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Nada fácil ler este livro que nos confronta com as nossas incapacidades, ou melhor, as nossas características em termos de raciocínio. Kahnem tem estudado a forma como raciocinamos e desenvolvido um intenso trabalho sobre o assunto. O seu ângulo de análise é a psicologia mas com aplicação no campo económico (ganhou o prémio Nobel pelo seu contributo para a economia comportamental). Por isso, consegue demonstrar as nossas falhas de raciocínio através de grandes exemplos, estudos, comparações, etc. Como o próprio confessa, não se fica menos imune aos “vícios” do nosso cérebro, mas pode-se ficar mais atento a eles.

Um dos aspetos mais interessantes é a forma convincente como Kahneman desmonta a tese (uma das bases de muitas teorias económicas) de que somos sempre racionais. É claro que há muitos economistas que já o fizeram. No entanto, a abordagem de Kahneman é a de um psicólogo que investiga a questão a fundo e com estudos sérios. Não é apenas argumentação. O que se passa é que estamos constantemente a pensar de forma errada. Isto não só é normal como é inevitável, tem a ver com a forma como o nosso cérebro funciona. Os exemplos de Kahneman explicam bem melhor do que eu... Mas vou tentar: imaginem que “Laura”, quando tinha 18 anos era uma feminista radical e passava grande parte do tempo a ler livros. Quando Laura chega aos 30 anos, o que é mais provável, que ela seja caixa de supermercado ou que trabalhe numa livraria? É claro que o mais provável é que ela seja caixa de supermercado - há muito mais gente a trabalhar nisso do que em livrarias. No entanto, a maior parte das pessoas dirá que ela trabalha numa livraria, ignorando o raciocínio estatístico, por assim dizer (atenção: esta é uma simplificação grosseira de um dos exemplos do livro - e posso estar a pensar mal…). Talvez seja mais fácil de perceber o exemplo do regresso à média. Muita gente espera que um jogador excecional (vamos para o futebol para ser mais “familiar”) numa dada época também o seja na seguinte. Mas o normal é que quem se destaca num dado momento “regresse” a valores mais próximos da média. Isto é particularmente interessante na educação. Quem acha que o castigo dá bons resultados e a recompensa nem por isso, devia ler o capítulo em que Kahneman explicou aos militares como isso não é assim.

Enfim, este livro não é fácil porque exige disponibilidade e, até, alguma entrega (em mais de 600 páginas). Há que seguir com detalhe alguns raciocínios do autor, estar disponível para fazer os testes que ele nos vai pedindo, acompanhar com rigor as instruções. A recompensa é aceder a um tipo de consciência que normalmente não acedemos porque fazemos análises mais simples e rápidas. Isso torna a leitura altamente envolvente. Porém, também há partes do livro que são profundamente entediantes. Mas a verdade é que não tem que ser lido de uma ponta à outra para se tirar dele valiosíssimas noções para o quotidiano.

 

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