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 Há lugares que têm uma personalidade muito própria. A Grécia é um deles, mas também é um daqueles onde muito do autêntico se rendeu ao “mainstream”. Embora continue a achar que fazer o óbvio é indispensável e altamente compensador, nunca deixei de procurar uma parcela de viagem que se afaste daquilo que está absolutamente “turistificado”. Viajar pelo Peloponeso já foi um pouco essa experiência: a região é visitada por hordas de turistas mas que lá vão em excursões que ficam uma noite ou voltam para Atenas no próprio dia. Andar por lá durante duas semanas não será um percurso típico, mas tem interesse passar por todos esses lugares das excursões. Minimiza-se viajando em adiantado setembro e tenta-se fintar os grupos andando mais depressa ou devagar.

Isto tudo serve para dizer que, de vez em quando, a viagem nos oferece aquilo que pedíamos sem que desconfiássemos. O Mani, que eu já vou explicar o que é, deu a esta viagem uma ponta de isolamento, de desconforto, até. Mas o Mani tornou-se um dos locais da Grécia onde mais me congratulo por já ter estado.

Curiosamente, o Mani começou, pelo nosso itinerário, com uma visita a Kalamata, um dos sítios mais desinteressantes de toda a viagem  e foi-se constituindo como uma excelente introdução ao que viria depois, a muito desejada Esparta, uma cidade que é um vómito, é certo, mas onde não poderia deixar de passar.

O Mani é uma espécie de península no Peloponeso, ou um dos “dedos” na parte sul. A configuração peninsular, e provavelmente a proximidade com Esparta, foram dando à região uma fama de ser terra de gente fechada, com uma natureza mais belicosa e muito pouco dada a regras (nesse particular, não vejo diferença com o resto dos gregos). Se tudo isto é subjetivo, e se as “organizações” de estilo mais tribal que por ali parcem ter proliferado já não são algo que possamos ver hoje em dia, há um elemento muito curioso na arquitetura. As casas são construídas em forma de torres, como se se tratassem de pequenos castelos. Claro que parte daquilo já é uma construção forçada mas, não obstante, ter como caracterísitica de uma região que as cassas sejam como castelos deixa pistas interessantes sobre o como ela é, ou melhor, como deve ter sido.

 

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 Claro que não é de espantar que agora sejam os hóteis que também são construídos como se fossem torres. Fiquei num desses, embora não tivesse percebido nada disso quando o reservei. Foi então que a viagem se encarregou de me compensar, e simultaneamente castigar, por ter resolvido ir ao Mani. No hotel, que era mais uma espécie de quinta com várias torres e cada delas tinha dois apartamentos para os hóspedes, um em cima e outro em baixo, não havia mais ninguém. Na verdade, nem sequer a pessoa que nos recebeu lá ficou. Portanto, de repente, estávamos sós num apartamento numa quinta enorme com um portão aberto, no meio de uma estrada onde não havia mais nada que se vislumbrasse, nem para trás, nem para a frente. A última terra “civilizada” por onde tínhamos passado fora já há uns bons quilómetros e, como era preciso comer, resolvemos sair e ir em frente, talvez fosse mais fácil encontrar qualquer coisa. Não foi fácil, mas encontrámos, sim, em mais um local onde ninguém falava uma palavra de inglês (felizmente o menu estava escrito em inglês), numa espécie de casa particular com café/esplanada/restaurante em baixo. Bom, lá comemos e voltámos, pelo meio do nada, para a nossa quinta sem ninguém. Por um lado, adorei a sensação de isolamento mas, por outro, havia qualquer coisa de inquietante naquela calma solitária. Claro que tudo correu bem e, de manhã, lá estava a senhora a bater-nos à porta com o pequeno-almoço.

Nesse dia, era altura de ir ver aquilo que, no fundo, era a razão de ali estarmos, de o Mani ter valido uma paragem de uma noite no itinerário: as grutas de Diros. 

