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Temos, cá em casa, o hábito de classificar as pessoas que achamos interessantes em termos de saber se são alguém com quem gostaríamos de jantar ou não. Ou seja, é uma espécie de prova dos nove, se eu digo, "o escritor x é muito interessante", logo vem a pergunta, "mas era interessante para ir jantar, ou só para beber café?". E assim nos vamos entretendo a classificar os interesses.
Orhan Pamuk é, definitivamente, uma das pessoas com quem eu mais gostaria de jantar. Em primeiro lugar, por ser turco. Pode parecer pouco, pode parecer parvo mas há muitos anos que mantenho um intenso interesse pela Turquia. Por isso, e porque não há muito da cultura turca que chegue até nós, Pamuk é um dos poucos escritores turcos que conheço. Mas, para além disso, há a sua obra que eu acho admirável, especialmente porque nos leva precisamente para aquilo que a Turquia tem de mais interessante, as suas contradições, a sua (o)posição ocidente-oriente, os conflitos, as mudanças brutais que têm afetado o país. Tudo isso está nos romances de Pamuk, e está também muito mais. Há nos seus textos um humanismo invulgar, uma honestidade crua mas bela. Este livro de que falo não é um dos seus romances, tem como subtítulo "Ensaios sobre a vida, a arte, os livros e as cidades", é um longo e delicioso jantar com Pamuk. A verdade é que ainda não acabei de o ler. Tenho-o há uns 3 anos e ainda não o acabei. É uma espécie de livro de cabeceira para ir lendo, e cada vez que lhe pego delicio-me. Por isso, não preciso de acabar de o ler para deixar aqui este texto, até porque não sei durante quantos mais anos continuarei a lê-lo sem o terminar. Não interessa, quero apenas recomendá-lo a quem goste de ler sobre literatura, ler sobre Istambul, ler sobre as relações ocidente-oriente, sobre arquitetura, sobre pintura, sobre tanta coisa. Para mais, este volume inclui também o belíssimo discurso de aceitação do Nobel. Enfim, como o próprio descreve na primeira linha, "este é um livro feito de ideias, imagens e fragmentos de vida que ainda não encontraram lugar num dos meus romances.", e ainda bem que ele decidiu partilhar isso connosco.
Olhando para trás, percebo também que o pedrices existe, em parte, por causa de Pamuk. Um dos primeiros textos que escrevi foi sobre Neve, talvez o seu romance mais extraordinário. Escrevi o texto porque a experiência de o ler foi tão intensa que senti essa necessidade. Depois, comecei a fazê-lo para outros livros. E, pronto, nasceu o pedrices. E, já que digo isto, devo dizer também que o primeiro livro que li dele foi A Vida Nova, um intrigante romance sobre um livro que muda a vida de quem o lê e que é pretexto para uma singular viagem de autocarro pela Turquia. Não posso dizer que os livros de Pamuk mudaram a minha vida, mas tornaram-na melhor, de uma forma que só os livros de Saramago fizeram.

imagem tirada de: http://www.orhanpamuk.net/

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2 comentários

De ASeverino a 13.08.2013 às 14:54

Mas este "outras cores" tem alguma partes (regionais) muita chatas...algumas só com muita pachorra tenho conseguido ultrapassar...mas estou quase a acabar, já li melhor do pamuk

De pedrices a 13.08.2013 às 23:39

Sim, compreendo... Eu tenho um fascínio muito particular pela Turquia. Por isso, uma das coisas que mais me entusiasma nos livros de Pamuk é isso. Mas compreendo perfeitamente, sinto isso noutros autores que falam de sítios que nada ou pouco me dizem.

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