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Segundo post de comemoração dos 5 anos do pedrices.
Desta vez, decidi-me a publicar um texto que escrevi há 5 anos e que nunca publiquei. Porquê? Porque não cheguei a terminá-lo e porque, sinceramente, é um texto um bocado caótico. Mas, enfim, decidi-me a deixá-lo aqui, acho que também não faz mal a ninguém. Está como estava quando o "abandonei"...
Um Kafka à beira mar, de Murakami
Desta vez optei por um exercício diferente.
Estou a ler este livro e vou comentar ao longo dos dias o que me vai acontecendo dessa experiência.
O primeiro comentário, ao fim de 100 páginas, é de expectativa e encanto. Sim, estou encantado com o universo que estou a explorar mas, claro, ainda não percebi nada. Temos um miúdo de 15 anos que foge de casa e conhece uma rapariga no autocarro; depois conhece um rapaz na biblioteca que frequenta… Um dia “acorda” sem saber onde e… não sabe o que aconteceu mas tem sangue na roupa… Hum… Ok…
Depois há um velho que fala com gatos e que, pelos visto, foi protagonista de uma outra história – a do incidente da colina tigela de arroz. Ok…
E isto irá para onde? Estou louco por saber!
Mais umas 50 páginas e continuo aos papéis, expressão particularmente adequada, tratando-se de um livro…
Bom… vamos ver, há aqui uns “mistérios”, ou umas linhas de investigação. Tentando perceber:
- o personagem aparentemente principal, que dá pelo nome de Kafka, embora seja mentira, tem 2 mistérios para resolver:
- quem é a irmã que a mãe levou consigo quando abandonou a família há muitos anos. Claro que isto leva a outras questões, tipo: porque é que a mãe o abandonou a ele, levando apenas a irmã que, ainda por cima era adoptada e ele é filho legítimo. Interessante é que Kafka não consegue evitar pensar, de todas as raparigas que conhece, “será que é esta a minha irmã… poderia ser?
- o que é que lhe aconteceu quando, um dia, depois de jantar, deu por si a acordar cheio de sangue na roupa num sítio qualquer, sem se lembrar de nada do que o levou ali.
Há ainda outro mistério relacionado com Kafka: quem ou o que é o rapaz chamado Corvo que, volta e meia, aparece, aparentemente, a falar com Kafka…
Depois há o mistério da Colina Tigela de Arroz. Ainda estamos para saber que raio lá aconteceu que levou uma data de miúdos a ficarem, aparentemente, inconscientes. Pelo menos já sabemos que muito ficou por contar… A professora lá escreveu uma carta com umas certas confissões…
Mas da colina sabemos que resultou um outro personagem: Nakata. Este, anda também nos seus mistérios, sabe falar com gatos e anda a tentar descobrir uma gata que desapareceu.
Fico perplexo só de ler o que acabei de escrever. Mas mais que perplexo, deliciado!
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Bom… Vamos ver… Então, agora o Kafka está numa casa perdida no meio de nada. O amigo dele da biblioteca, deixou-o lá para passar uns dias enquanto vai ver se lhe arranja emprego na biblioteca.
Quanto ao Nakata que andava à procura da gata… Bom, digamos que lhe apareceu um cão que o convidou a ir com ele (o Nakata só sabe falar com gatos mas conseguiu compreender este cão e ficou muito surpreendido com isso). O cão levou-o até um homem que sabe onde está a gata… Quem é o homem? É o Johnny Walker, sim! O do Whiskey, ou, pelo menos, ele acha que é. Mas eu ainda não sei que ontem o sono não me deixou ler mais que dois capítulos (um sobre o Nakata e outro sobre o Kafka).
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Ora bem, o homem do whiskey faz colecção de cabeças de gatos para construir uma flauta… com as almas deles. E quer que o Nakata o mate, se não, não lhe dá a gata que ele anda à procura… E começa a matar gatos À frente dele até o Nakata se passar e acabar por o matar mesmo. Isto do matar gatos implica abri-los ainda vivos, retirar-lhes o coração e comê-lo, com ele ainda a bater. Diz que é uma delícia… !!!
