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Já há muito tempo, escrevi eu aqui no pedrices que andava a ler uns contos de Bolaño em espanhol, e que dava para perceber que ele era um grande escritor. Os contos eram realmente viciantes e diferentes do habitual.
Agora estou a olhar para este Os Detetives Selvagens, um livro de 500 páginas que se fosse um livro de contos, e em grande medida até o é, eu provavelmente consideraria excelente, e não consigo evitar esta sensação de que estive a assistir a um enorme exagero.
Bolaño é um grande escritor. E isto é pura literatura, de grande nível. Certo. Mas Bolaño devia também ser o primeiro admirador de si próprio. Posso estar a ser injusto, claro, mas é a sensação que me dá. Escreve tanto, tanto, que enjoa. As ideias repetem-se, os tiques estilísticos são muitas vezes os mesmos, a história tem um rumo tão desordenado que parece pretender ser um puzzle só porque o efeito de ser um puzzle é giro e provoca sensação.
Mas claro que no meio disto se percebe que há ali uma escrita assombrosa. O livro é quase todo constituído por fragmentos (e nem sequer acho interessante a tarefa de tentar dar-lhes sentido) e, por isso, pode ser lido como se leem contos. Aí sim, há grandes histórias e o livro chega a ser brilhante.
Mas 500 páginas disto é claramente chover no molhado. Ao princípio, enquanto esta sensação não se instala, especialmente na primeira parte do livro, que tem uma estrutura de diário, a leitura é altamente viciante e agradável, pena é que dure apenas cento e tal páginas e depois comecem os fragmentos, quase até ao fim, altura em que é retomado o diário. Tarde demais, o enjoo já se instalou.
Grande livro, sim senhor, grande escritor, sim senhor. Mas menos…
Não é fácil manter um blog atualizado, especialmente em época de exames. Mas para o caso de alguém pensar que eu me retirei porque ando a ler o 2666, a verdade é que não. Ainda não cheguei a esse. Devo dizer, porém, que ando a ler uns contos de Bolaño, na língua original, que já me fizeram perceber o quanto ele é um grande escritor.
De resto, voltei a Thomas Mann, ao Morte em Veneza. Filme e livro. Do livro para o filme, eis o tema para um trabalho da faculdade. Talvez um dia ponha aqui um resumo da coisa.
Aproveito também para dizer que li A Arte de Viajar de Alain Botton e recomendo vivamente, porque viajar não é necessariamente sol e praia. Aliás, é bom quando não é.
E, finalmente, a revelação. Comecei a ler Proust. Sim, exatamente, o Em busca do tempo perdido. Por isso, talvez só volte daqui a 7 volumes, ou daqui a 7 anos, o que acontecer primeiro.
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