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A cidade de Cartago ficou para a história como o palco de um dos mais arrepiantes episódios de violência do Império Romano sobre outros povos. Roma e Cartago tornaram-se cidades rivais e gerou-se um ódio que só aumentou com as várias guerras que ocorreram. Não se pense, no entanto, que este é um livro sobre os conflitos entre as duas cidades. Salammbô é um romance hitórico situado no III século a.c. que, após a primeira das grandes guerras púnicas entre Roma e Cartago, nos mostra o que aconteceu do lado cartaginês. Para combater Roma, Cartago recrutou soldados por todo o lado, tendo assim uma força de homens de diferentes "nacionalidades" (os lusitanos também lá estão). No final da guerra, Cartago não conseguiu cumprir as suas promessas de pagamento a esses soldados e, por isso, eles revoltam-se e começam a atacar a cidade. É neste contexto que um dos líderes dos revoltosos conhece Salammbô, a filha de Amílcar, e se apaixona por ela. Resumindo, é isto. Mas tratando-se de um romance de Flaubert, claro que é muito mais do que isto.
Antes de mais, é uma reconstituição histórica prodigiosa. Flaubert entra em detalhes impossíveis de se conhecer com tanta distância, mas sendo sempre convincente. As descrições longas e pormenorizadas são, muitas vezes, um suplício, confesso. As atrocidades descritas, desaconselham a quem estiver menos preparado para os horrores que se esperam num contexto de guerra e cerco a uma cidade. A história de Salammbô, a mulher propriamente dita, acaba por se perder no meio do contexto, o que não deixa de fazer sentido, uma vez que ele é muito mais importante do que uma protagonista.
Em jeito de balanço, foi preciso fazer um certo sacríficio para ler este livro. E se alguém quiser experimentar Flaubert, jamais o aconselharia - especialmente porque existe esse espantoso Madame Bovary. Mas é um grande livro, no sentido em que todos o deviam ser, ou seja, trata-se de grande literatura. Difícil, mas grande.
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