Quanto ao Kafka, o amigo foi buscá-lo à cabana… Meu Deus… Onde é que isto vai parar??
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E pronto… Lá se foi a ideia do diário... Porquê? Porque entrei naquela fase que até temia mas não consegui evitar. Sabem quando estão a lavar os dentes com um livro na mão? Quando estão a cozinhar e aproveitam, enquanto a massa coze, para espreitar mais umas linhas do livro?
Exacto… Murakami apanhou-me, tão bem apanhado como o jovem Kafka foi pelo destino, como o velho Nakata também o foi.
Com isto, claro que não houve tempo para diário. E o pior é que aconteceu tanta coisa no livro que eu nunca me hei-de lembrar de tudo. Por outro lado, só há mesmo uma forma de contar o que se lá passa, é escrever o livro, coisa que o Murakami fez…
Vou tentar, talvez, ir fazendo alguns comentários sobre “episódios” da história.
Comecemos por Oshima, o rapaz que trabalha na biblioteca onde Kafka há-de vir a viver durante uns tempo.
Oshima não é um homem mas sim uma mulher, ou melhor, é uma mulher que é gay. Ou melhor, é uma mulher que é homossexual masculino, ou… Vamos tentar de novo: estão a ver uma mulher? É isso que Oshima é. Só que com duas particularidades, o peito não se desenvolveu e não é menstruada. Ainda assim podemos encaixá-la na categoria de mulher. Ainda por cima, Oshima gosta de homens, como a maioria das mulheres. O que é curioso aqui é que Oshima se sente um homem, veste-se como tal e vive como tal. Ou seja, é do sexo feminino mas do género masculino. Como vive como homem que gosta de homens, é gay. Percebido? Ainda assim, eu resumo – Oshima é uma mulher paneleiro (em português não posso dizer homossexual porque isso tanto dá para homens como para mulheres; não posso dizer gay porque também se pode considerar que engloba lésbicas; portanto, só posso dizer paneleiro, isso é coisa que só um homem pode ser, passo a ironia).
Infelizmente, Oshima participa em muito e tem um papel bastante activo na história mas nunca chegamos a saber grande coisa sobre ele. Tem um parceiro, tem sexo (nunca experimentou sexo vaginal. Obviamente, como qualquer paneleiro, faz sexo anal), tem um irmão, um emprego, uma doença que o faz não poder pegar em facas por causa do risco de se cortar e o sangue não estancar. Sinceramente, só Oshima dava outro livro. Imagine-se, por exemplo, o que é ser gay e conhecer Oshima e, enfim, ir com ele… Chega-se à cama e… bom, há rabo para fazer o que se faz com outros mas… não há pila para ser feito o que outros fazem. Desta perspectiva Oshima é só meio homem. Se calhar, um homem não gay até podia gostar. Mas aí faltam as mamas para apalpar, falta o ar feminino, não falta rabo, é certo, e isso nem todas as mulheres dão. Estranho… muito estranho… Ainda mais estranho porque não parece haver, da parte de Oshima, qualquer vontade de fazer uma operação de mudança de sexo, o caminho que pareceria mais normal.
Uma coisa que me intriga: porque é que insistem com Nakata que não houve guerra entre o Japão e os EUa. Será que essas pessoas é que não são reais??
Nota prévia: estou assumidamente a ignorar a edição portuguesa (que foi a que li) e o título que lhe foi dado. O próprio Murakami explica no livro que o título do livro - What I Talk About When I Talk About Running é uma homenagem/citação a Raymond Carver e à sua obra What We Talk About When We Talk About Love. A edição portuguesa resolveu ir por outro caminho.
Raramente leio dois livros do mesmo autor em pouco tempo. A não ser que sejam continuação uns dos outros. No entanto, pouco depois de ter acabado a trilogia 1Q84, já estava a ler este De Que Falo Quando Falo de Correr. E a razão disso é que comecei a correr há pouco tempo e andava à procura de um livro que fosse interessante sobre o assunto.
