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E ao fim de tantos livros, cá está o único Paul Auster de que posso dizer "não gostei". Parece-me bem diferente de todos os outros, menos capaz de surpreender e com momentos de um embaraçoso mau gosto.

Desde o início do livro que sabemos que esta é a história de um menino que consegue voar. E este talvez seja um dos problemas, estamos sempre a lidar com algo impossível e que, ainda por cima, é declarado desde o início. Talvez pudesse surpreender, mas assim não. Por outro lado, há um desequilíbrio em relação ao narrador. A história é narrada na primeira pessoa quando o personagem é mais velho, mas está a contar o que aconteceu quando era novo. Talvez por isso, o tom é infantil na maior parte das vezes - especialmente nos diálogos, o que é natural - mas, ao mesmo tempo, sendo o narrador bem mais velho, isso parece desajustado.

Enfim, o pior de tudo é não ter achado piada nenhuma à história - aliás, achei simplesmente idiota. Não é que eu ignore o simbolismo e tal, mas está muito mal aplicado.

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Ainda me lembro de, há muitos anos, uma colega de trabalho me ter abordado, dizendo: "tenho lá um livro de que tu deves gostar, vou-te trazer". Surpreendido, disse-lhe que "sim, está bem" e assim começou a minha exploração do universo de Paul Auster. O livro que me iniciou foi a Trilogia de Nova York, um dos que mais intensamente me pedem, de vez em quando, uma releitura.

Já passei por muitos livros de Auster. Em muitos deles fiquei encantado e, noutros, fiquei apenas satisfeito por os ter lido. Há pouco tempo, há por aí um post sobre isso, tive mesmo a oportunidade de o ver e ouvir, em carne e osso.

Paul Auster não é um génio da literatura, não é uma referência incontornável da arte de escrever. É, no entanto, um dos melhores contadores de histórias que se pode ter o prazer de descobrir. Ler um livro de Auster é como ir abrindo aquelas bonecas russas, as matrioskas, há uma história dentro da história, depois outra dentro dessa, e ainda tantas outras, às vezes já não se sabendo qual está dentro de qual. Há também a mistura do real e concreto com uma certa magia.

(a partir daqui, o texto fala do livro Man in the Dark, podendo estragar o prazer da leitura)

Para este Man in the Dark, resolvi fazer algo diferente, ler o original, em inglês, para não haver intermediários entre mim e o autor. Já Cervantes dizia, no seu D. Quixote, que a tradução para outra língua faz perder algo do "perfume original". Ainda bem que o fiz. Há uma cadência na escrita de Paul Auster que só agora pude descobrir. E até me arrependo de ter comprado o Mr. Vertigo em português.

Imagine-se um velho, à noite, sem conseguir dormir. É ele August Brill. A sua vida não está repleta de recordações felizes, pelo contrário. Talvez a sua maior mágoa tenha sido a morte da esposa, relativamente recente. Para escapar a ter que pensar sobre a sua própria vida, nessa noite em que não consegue dormir, a qual corresponde a todo o tempo do livro, August dedica-se a inventar histórias. Desenvolve-as para não ter que pensar em mais nada. E em que história pensa ele nessa noite? Na de um homem que acorda dentro de um buraco, do qual, passado algum tempo, é retirado por um soldado. O homem não faz ideia de como ali foi parar, está num mundo paralelo, um mundo onde não houve o atentado do 11 de Setembro e no qual os EUA entraram em guerra civil. Para que tudo volte ao normal, ou seja, para que a guerra acabe, o homem vai ter que matar alguém. Esse alguém é August Brill, o autor da história. Conclusão: trata-se do suicício de August Brill. Se o espanto está instalado quando se chega aqui, ainda há mais para contar, é que este homem, que tem que matar Brill, o autor da hisitória, que vive no mundo real e não naquele mundo paralelo, acaba por considerar suicidar-se ele próprio. São assim as histórias de Paul Auster, maravilhosamente concêntricas e tão originalmente urdidas que nos passeamos perplexos e maravilhados nas suas construções. Nada melhor do que as próprias palavras do livro: "Books force you to give something back to them, to exercize your intelligence and imagination (…)". Felizmente, é o caso neste.

Mas a história do homem vai ter uma conclusão. E Brill, continuando sem dormir, vai ser forçado a recordar a sua própria vida, as suas histórias, e as daqueles que lhe são mais próximos. Numa noite, toda uma vida. Na escuridão, todos os medos.

Pelo meio de tudo isto, há ainda espaço para mais histórias paralelas, nomeadamente algumas análises a alguns filmes, momentos de extraordinária profundidade, lembrando que Auster é também um cineasta, mas fazendo lamentar que não seja tão bom a fazer filmes como é a escrever.

Há algumas piscadelas de olho aos leitores que o seguem, há brincadeiras do autor consigo próprio. Mas há também uma interpretação, subtilmente apresentada, que talvez se possa tirar daqui: a ficção vem sempre da realidade, tudo o que se inventa, se vai buscar ao que se viveu, ou se quer viver. É ver, como tudo o que acontece nas histórias de August Brill, tem uma origem na vida do próprio. Falta poder ouvir, também, à noite, na escuridão, Paul Auster contar-nos as suas histórias, ou será que foi, precisamente, isso que ele fez neste Man in the Dark?

 

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Parece que a rota dos grandes acontecimentos cinematográficos começou a incluir Portugal. Ainda bem. Até porque, neste caso, tendo o festival do Estoril a presença de tantos escritores (Coetzee, Paul Auster, Siri Hustvedt), algo de bom acaba por daí transbordar. Concretamente, Paul Auster, fez uma pequena incursão à FNAC de Cascais, no Domingo passado, para uma sessão de autógrafos e uma pequena conversa com os leitores.

 

Foi estranho chegar lá por volta das 15:30 e perceber que, ao contrário do que estava no jornal, a sessão começava às 15. Pior ainda, foi só ter começado quase às 16. Atrasos à parte, Paul Auster começou por explicar que só por volta do meio-dia tinha sabido daquele compromisso. Por isso não tinha nada preparado. Por isso também, disponibilizou-se para responder a questões, e o tempo não era muito porque tinha que voltar para o festival do Estoril em breve.

 

O seu último livro, Man in the Dark, está a poucos dias de sair em português. Foi interessante ver Paul Auster a responder a uma questão sobre esta obra. Quando lhe pediram para falar do livro, perguntou se havia ali alguém que já o tivesse lido. Havia apenas uma pessoa. Por isso mesmo, Paul Auster limitou-se a dizer duas ou três frases sobre o que ele é e nada mais. Porque não se fala de um livro que ninguém leu. Exemplar.

 

E pronto, tenho um autógrafo. Aproveitei para comprar o Mr Vertigo, dos poucos que ainda não li dele. Em breve, conto dar notícias, e também do Man in the Dark.

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