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- Estou a ler um livro novo.
- Ai sim, qual é?
- É do Roth.
- Então deve ser bom. Gostas muito dele, não é.
- Sim, e só ele me faria ler um livro que, à partida tem muito para correr mal.
- Então porquê?
- Porque é todo em diálogo.
- O diálogo é uma arte muito difícil.
- Sim, e quando é demasiado abundante, e não muito bem feito pode tornar um texto bastante pobre. Claro que não é o caso do Roth. A verdade é que é delicioso de ler. Às vezes perde-se no norte, é preciso voltar atrás, é preciso perceber quem, afinal, é que está a falar. Mas é sempre empolgante, vivo, sabes?
- Mas tem muitos personagens?
- Sei lá, ainda não acabei. Para já, há dois, tipo, dois amantes, ou pelo menos parecem sê-lo. É como se se encontrassem uma vez por semana, ou assim. Parece que falam depois do sexo, umas vezes; ou antes, noutras. Por vezes, não chegam a fazê-lo. Os diálogos são breves, ou então longos. Como o contexto só vem através do que eles dizem, é como se estivéssemos a escutar atrás de uma porta.
- Isso parece interessante, se for bem feito.
- É o Roth, claro que é bem feito. Ainda por cima, para quem o conhece, dá para perceber aquelas brincadeiras, entra o Zuckerman, o personagem principal masculino parece ser ele próprio…
- Isso não é novidade nele.
- Mas é sempre tão bom.
- Devias tentar escrever um texto assim para o blog.
- Não, para escrever só em diálogo é preciso saber muito.
- Não interessa, podes tentar dar só a impressão.
- Posso, mas só a nível formal. Porque não?
- Ainda não disseste como se chama o livro.
- Chama-se Engano.
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