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Depois de, em 2013, ter tido uma das experiências mais singulares da minha vida, em Creta, ao descer o desfiladeiro de Samaria, sobre o qual falei aqui, fiquei muito mais atento a tudo o que sejam percursos pedestres neste tipo de sítios. E se Samaria é o maior desfiladeiro da Europa, a verdade é que este, Voraikos, sendo bem mais pequeno, não lhe fica nada atrás enquanto experiência singular. É que aqui não é bem andar só a pé, é andar a pé pela linha do comboio, uma espécie de perigo controlado que deu a esta aventura um gosto muito especial.

Mas vamos então ver de que é que estou a falar.

Mapa Diakopto.jpg

Diakopto fica na costa do Canal de Corinto e é uma pequena vila que, não tendo motivos de interesse por aí além, não deixa de nos dar um gostinho especial da Grécia. Há bastante turismo, até porque é um dos locais que servem de base à exploração do desfiladeiro mas, ao mesmo tempo, foi o primeiro local onde senti que havia mais gregos do que estrangeiros. Nunca saberei se foi verdade ou não mas pareceu, e muito. Desde logo, foi a primeira vez que senti dificuldade em encontrar quem falasse inglês, até no hotel foi complicado comunicar. Especialmente no momento em que foi preciso explicar que se tinham enganado na conta e me tinham dado a do quarto errado. Também é preciso dizer que fiquei bastante contente por pôr em prática os meus mais que rudimentares conhecimentos de grego que acabaram por ser preciosos.

Já agora, e porque realmente este foi o princípio de um mergulho na Grécia profunda, foi também aqui que, pela primeira vez, ao aproximar-me de um restaurante fui saudado e encaminhado para a cozinha. Em vez de listas, é possível ir mesmo lá dentro, onde os cozinheiros nos mostram os pratos e nos explicam o que eles são. Acreditem que este jantar em Diakofto só serviu para aumentar a minha paixão pela comida grega.

Passando agora à experiência do desfiladeiro, tudo começou assim:

Comboio de Diakofto

Apanha-se o comboio que nos leva até Kalavrita, num percurso de pura beleza. De vez em quando, teme-se um bocado pela vida, confesso, mas isso até deu um gostinho especial à viagem. Muitos túneis, pontes e precipícios depois, lá se chega a Kalavryta, uma aldeia com um passado terrível e que, por isso mesmo, não pode ser tratado num post deste tipo. Aqui vou só falar do passeio e, no próximo, darei conta do massacre que os nazis aqui fizeram.

Voltando ao comboio, deixo-vos com a possibilidade de verem um pouco do que é a viagem:

 E mais algumas fotos: 

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Esta linha foi construída em 1885-95 mas foi alvo de melhorias nos anos de 1960 e, desde 2005, reabriu para ser mais um passeio turístico. Isso não quer dizer que não haja quem a utilize para se movimentar entre Diakofto, Zachorou (a paragem da foto abaixo, mais ou menos a meio do percurso, e que serve de ponto de partida para visitar o mosteiro de Mega Spileon, ao qual não fui) e Kalavryta.

A viagem de uma ponta à outra demora cerca de 1 hora, percorrendo-se cerca de 22 Kms. O motorista do comboio acaba por ser um ponto de interesse, visto que passa o tempo a destacar o que há para ver, convidando pessoas para se sentarem ao lado deles, e tocando-lhes abundantemente (tive a impressão que o fazia com mais convicção quando eram mulheres). Isto sem dizer uma única palavra em inglês... Para conseguir subir e descer o comboio utiliza uma espécie de gancho, tornando a viagem bem lenta, e bem mais interessante.

DSC_0516

Depois de chegar a Kalavryta e ter visitado a cidade, o melhor estava para vir: tratava-se de apanhar novamente o comboio mas, desta vez, sair na tal paragem do meio e continuar a pé o resto do percurso. E por onde? Precisamente pela linha do comboio.

Foi deixá-lo ir embora: 

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 E meter pés ao caminho.

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 Algumas vezes duvidei de que fosse mesmo por ali.

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 Mas a verdade é que não havia outra hipótese.

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 Este percurso era, aliás, bastante utilizado por pessoas a pé. até havia portas para fechar o túnel.

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 Mas o pior foi quando tive que fazer a escolha: Ou ia pela luz, à direita e tinha que passar a ponte meio desfeita

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Ou ia pelo túnel escuro que eu me lembrava de não ser lá muito grande mas... não se via nada, mesmo nada, e a ideia de que o comboio poderia surgir a qualquer momento, não ajudava.

Fui pela ponte... Depois de ter andado às voltas e ter considerado mesmo voltar para trás, lá me aventurei. Posso dizer que nunca tive tanto medo. Pior, pelos vistos, depois de andar a ver na net e no youtube, toda a gente vai pelo túnel sem grandes preocupações, usando o telemóvel como lanterna. Bom, na altura nada pareceu boa ideia. Se tivesse que repetir, não faço ideia do que é que faria desta vez.

Foram cerca de 15 kms a pé, mais de 4 horas a andar (demora mais do que Samaria, o que é impressionante). Só me cruzei com outras pessoas uma vez ao longo de todo esse tempo. Para além do comboio, claro. Já agora, aquela história de tocar na linha para sentir a vibração e saber quando vem o comboio... Não, não funciona. Sabia a que horas ele sairia de Diakofto e, portanto, fui calculando quando é que ele deveria estar perto. Mas mesmo sabendo que ainda faltava uma hora para ele sair da estação não era possível andar tranquilamente. Só depois de ele passar é que voltei a poder respirar normalmente. É que houve alturas no percurso em que se andava um bom bocado sem ter berma onde se pudesse parar para ele passar.

Bom, é preciso também referir que o comboio anda tão devagar que dificilmente atropelaria alguém. Para além disso, o motorista sabe bem que há sempre quem ande a fazer aquele caminho a pé, e até se farta de apitar. Ainda assim, uma certa sensação de perigo esteve sempre presente. Não bastando isso, ainda havia outro perigo, aqui e ali, víamos pedregulhos que tinham caído das encostas. Não imaginava que isto ia ser algo que ia encontrar em todo o lado. Há várias estradas no Peloponeso que estão cheias de sinais de derrocadas. Em alguns locais chega a ser necessário andar um bocado em sentido contrário para se conseguir passar. Assustador.

Mas voltando ao passeio, terminou em Diakofto e, tal como em Creta, as horas de caminhada acabaram com nos braços de Poseidon que tinha sempre a água bem temperada para o mergulho do final de dia.

 

 

 

 

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