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Sem que estivesse eu preparado para tal, aconteceu-me um dia, ao ler o Ensaio sobre a Lucidez, ter uma epifania, a mais intensa de sempre, quando durante um diálogo percebi ser aquele livro como que uma continuação desse outro ensaio, o da Cegueira. Tão perturbado fiquei que não mais o larguei enquanto não fiquei a saber tudo sobre o que acontecera aos cegos de anos antes. A Saramago ouvi-me dizer, Sabe, encontrar estes personagens, tantos anos depois, foi uma das maiores surpresas que tive na vida, respondeu-me ele, Para mim também, sabia lá, podia lá imaginar que eles me apareceriam de novo.
Foi mais ou menos isto, não traio a memória de nenhum de nós por assim o contar.
O discurso do Nobel, a ideia de que as personagens fazem o autor, percebe-se melhor em momentos assim. Eu, fiquei mais rico por ter tido o privilégio destas breves palavras. Hoje, infinitamente mais pobre, recordo-as e partilho-as, porque todas as palavras de Saramago são preciosas demais para ficarem fechadas na memória.
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