Gostei mesmo muito de ler esta espécie de diário. Murakami fala sobre correr, conta como foi correr a maratona de Atenas até… Maratona (sim, a original, ele fez a corrida!), fala sobre escrever e como o faz, fala sobre a sua vida no geral. É um relato intimista e interessantíssimo. Parece-me que este livro pode ter dois públicos (e pode-se fazer parte dos dois): quem gosta de correr e quem gosta de Murakami.
Uma surpresa muito agradável, ler um Murakami sério, num registo do dia-a-dia.
Isto é difícil de explicar… Eu gostei muito de ter lido este 1Q84 mas não gostei nada que ele fosse como é, refiro-me ao facto de serem 3 livros. Creio que um só, um pouco maior, podia conter tudo o que está nestes 3.
Quando acabei o primeiro, escrevi isto:
http://pedrices.blogs.sapo.pt/37872.html
Quando acabei o segundo, não tinha nada de novo para dizer, e ficou isto:
http://pedrices.blogs.sapo.pt/39408.html
E agora, é mais ou menos a mesma coisa. Digo exatamente o mesmo. Mas acrescento que este terceiro livro passa grande parte do tempo a resumir/justificar os outros 2. O que se torna um bocado irritante.
Continuo sempre com o mesmo problema: depois do Kafka à Beira Mar, todos me parecem muito inferiores. Mas para quem nunca o leu, provavelmente este será fantástico.
Não percebo muito bem esta ideia de "livro 2". É a continuação pura e dura do livro 1. Claro que a ação se torna mais intensa, que os elementos surreais se vão afirmando como protagonistas, que alguns dos mistérios se começam a esclarecer, enquanto que outros se intensificam.
Mas repito: não percebo porquê a divisão em livros diferentes (será que vou perceber mais tarde?). Por isso, em rigor, não faz muito sentido novo post. Para já, o que tinha dito no primeiro, aplica-se. Agora uma pausa para outras leituras e depois pego no 3.
Acho que nunca me tinha acontecido nada assim. Em dois dos livros que estou a ler há uma espécie de citação comum.
Murakami, no 1Q84, fala sobre Chékov e, em particular, sobre a sua célebre afirmação de que se uma pistola surge na história, então ela tem que ser disparada.
No outro livro, Middlesex de Jeffrey Eugenides, a mesma referência à história da pistola.
Ainda não acabei nem um nem outro. Portanto, não sei se vão obedecer à regra, ou se alguma destas pistolas vai ficar sem disparar. Até agora, tanto uma como a outra resistem…
Acabei agora o Livro 1 deste 1Q84. Não consigo parar, ao contrário do que tinha planeado. Por isso, vou continuar para o Livro 2 e, quem sabe, despacho também o 3 logo a seguir. Para já, as impressões da leitura do primeiro volume.
O que eu gostei mesmo nesta leitura foi do envolvimento. Ou seja, eu estou a ler aquilo e parece que nada mais se passa, sinto-me realmente transportado para aquele universo. Acho que há uma dimensão atmosférica que Murakami coloca nos seus livros que os faz serem especiais.
Durante muitas páginas esta é uma história "normal". Ou melhor, são duas. O livro vai-nos apresentando dois personagens. Um capítulo para Aomame, outro para Tengo, e assim sucessivamente, durante todo o livro. Com isto, chegamos a um conhecimento bem detalhado de ambos. De certa forma, este primeiro livro parece servir para isso - apresentar Aomame e Tengo.
Apesar de um ou outro indício de que nem tudo será normal, só mais tarde é que elementos do fantástico entram em força na história. E, sinceramente, apesar de já os esperar, até preferia que não tivessem aparecido. Estava a gostar tanto destes Aomame e Tengo como pessoas normais, até podiam ser as histórias de qualquer um de nós. Bom, talvez possam na mesma, logo se verá o que é que acontece. Ou não, num livro de Murakami nunca se sabe se vamos ter respostas.
E agora, deixem-me ir ler o Livro 2, volto mais tarde!
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