhas impressões sobre as leituras que vou fazendo, há um exercício que acho particularmente interessante - o da objetividade. Não pretendo ser um exemplo, faço-o para mim próprio. Não gosto de julgar de uma forma completamente subjetiva e quando o faço, e faço-o muitas vezes, costumo assinalá-lo. Ou seja, quando digo que não gostei só “porque sim” (e acontece muito porque é absolutamente natural) costumo dizer que é o caso.

Este livros provoca-me alguns problemas a esse nível. Não posso dizer que gostei. Mas como é que se pode não gostar de um livro que se leu num ápice? Comecei num dia e acabei no dia seguinte, apenas lhe peguei essas duas vezes. Não me aborreceu, ri-me várias vezes, passei umas boas horas. Mas quando chego à parte de apreciá-lo de forma mais completa, quando tento escrever as minhas impressões sobre ele, fico cheio de dúvidas.

O meu principal problema é a forma como o tema me toca. O período nazi e da segunda Guerra Mundial é um tema recorrente das minhas leituras, dos meus filmes, das minhas reflexões. E, por isso, não poderia deixar de ficar curioso com esta história em que se escreve sobre o regresso de Hitler. Mas o regresso literal, ou seja, de repente, num belo dia do nosso tempo, Hitler acorda e está novamente aí. O que é que se espera de uma coisa destas? Bom, em primeiro lugar, talvez uma explicação. Mas não há. O autor não nos ilude e torna bem claro que isto aconteceu e pronto, ou se aceita ou não. Eu aceitei e, portanto, não é rigor que espero, mas que essa ficção sirva para um propósito maior. Depois deste início em que Hitler acorda vamos acompanhá-lo na sua descoberta da Alemanha dos nossos dias. E vamos ver também como é que as pessoas reagem a este acontecimento. Claro que ninguém acredita que ele seja o verdadeiro Hitler, apenas acham que é um ator particularmente parecido e muito rigoroso no seu papel. Pronto, quem quiser um livro sobre isto pode então ir ler. É divertido ver Hitler a interagir com o telecomando da televisão ou a tornar-se uma celebridade no youtube. Mas esse não era o livro que eu esperava. Na verdade, aquilo que eu esperava não é relevante para o que o livro é, portanto: veredito um - enquanto livro de entretenimento, sobre alguém do passado que acorda no futuro, está giro. Fraquinho mas giro. Há imensas coisas assim na ficção, nada de muito original.

A outra leitura, a que eu esperava encontrar e está lá latente, é ainda menos desenvolvida. Refiro-me à reflexão sobre o regresso das ideias de Hitler no contexto atual. E é aí que os meu problemas com este livro começam. É que não se pode falar de um ressurgimento, hoje, dessas ideias. Elas não voltaram porque infelizmente têm estado sempre por aí. Ganham protagonismo recorrentemente. É assustador mas é verdade que estão sempre latentes, e ganham sempre mais adeptos em alturas difícieis como a que atravessamos. Eu esperava alguma reflexão sobre isso mas a verdade é que, nesse particular, construir a fantasia do regresso de Hitler, acaba por enfraquecer qualquer possibilidade de tratar o tema de forma relevante. O próprio livro reflete sobre o humor e os seus limites, mas parece-me que o que ele faz não é tanto usar o humor, é usar a fantasia, a qual enfraquece as possibilidades do humor. Portanto: veredito dois - enquanto reflexão sobre as fronteiras e possibilidades do humor no tratamento de temas fundamentais, é uma desilusão.

Mas há outro problema pessoal. É que o tema do regresso de Hitler já o vi tratado de forma magistral no filme A Onda. Aí um professor desafia os alunos que acham que seria impossível o regresso de um regime totalitário à Alemanha. Cedo se começa a ver que, afinal, não seria assim tão difícil. Para além de ser parcialmente uma história verdadeira, A Onda mostra como a manipulação mais primária e os sentimentos mais vis têm um caminho a percorrer e muita gente para aplaudir de pé. Por isso, não me revejo na fantasia de Hitler acordar hoje e divertir-me a ver como ele se adaptaria. Pelo contrário, sofro sempre por ver que ele ainda está demasiado vivo.

Posto isto, este livro tem tudo para agradar a muita gente. Eu  tenho razões muito pessoais para o odiar. Mas, ainda assim, gostei de o ter lido. Em que ficamos? Não sei. Se o lerem, digam coisas. Mas, já agora, porque não ver o filme de Dennis Gansel?

 

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Há 4 anos escrevi aqui, sobre Doris Lessing, a propósito do seu livro Amar de Novo, que havida de voltar a lê-la. Deixei também a indicação de que seria As Avós. Não aconteceu. Na verdade, embora não me tenha esquecido, ainda não voltei. Mas acabei de ver o filme Adore, uma adaptação a partir desse conto, As Avós. Não sabia, apenas me tinham dito que era a partir de uma obra de Doris Lessing.

 

Estou ainda um bocado zonzo, quero apenas dizer que é magistral, precisamente por causa do argumento. Uma história como nunca tinha visto ou lido sobre duas grandes amigas de uma vida inteira e de como cada uma delas se envolve com o filho (bem mais novo) da outra. O filme coloca em cena uma complexidade incrível de sentimentos, sem tomar partidos, sem querer sobrepôr-se à própria história. E agora tenho mesmo que ler o conto porque se o resultado em filme é assim qause tremo ao pensar no que poderá ser ler esta história.

 http://www.imdb.com/title/tt2103267/

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Before...

20.07.13

Visto e amado, como sempre. Um destes dias cá voltarei para contar.

