Isto das férias e de ter mais tempo para ler faz com que seja impossível ter o blog actualizado. Já nem vou tentar… Para além de um texto sobre Kadaré, ainda por escrever, os outros vão ficar aqui, não por serem livros menores mas porque obrigariam a um comentário muito mais elaborado do que aqueles que por aqui tenho deixado. A verdade é que nem costumo pôr aqui as minhas impressões sobre livros que não sejam do tipo romance. No entanto, creio que vale a pena destacar alguns dos que li neste período.
Em primeiro lugar, O Mundo Pós-Americano, de Fareed Zakaria. Trata-se da apresentação de uma tese na qual estamos a chegar ao mundo multipolar, a grande realidade das próximas décadas será a ascensão de países como a índia e a China. Nesta análise, Zakaria (autor do igualmente interessante O Futuro da Liberdade) faz uma análise tão lúcida sobre aspectos que por aí se vão comentando sem rigor e isenção que, creio, este devia ser um livro obrigatório para quem gosta de frases do tipo “não gosto de americanos”. É que perceber minimamente o mundo na sua multiplicidade, e em particular as relações internacionais, não se coaduna com típicos comentários de treinador de bancada. Zakaria tem uma tese perfeitamente refutável um muitos pontos, limitada noutros, brilhante aqui e ali. Porém, o que ressalta é a seriedade do estudo e das conclusões. E isso já é muito mais do que se consegue ler por aí sobre estes temas.
George Steiner é um pensador extraordinário. Para além do seu saber enciclopédico é um escritor vivo e sedutor. Por isso, ler Os Livros Que Não Escrevi, é um prazer. Porque nos permite privar com a forma como Steiner pensa (parece pensar connosco) e, neste caso, conhecer os temas que lhe interessam e sobre os quais gostaria de ter escrito. Para além disso, o alcance e ecletismo do seu pensamento surpreendem e, ainda mais, porque é difícil que alguém encontre interesse em todos estes ensaios (de tão diferentes que são) mas não é difícil que em todos eles se encontre o prazer de uma deliciosa leitura.
Gostava também de aproveitar para destacar um pequeno livro que li há algum tempo: História da Filosofia, de Rafael Gambra. Não se trata de uma obra de grande fôlego, destinada a tornar-nos mestres na matéria. Mas é uma excelente síntese, útil a quem queira conhecer as bases ou a quem queira relembrar um ou outro aspecto da evolução filosófica. Gambra aborda as grandes correntes da filosofia e os grandes pensadores de uma forma sedutora e esclarecedora. É capaz de ser um livro para estudantes do secundário, é certo, mas que pena eu não o ter lido na altura, tudo teria sido tão mais fácil. E talvez já o tivesse relido mais vezes…
Por último, a poesia, género que não frequento e com o qual não simpatizo particularmente. Por um lado, porque me sinto preso à língua (a tradução, na poesia, é ainda mais problemática que na prosa e, num certo sentido, muito mais infiel) e raramente a leio se não souber lê-la na sua língua original. Por outro, pelo facto de a prosa me parecer capaz de fazer tudo o que a poesia faz, sem que o contrário se verifique. Passando ao que interessa, li Na Terra e no Inferno, de Thomas Bernhard. E não, não sei alemão, li a tradução. Confesso que alguns dos poemas me pareceram impressionantes. Todavia, este é um primeiro livro de Bernhard em que ele parece querer experimentar um pouco de tudo, dar a sua própria voz a vários dos modelos típicos da poesia. E a voz de Bernhard acrescenta valor, embora de forma desigual. É certo que deixou de escrever poesia porque apenas a prosa lhe permitia dizer aquilo que queria. E eu acho que ainda bem. Ainda bem que ficaram estes poemas, ou alguns deles, porque são uma grande experiência; ainda bem que procurou a sua expressão na prosa, porque o imenso poder da sua escrita pôde assim encontrar o seu melhor caminho.
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