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Eu não sou muito dado às biografias. Se for de alguma figura histórica, ainda vá. Mas escritores, compositores, filósofos, etc… não. Prefiro a obra e, às vezes, até acho que saber alguns detalhes da vida das pessoas me estraga a experiência de usufruto da obra. Ok, isto é parvo. Mas tem sido assim.
Ora, se as biografias não são bem a minha praia, imagine-se a autobiografia.Então como é que eu vim parar a este livro, sim, uma autobiografia de Stephen Zweig? Tudo começou com o Ken Follett que me reacendeu o bichinho da história da Primeira Guerra Mundial. Do Follett passei para o A Guerra Que Acabou com a Paz e esse, logo no início, fez-me saltar para este.
E estou siderado.
Stepehen Zweig, de quem ainda só conhecia a belíssima Novela de Xadrez , trouxe-me aqui... um momento... sim, é isso...: um dos mais belos livros que li na vida. Fá-lo contando a história da sua vida numa perspetiva de europeu, de homem profundamente humanista que vê o continente perder-se nas duas guerras que o devoraram. Zweig assitiu a tudo numa tribuna de honra e depois numa de desonra (por ser judeu, por ser austríaco, por ser um intelectual, por ser um pacifista, por se recusar a odiar "o outro", por tantos motivos...).
Há episódios aqui que, provavelmente, ficarão comigo para o resto da vida: a carta que Zweig escreveu a Mussolini pedindo a libertação de um preso; a carta anónima que alguém lhe colocou no bolso aquando de uma viagem à Rússia, carta essa que lhe permitiu perceber o quanto lhe estava a ser ocultado; as amizades com grandes vultos, como Romain Rolland (é agora que me atiro de vez ao Jean Cristophe?), para dar só um exemplo; os anos de infância e a escola; a sua mania com o colecionismo; a sua vontade de fazer, de refazer, de reiventar; a comovente imagem que nos deixa o coração suspenso ao contar que a mãe, já com 80 e tal anos, teve que viver a humilhação de, por ser judia, não poder sentar-se nos bancos da rua para descansar um pouco.
Imperdível e incontornável.
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