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Tenho muita dificuldade em lidar com a espera quando se trata de ficção. Não consigo ver uma série ao mesmo tempo que ela dá. Só começo quando ela já terminou ou vai bem adiantada (sim, isso faz com que eu ainda só tenha visto a 1ª temporada da Guerra dos Tronos). Detesto que um filme só continue no ano seguinte (e, mesmo assim, não consegui resistir a ir vendo, ano a ano, O Senhor dos Anéis). Os únicos que não me chateiam são os Before Sunrise/Sunset/Midnight porque, em rigor, não fazia ideia de que eles voltariam. No fundo, se calhar assim acabo por esperar mais, mas prefiro ver/ler tudo seguido.

Isto tudo para dizer que ando há uns anos à espera que saia o terceiro volume desta trilogia para poder começar a lê-la. Portanto, chegou o momento de me lançar nas mais de 2500 páginas da Trilogia O Século, isto sem nunca ter lido Ken Follett, ou seja, sem saber muito bem o que me esperava.

Vamos lá, primeiro, fazer um alerta: há uma diferença grande entre o mérito literário, a “arte pela arte”, a literatura enquanto expressão artística e estética, etc, blá, blá, blá... Quero eu dizer, e que fique bem claro, não posso dizer que isto seja uma grande obra literária no sentido “artístico”. Não é. Pelo contrário, tem falhas enormes, é vulgar e é irrelevante. Mas, evidentemente, também não é isso que este livro pretende ser, nem o seu autor anda propriamente a aparecer como alguém que possa ganhar um Nobel. Posto isto, vamos lá apreciar o livro por aquilo que ele é e por aquilo em que ele é uma das melhores leituras que se pode fazer, em termos de entretenimento e de informação.

Este volume inicial conta a história dos primeiros 24 anos século XX com destaque para o período pré e durante a Grande Guerra. Note-se que eu não disse que este livro se passa nesse período de tempo, nem que nos transporta para essa época histórica. Não, eu disse e repito: este livro conta a história. Digo isto porque acredito que esta é a grade diferença, o grande mérito e o que o torna tão interessante é que os acontecimentos-chave da história (real) é são os protagonistas do livro e o seu leitmotiv. Claro que para contar tudo, e com algum detalhe em certos casos, o autor criou os personagens que vão servindo de modelos das pessoas reais. Sim, são relativamente planas, todas muito direitinhas no seu papel, todas muito “boas” ou “más”, conforme dê jeito. Mas percebe-se bem que elas servem para ilustrar, que cada uma delas representa gente a sério que existiu e passou por aquilo.

Outro aspeto que me deixa sempre contente é que este livro é um bom ponto de partida. Aliás, é um pontapé. Ou seja, a ficção leva-me a querer saber mais e com mais rigor. Por isso, ainda ia eu a meio destas mais de 900 páginas e já estava a iniciar a leitura de um outro, desta vez de história, sobre a I Guerra Mundial que andava aqui à espera de vez (A Guerra que Acabou com a Paz, de Margaret MacMillan). Mas como se não bastasse, ainda me fez iniciar a leitura de Os Budenbrook, de Thomas Mann, que vai ainda mais atrás no tempo. Ou seja, Follett abre o apetite para outros, o que não é, de forma alguma, um elemento a desprezar. Isto deve dar para perceber que é precisamente a Grande Guerra que é um dos temas fortes deste primeiro livro. Sinceramente, nunca li nada tão claro sobre como começou esta guerra. Não serve para ficar a saber tudo, serve para compreender melhor a base. No fundo é como ir ver Pompeia, em Itália. Depois de ver tantas casas romanas em pé, compreende-se muito melhor qualquer outra ruína. É esse o mérito deste livro, cria uma forma de contextualizar e acompanhar os acontecimentos bastante eficaz.

Claro que há muita coisa que fica de fora. Esta história deixa de lado muitos países. A Espanha, tenho impressão, nem existe neste livro (sim, Portugal é citado, mas num papel tão anacrónico que nem vou falar disso - até porque não é inverosímil de todo), a França é um terreno onde se passa a história mas também pouco parece acontecer de relevante, a Itália, não me lembro… Mas a isso contraponho o detalhe com que a Rússia é caracterizada. Aprendi muitíssimo e, uma vez que tive a oportunidade de ir lendo a par com o livro de MacMillan tenho a impressão de que Follet não inventa demasiado, nem toma liberdades que não se possam aceitar. Fez opções, tinha que as fazer, e parecem-me bem feitas. Talvez haja algum excesso ao colocar Lenine ou Churchill a interagir com os personagens ficcionais, aí o livro não se aguenta, felizmente são breves momentos.

Para além da Grande Guerra, há outros temas que me chamaram a atenção: a revolução russa (sem esquecer um primeiro esboço logo em 1905); o contraste entre a nossa realidade atual e aquela de há apenas 100 anos - às vezes parece que estamos a ler sobre os tempos medievais, o que faz pensar no quanto evoluímos em termos de direitos, garantias e liberdades em tão pouco tempo; os EUA como terra de oportunidades - o contraste entre a Europa ainda cheia de “feudalismo” e a América como terra de liberdade e democracia; a luta pelos direitos das mulheres, nomeadamente a conquista do direito de voto.

E agora restam-me os próximos dois volumes.

 

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Atualização

24.05.10

Não é fácil manter um blog atualizado, especialmente em época de exames. Mas para o caso de alguém pensar que eu me retirei porque ando a ler o 2666, a verdade é que não. Ainda não cheguei a esse. Devo dizer, porém, que ando a ler uns contos de Bolaño, na língua original, que já me fizeram perceber o quanto ele é um grande escritor.

 

De resto, voltei a Thomas Mann, ao Morte em Veneza. Filme e livro. Do livro para o filme, eis o tema para um trabalho da faculdade. Talvez um dia ponha aqui um resumo da coisa.

 

Aproveito também para dizer  que li A Arte de Viajar de Alain Botton e recomendo vivamente, porque viajar não é necessariamente sol e praia. Aliás, é bom quando não é.

 

E, finalmente, a revelação. Comecei a ler Proust. Sim, exatamente, o Em busca do tempo perdido. Por isso, talvez só volte daqui a 7 volumes, ou daqui a 7 anos, o que acontecer primeiro.

 

 

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A partir de uma lenda hindu, Thomas Mann constrói uma novela que é, simultaneamente, uma história surreal, uma lição sobre a identidade, um mistério e um hino à verdade de cada um de nós.

 Não vou entrar em pormenores sobre o que aqui acontece. A história é, de facto extraordinária, com momentos que deixam o leitor perplexo e perturbado. Mas o que fica, creio, é o intenso debate sobre com que bases se constrói a identidade do eu. Será o dualismo alma/corpo tão radical que nos afaste de um sem o outro? Ou será que todos somos apenas uma unidade circunstancial que se pode esboroar facilmente, ficando, apenas, cada uma das partes, a subsistir por si própria?

 Como é vulgar na obra de Mann, as respostas nunca são óbvias. Todos os pontos de vista são explorados, todos os prismas são visíveis. No entanto, as conclusões ficam para quem as tira.

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