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Este post é uma espécie de continuação do que escrevi sobre o livro Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar. Ou melhor, foi escrito por causa dele. Apeteceu-me rever as fotos e recordações de uma viagem que fiz a Itália em 2010, na qual Adriano esteve sempre bem presente.

Aqui ficam as minhas Memórias de Adriano. E aqui fica o link para o post que originou este:

http://pedrices.blogs.sapo.pt/67093.html 

Começo pela Vila Adriana, em Tivoli, não muito longe de Roma, o local de refúgio do imperador. Aqui pode ver-se uma maquete:

A foto abaixo mostra um dos locais mais especiais e curiosos da Vila.No livro de Yourcenar, é descrito assim:

(...) tinha mandado construir para mim, no coração deste retiro, um asilo mais retirado ainda, uma ilhota de mármore no centro de um tanque rodeado de colunatas, um quarto secreto que uma ponte rotativa, tão leve que posso fazê-la girar nas suas ranhuras com uma só mão, liga à margem, ou antes, separa dela. 

E esta espécie de alameda simulava uma nascente do Nilo. Estar aqui e imaginar o que foi, é esmagador.


Este é Adriano, no Museu do Vaticano:

E Antinoo, no mesmo local:

E aqui no Museu Arqueológico de Nápoles:  

Dois edifícios emblemáticos de Roma foram projetados por Adriano. Não, não se limitou a mandar fazer, Adriano projetou realmente edifícios. Um deles é o Panteão de Roma, um dos mais antigos e bem conservados monumentos da Roma atual. Só tenho estas duas foto da fantástica cúpula vista de dentro e de um pouco do interior:

 

Mas aconselho uma pesquisa no Google imagens para uma melhor noção de como se desenvolve a cúpula e de como é extrordinário este “buraco” a céu aberto (sim, chove lá dentro!).

 

E o Mausoléu de Adriano, mais connhecido por Castelo Sant’Angelo, que é museu nacional e que já conserva pouco da memória do imperador.

 

 Voltando a Antinoo, deixo um poema:

 Antinoo

Sob o peso nocturno dos cabelos
Ou sob a lua divina do teu ombro
Procurei a ordem intacta do mundo
A palavra não ouvida

Longamente sob o fogo ou sob o vidro
Procurei no teu rosto
A revelação dos deuses que não sei

Porém passaste através de mim
Como passamos através da sombra

Sophia de Mello Breyner Andresen

Que, claro, deve ser lido a olhar para uma estátua de Antinoo. Mas o melhor é que Sophia escreveu um poema sobre uma estátua específica, o Antinoo que vi em Delfos na minha recente viagem à Grécia. Ficam aqui, estátua e poema:


ANTINOOS DE DELPHOS

Tua face taurina tua testa baixa
Teus cabelos em anel que sacudias como crina
Teu torso inchado de ar como uma vela
Teu queixo redondo tua boca pesada
Tua pesada beleza
Teu meio-dia nocturno
Tua herança, dos deuses que no Nilo afogaste
Tua unidade inteira com teu corpo
Num silêncio de sol obstinado
Agora são de pedra no museu de Delphos
Onde montanhas te rodeiam como incenso
Entre o austero Auriga e a arquitrave quebrada

Delphos, Maio de 1970
Sophia de Mello Breyner Andresen

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Porque

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia de Mello Breyner Andresen

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Poema de amor de António e Cleopatra

  

Pelas tuas mãos medi o mundo

E na balança pura dos teus ombros

Pesei o ouro do Sol e a palidez da Lua.

  

Sophia de Mello Breyner Andresen

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Terror de te amar

 

Terror de te amar num sítio tao frágil como o mundo

Mal de te amar neste lugar de imperfeiçao

Onde tudo nos quebra e emudece

Onde tudo nos mente e nos separa.

 

Sophia de Mello Breyner Andresen


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Mas a minha relação com o poema do post anterior não se fica por ali. Há dois anos, estava eu a passear pelo fascinante Museo del Prado, em Madrid, quando me deparo com um quadro que ilustra, precisamente, a meditação do poema da Sophia.

 

Não fazia ideia de que o quadro existia. E, no meio de tantos, acabou por ser uma sorte ter-me fixado naquele. A emoção foi forte mas, o melhor de tudo, foi sentir como o poema se aplica tão bem àquele quadro.

 

Conversión del duque de Gandía

Conversión del duque de Gandía, 1884, por José Moreno Carbonero

 

Fonte:http://www.artehistoria.jcyl.es/artesp/obras/11027.htm

 

 

 


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Nunca mais

A tua face será pura limpa e viva

Nem teu andar como onda fugitiva

Se poderá nos passos do tempo tecer.

E nunca mais darei ao tempo a minha vida.

 

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

A luz da tarde mostra-me os destroços

Do teu ser. Em breve a podridão

Beberá os teus olhos e os teus ossos

Tomando a tua mão na sua mão.

 

Nunca mais amarei quem não possa viver sempre,

Porque eu amei como se fossem eternos

A glória, a luz e o brilho do teu ser,

Amei-te em verdade e transparência

E nem sequer me resta a tua ausência,

És um rosto de nojo e negação

E eu fecho os olhos para não te ver.

 

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

 

Sophia de Mello Breyner Andresen

 

 

 

 

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Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim.

A tua beleza aumenta quando estamos sós

E tão fundo intimamente a tua voz

Segue o mais secreto bailar do meu sonho

Que momentos há em que eu suponho

Seres um milagre criado só para mim.

 

Sophia de Mello Breyner Andresen

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Sobre Poesia

20.02.12

Não sou muito dado à poesia. Não é que não goste, simplesmente não "pratico". Mas há poemas que valem bem por um livro inteiro.

 

Decidi há uns dias colocar na minha mesa-de-cabeceira (ainda é assim que se escreve? Esta é a parte mais difícil do acordo ortográfico…) um livro de poesia. A ideia é, ao mesmo tempo que leio os outros, tirar sempre uns minutos para ler um poema, apenas um. Mas lê-lo mais do que uma vez, saboreando-o.  Um dos problemas que encontro na minha relação com a poesia talvez seja esse, o da pressa de chegar a algum lado, a que estou habituado devido às outras coisas que leio.

 

Daí esta regra - um poema por dia. Ler várias vezes. Saborear.

 

Não tenho uma escolha alargada, a minha secção de poesia é assustadoramente pobre. Mas um que por lá anda, e que nunca li, é uma recolha de poemas da Sophia de Mello Breyner Andresen, de quem tenho as melhores recordações, no que à poesia diz respeito.

 

Posto isto, inaugura-se aqui, hoje, uma nova secção do Pedrices, chamada "Poema de ontem à noite". Serve para partilhar poemas que, nestas leituras noturnas me tenham impressionado particularmente.

 

A conferir no próximo post.

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Nunca mais
a tua face será pura limpa e viva,
nem teu andar como onda fugitiva
se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
do teu ser. Em breve a podridão
beberá os teus olhos e os teus ossos
tomando a tua mão na sua mão.

Nunca mais amarei quem não possa viver
sempre,
porque eu amei como se fossem eternos
a glória, a luz e o brilho do teu ser,
amei-te em verdade e transparência
e nem sequer me resta a tua ausência,
és um rosto de nojo e negação
e eu fecho os olhos para não te ver.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

 

 

Sophia de Mello Breyner Andresen

 

 

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