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Ler estes contos de Flannery O’Connor, lembra-me as fotografias de Diane Arbus. Há um ângulo diferente, uma bizarria de comportamentos, um inesperado grotesco em todos eles. No entanto, ressalta uma inquietante veracidade.
O’Connor não é uma escritora de histórias bonitas ou de cenários idílicos, é uma observadora da natureza humana, tal como ela é, ou tal como ela pode ser, muitas vezes.
Desta colecção de dez contos, destacaria:
Um bom homem é difícil de encontrar: este é o primeiro conto e, na sua estranheza, acaba por ser uma introdução divertida, que não prepara o leitor para o que vem a seguir. A profundidade das consequências daquilo que acontece nestes contos, não se fica pela apresentação da acção, entranha-se de forma insistente naquilo que ficamos a pensar.
O Preto artificial é, na minha opinião, um dos momentos mais conseguidos deste livro. Onde os temas vão desde o racismo às relações entre novos e velhos, passando pela oposição cidade/campo, coragem/cobardia, tradição/modernidade. O final é desconcertante, como em quase todos os contos, se bem que o efeito nem sempre é bem conseguido.
Um Cículo de Fogo, é um conto perturbador. As acções dos personagens levam a uma sensação inquietante, mesmo sendo perfeitamente previsível. Trata-se aqui da mesma atmosfera de, por exemplo, Funny Games, o filme de Michael Haneke.
A Gente Sã do Campo, consegue ser o mais representativo da escrita de O’Connor. Ao bizarro da situação junta-se a angústia das consequências. A sabedoria e a arrogância são vencidas pela maldade e pela esperteza. De bom, fica apenas a sensação de o ter lido.
A ideia de que O’Connor seja uma das maiores escritoras americanas do Séc. XX, como muitos defendem, parece-me que fica ainda por confirmar. Os contos são realmente bons, as comparações e descrições são estonteantes e obrigam a parar a leitura, como se levássemos murros no estômago. Mas fica-me alguma sensação de que precisava, aqui e ali, de um pouco mais para compreender a essência de alguns comportamentos.
Uma autora a acompanhar, especialmente porque fiquei curioso com os seus dois romances, já editados em português.
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