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Este livro andava-se a meter comigo já há algum tempo. Por um lado, porque me apetecia ler mais qualquer coisa sobre a Grande Guerra e, por outro lado, pelas excelentes referências (nomeadamente, o Prémio Goncourt).
Então comecemos pela parte da expetativa - não, isto não é verdadeiramente um livro sobre a Grande Guerra. Achei que esta história podia ter qualquer outro fundo. Mas ainda bem que foi este. A verdade é que o livro é empolgante, divertido, cheio de peripécias e surpresas. Não é uma leitura tão séria como eu estava à espera, mas valeu bem a pena e acabou por me encher as medidas de formas inesperadas.
O primeiro capítulo é de antologia, parece a sequência inicial de O Resgate do Soldado Ryan. Aí sim, o mergulho na guerra é total e com uma linguagem bem próxima do cinema. Até arrepia. Depois, vem o fim da guerra e o resto da história centra-se em dois ex-soldados e da forma como as suas vidas mudaram para sempre, de formas bem surpreendentes. Há um certo retrato de um pós-guerra que soa a injusto para muitos. Por outro lado, há o oportunismo e a falta de escrúpulos. Não se trata de um policial, mas o tom não anda assim tão longe e, no fundo, isto acaba por ser uma história de burlões pelos quais não podemos deixar de torcer.
Nos próximos dias vou estar pela Provence, no Sul de França. Por isso, nada como treinar um pouco o meu francês.
Este livro já andava para ser lido há algum tempo e, de facto, só confirmou a impressão com que fiquei quando li Houellebecq pela primeira vez. Este é o autor mais estimulante da atualidade (obviamente, há que relativizar estas afirmações, afinal, eu não acompanho assim tão bem tudo o que por aí anda de novo - mas é-o para mim). Há qualquer coisa de profundamente desagradável quando se lê Houellebecq. Não é possível sair de um livro destes a sorrir. Por outro lado, também não é possível deixar de pensar, e isso é tão melhor do que os livros que nos deixam indiferentes ou apenas satisfeitos.
Hoje fui ver uma exposição notável no Museu da Eletricidade. Ballester é um fotógrafo espanhol com uma sensibilidade muito especial para locais que são mais feios que bonitos. No entanto, as suas fotografias transformam-nos em algo imperdível. É um daqueles casos em que a nossa visão sobre as coisas muda necessariamente.
O espaço, ainda por cima, ajuda a tornar tudo ainda mais envolvente.
Imaginem-se a entrar numa sala relativamente escura. A sala é quadrada e, em toda a volta, há ecrãs gigantes. Há também uma divisão no meio que permite mais ecrãs, um para cada lado, com a possibilidade de andar à volta. Nesses ecrãs vão passando imagens, todos eles diferentes, mas todos eles mostram uma parte do todo. Esse todo é uma casa onde há várias pessoas, todas elas estão a tocar um instrumento e a cantar. Todos a mesma canção, mas cada um em seu ecrã. Percebemos que há uma mulher na sala, um homem na banheira, um grupo no alpendre, outros na cozinha. Vamos andando pela sala e vendo, em cada um desses ecrãs, uma parte desse todo. A música é melancólica, repetitiva, indolente, mas bonita, marca o tempo dos passos que damos à volta da sala e nos vai fazendo andar cada vez mais devagar. Mais pessoas entram na sala. Todas elas ficam surpreendidas, fazem um ar de espanto, mas depois entregam-se. Vão andado, vão vendo acontecer, com respeito, com ternura, até com carinho.
Isto que acabei de descrever corresponde ao que senti na exposição The Visitors, de Ragnar Kjartansson que tive a sorte de ver no Guggenheim de Bilbao no ano passado. Nunca cheguei a falar aqui dessa viagem pelo norte de Espanha porque foi uma vigem triste, mais de fuga que de prazer, mas teve coisas boas e momentos marcantes. Não sei porque hoje me apeteceu falar disto, mas apeteceu e, no fundo, não há melhor motivo para partilhar do que a vontade de o fazer. Ainda por cima, tenho que compensar o facto de estar há imenso tempo sem escrever aqui no blog.
Este vídeo mostra bem melhor do que eu poderia fazer.
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