As grutas de Diros são uma experiência especial. Primeiro pela razão óbvia, fazem-se de barco, o que é, de facto, inesperado, pelo menos naquilo que eu sempre pude ver de grutas. Cumpro escrupulosamente as regras sobre a proibição de fotografar nos locais, desta vez, só desta vez, fi-lo apesar de ser proibido. Porque estar aqui a descrever a sensação de andar de barco numa gruta e ter que baixar a cabça constantemente para não bater no teto, não poderia ser a mesma coisa.

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Deixando as grutas foi hora de rumar para o outro lado da península do Mani, com Gythio como destino. Esta é uma terra encantadora, sem nada de especial mas com excelente comida e muita praia ali por perto para dar uns mergulhos ao fim do dia. Ficará para a história uma sopa de peixe que não resisiti a provar. Comer sopa na Grécia (e noutro páises da Europa, diga-se) não é propriamente um hábito barato, mas tenho comido uma sopa de peixe em cada viagem/ano e esta foi uma das experiências gastronómicas mais estranhas que já tive. Estão a ver a nossa sopa de peixe? Aquela com imenso tomate e que sabe imenso precisamente a tomate? Então agora imaginem isso mas em versão limão. A sopa de peixe sabia incrivelmente a limão e, ainda hoje, não sei se gostei ou não, mas adorei experimentar e era capaz de o fazer de novo.

Deixar o Mani para trás custou. A sensação de que estivemos completamente fora dos circuitos turísticos foi impressionante e muito bem-vinda. Mas havia mais.

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 Quanto mais leio sobre Esparta mais fascinado fico. Não é só de um ponto de vista positivo, é certo, porque quanto mais se explora Esparta mais se percebe o muito que eles tinham de horrível. Não obstante, a cidade era um dos sítios que eu estava mais curioso para ver, mesmo que todos os guias e sites me avisassem de que nada lá haveria que valesse a pena. O pior é que é verdade. As ruínas da antiga Esparta são mínimas, difíceis de interpretar e, basicamente, sem interesse nenhum. Vale o sítio, estar lá, perceber que foi ali. Mas há um problema, é que a nova Esparta está ali mesmo à frente e é tão profundamente desagradável que incomoda. A cidade moderna é bastante recente. Depois de ter sido completamente abandonada, foi depois da guerra da independência que a Grécia refundou Esparta, uma tentativa de reerguer o passado numa espécie de delírio nacionalista, bastante compreensível, até, depois de centenas de anos de domínio otomano. O problema foi que, apesar do planeamento até parecer ter sido rigoroso: planta ortogonal pura e exemplar, a cidade é repulsiva. Desde o ambiente às pessoas há muito pouco que se leva de positivo.

Ponto alto: ver a estátua do rei Leónidas que, ainda por cima, também desilude pelo tamanho e, claro, não é propriamente uma obra-prima.

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 Já o Museu arqueológico vale bastante a pena:

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Convém agora explicar, em minha defesa, que eu não arrisquei assim tanto indo a Esparta. É que, ali mesmo ao lado, há um lugar imperdível e aposto que 99% de quem passa por aqueles lados é para ir a Mystras.

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Trata-se de um conjunto  notável de edifícios bizantinos: igrejas, bibliotecas, castelos e palácios numa magnífica localização. Podia-se passar lá mais de um dia, parecendo que nunca mais acaba.

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 Finalmente, a terminar a exploração do sul do Peloponeso, uma última pérola: Monemvasia. Foi um enorme desvio no itinerário que hesitei muito em fazer, mas teimei em lá ir e foi dos sítios mais encantadores. No fundo, trata-se de um rochedo, algo muito como Gibraltar. Mas de terra só se vê mesmo a rocha, quase não se adivinha que ainda há mais:

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Para mostrar, tive que tirar fotografias a postais. Assim, acho que já se percebe que do outro lado da rocha há uma vila.

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Magnícamente emoldurada pelo mar e pela sensação de que estamos num local tão isolado como especial.

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