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Tenho uma rotina quase sagrada há anos. Sempre que vejo um filme, ou sempre que quero saber se devo ver um filme, vou ao IMDB e, depois de entrar nos detalhes do filme, consulto as “external reviews”. Não me interesso pela classificação do público, ou os votos, ou essas coisas que hoje são tão absurdamente valorizadas. Nesses external reviews há links para críticos, especialistas, pessoas que escrevem a sério e com conhecimento de causa sobre sobre cinema. Foi aí que me habituei a consultar sempre 2 críticos: James Berardinelli e Roger Ebert.

É sobre Rogert Ebert que gostava de deixar algumas palavras. Já com atraso, assinalo aqui a sua morte. Tinha 70 anos, dezenas de livros escritos sobre cinema e esse site que é um tesouro onde se podem ler os seus textos. Não se concorda sempre com ele, longe disso, mas ganha-se sempre qualquer coisa com o que escreveu.

 

Vou ter saudades de lhe “perguntar” a opinião sobre novos filmes. Felizmente, no que diz respeito ao passado, vou poder continuar a seguir a minha rotina.  

http://rogerebert.suntimes.com/

Thumb_roger-red-seats

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Pronto, está reposta a verdade, já vi o filme de que falei no post anterior. E valeu bem a pena. Em primeiro lugar, foi uma grande surpresa. Esperava que o Mitchell fizesse um filme ousado, eventualmente polémico, com choque. Mas não, há um respeito tão grande pelo tema, uma abordagem tão contida, tão manifestamente envolvida emocionalmente, que fiquei rendido.

Quem não quiser saber o tema do filme não deve continuar a ler. Mas é difícil não saber, tão difícil quanto lamentável. É que o filme demora a revelar a sua história. Trata-se de um casal que perdeu um filho há 8 meses, uma criança de 4 anos. Demoramos algum tempo a saber. Durante uma parte do filme vamos percebendo que aconteceu qualquer coisa, mas não sabemos o quê. Não é difícil perceber mas, de qualquer forma, é apreciável a forma como tudo nos vai sendo revelado. A partir do momento em que sabemos, o filme assume a sua narrativa e as consequências daquela morte. Não há nada de espetacular, não há cenas de fazer chorar as pedras da calçada, não. Há apenas um desfilar de pequenos momentos, de conversas, de tentativas de aproximação, de deterioração de relações. Há momentos de choque mas construídos com palavras, gestos, olhares, sem concessões comerciais. Longe, tão longe, das imagens absolutamente radicais de Shortbus, o filme choque de Mitchell.
Não gosto menos dos filmes anteriores por este ser tão diferente e, num certo sentido, um filme tão mais maduro e tão mais completo enquanto objeto cinematográfico. Pelo contrário, só comprova a enorme sensibilidade artística de John Cameron Mitchell.

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Só pode. É que não se trata de ainda não ter visto: Não se trata de estar na “lista” e nunca mais chegar a vez dele. Não, trata-se de pura e simples ignorância - eu não sabia sequer que este filme existe. Primeiro ainda pensei que tinha acabado de estrear. Mas não, é de 2010.

 

Por isso, peço desculpa ao John Cameron Mitchell que deve ser um dos artistas que mais admiro mas que tanto tenho desprezado. Quer dizer, ele anda sempre no meu ipod (a banda sonora de Hedwig é cantada por ele próprio), e o Hedwig e o Shortbus são dois filmes que nunca esqueço quando penso nos que mais gosto (especialmente o primeiro), mas é incrível que eu não soubesse deste filme. Ainda por cima, sendo um filme com a Nicole Kidman, nem deve ser assim tão desconhecido.

 

Bom, vamos lá ver este Rabbit Hole.

 

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Infelizmente, não vi a cerimónia dos Óscares, mas dediquei a noite ao cinema. Foi com este:

Um filme delicioso do mesmo realizador de Luna Papa. É também um fantástico passeio por paisagens invlugares e belas (creio que na Crimeia, Ucrânia, mas não consegui saber exatamente onde).

 

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Ally McBeal

22.01.13

Era uma coisa que me tinha ficado atravessada. Por isso, ando há cerca de 1 ano a ver Ally McBeal. Vi vários episódios há muito anos. Gostei muito mas senti-me sempre perdido. É um facto que odeio apanhar coisas a meio. Hoje em dia, se já começou há 3 minutos, nem penso sequer em ver. Mas, nessa altura, vi. Ficou-me a sensação de que um dia, quando pudesse ver tudo de princípio até ao fim, ia gostar muito mais.

 

As primeiras duas séries são muitíssimo melhores do que eu me lembrava. Muito divertida mas muito séria, cheia de grandes momentos. A partir da 3ª série, já se começa a estranhar. É notória a forma como o nível baixa.

A 4ª já só se vê porque se gosta das personagens e se quer saber o que vem a seguir. Parece outra série (mas, se calhar, até é melhor que a 3ª, pelo menos não se vê a decair, apenas se vê que está diferente), mais de episódios individuais - não devem ter sido estes que eu vi no passado.

A 5ª pareceu-me um degrau acima, mas ainda assim abaixo do bom e só até meio. Volta a ser bastante divertida mas com um humor muito mais empenhado no fácil do que no inteligente. Os últimos 10 episódios (mais ou menos isso) são arrepiantes de tão pouco convincentes que são. As saídas para avançar no enredo são tão fracas que é ridículo, absolutamente ridículo.

Mas uma coisa é certa: há ali personagens inesquecíveis, pena que o argumento não as respeite como elas mereceriam.

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