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Finalmente encontrei o Isherwood que desconfiava que existia. Não sei bem como explicar isto mas às vezes olha-se para um livro ou autor e tem-se a sensação de que há ali qualquer coisa. Depois de ter lido o Mister Norris Muda de Comboio fiquei com a sensação que tinha que haver mais e melhor. E encontrei. Este Encontro à beira-rio tem uma estrutura estranha mas que acaba por ser bastante entusiasmante. Tudo começa com uma carta de Oliver para o seu irmão Patrick, a contar-lhe que está na Índia e vai tornar-se monge. Depois Patrick responde e Oliver acaba por contar mais pormenores de como chegou a esse ponto (de conversão). O “diálogo” prossegue e, a certa altura, mistura-se também o diário de Oliver e o leque de destinatários das cartas vai aumentando. Algumas cartas lançam uma linha narrativa que prossegue e se desenvolve de formas bastante inesperadas (pela riqueza de acontecimentos em tão pouco tempo). Há personagens que nunca falam porque são apenas destinatários das cartas mas, ainda assim, acabamos por saber muito mais sobre eles do que seria de esperar. Por vezes, os mesmos acontecimentos são relatados com versões bem diferentes, consoante a pessoa a quem a carta é destinada. E acabamos por perceber que, se calhar, quem menos sabe até somos nós que temos acesso às múltiplas versões.

A escrita de Isherwodd é tão simples que se torna bela (acho que tenho que o ler em inglês) e, neste livro, fiquei com a sensação de que está tudo no sítio, não há nada desequilibrado, não há nada errado, até porque há imenso do próprio autor (isto é uma desconfiança minha mas quem segue o blog do Miguel - um voo cego a nada, acaba por saber umas coisas sobre o Isherwood). Ou seja, há contradições, há dúvidas, há decisões inconcebíveis, há fraquezas, há oportunismo, há tudo como na vida, e isto em tão poucas páginas que só lamento não ser este um romance muito maior.

 

Para além do valor literário há um outro aspeto interessante neste livro: o confronto entre uma certa forma de estar mais ocidental e as tradições da Índia. Os dois irmãos representam, de certa forma, estes dois mundos, e acabam por nos guiar numa pequena viagem por outras paragens (e outro tempo) que torna o livro ainda mais interessante. 

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Zorba, o Gato

28.07.14

Há uns anos fui à União Zoófila com um amigo para ele adotar um gato. A experiência foi terrível, no sentido de que eu próprio queria trazer gatos para mim. Tudo ficou ainda pior quando um deles resolveu olhar para mim e, do chão, saltar para o meu ombro, lamber-me abraçar-me e nunca mais me largar. Era um gato adorável e incrivelmente simpático. E eu, que tinha perdido a minha gata algum tempo antes, estive quase a adotá-lo. Não o fiz por duas razões: a primeira, a mais importante de todas, foi o facto de o meu cão, o Pico, já estar a entrar numa fase em que não ouvia e via muito pouco, achei que ter um gato a saltar à volta dele (admitindo que até se iriam dar bem) seria um stress adicional que eu não lhe queria dar. Para mais, o dito gato tinha Fiv, a chamada sida dos gatos. Portanto, era um gato condenado… Não era boa ideia meter-me nisso.

 

Anos depois, ou seja, agora, voltei à União Zooófila e já tenho os meus dois cães-afilhados. Mas tem havido outro objetivo nas minhas idas lá: adotar um gato. Depois de algumas semanas de reflexão, lá fui vê-los. A primeira surpresa foi ter encontrado vários gatos bebés (uma sorte, não é? Quem é que não prefere adotar um bebé?). São encantadores, muitos deles são lindos, havendo para todos os gostos. Mas, antes de ir embora para pensar melhor, e com a sensação de que não me tinha apaixonado por nenhum deles, acabei por olhar com alguma insistência para um gato cinzento, já adulto, e com Felv, a chamada leucemia dos gatos. Mas saí de lá, tentando não pensar muito nessa hipótese.

 

Os dias foram passando e não pude deixar de me lembrar constantemente do gato cinzento que se chamava Gendalf. E a ideia de adotar um gato com Felv começou a crescer. A verdade é que os bebés têm muito mais hipóteses do que estes que, muitas vezes, ninguém sequer considera. Dias depois, lá voltei à União Zoófila para conhecer o gato, entrar no sítio onde ele estava e interagir com ele. Na verdade, não foi só dele que gostei, grande parte dos gatos que lá estão com Felv são meigos e simpáticos, em especial o Gendalf e um outro, o Matias, que não me largava.

 

Percebi que estava a entrar num caminho que só podia ter uma saída: adotar o Gendalf. Estive a refletir durante mais uma semana e, finalmente, no sábado passado, fui buscá-lo. Não quero saber do Felv! Já tive uma gata perfeitamente saudável que morreu com cerca de 1 ano, na sequência de uma complicação pós-operatória. Por outro lado, o Pico, com os seus vários problemas, esteve comigo mais de 15 anos. Por isso, não vale a pena pensar no quanto vou ter, interessa sim o que é que ele vai ter. E eu acredito que comigo ele vai ter uma vida melhor, seja ela curta ou longa.

 

O Gendalf chama-se agora Zorba, e eu acredito que ele está mais feliz. Eu estou, muito mais, e graças a ele.

 

 

 

 

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Sempre vi O Homem Duplicado como uma espécie de OVNI na obra de Saramago. Isto por causa do lado “thriller” que o livro tem. Ou seja, há uma certa altura em que este livro é quase um policial, é intrigante e emocionante, viciante. Nada disto é aquilo que habitualmente sinto nos livros de Saramago. Daí tê-lo sempre considerado como um caso à parte. No entanto, nesta releitura fiquei mais com a sensação de que O Homem Duplicado é uma versão simplificada de Todos os Nomes. O Homem Duplicado trata da história de Maximiliano Máximo Afonso, um professor de história que, um belo dia, vê num filme um ator que é igual a ele próprio. A partir daí, a história desenvolve-se em torno da investigação que o professor vai fazer para descobrir quem é este seu duplo/clone. Já em Todos os Nomes, o Sr. José passa o livro todo a tentar também descobrir quem é a pessoa por trás de um nome com o qual se cruza. Todos os Nomes é um livro muito superior a todos os níveis, mas isso não tira interesse nenhum à leitura de O Homem Duplicado. Agora, há que ver o filme, estou bastante curioso porque sempre achei que este era o livro mais óbvio para passar a filme na obra de Saramago.

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Desde que o meu cão nos deixou tenho ido à União Zoófila semanalmente. Apadrinhámos dois cães fantásticos: o Pompónio e o Tito.

Ser padrinho de um animal da União significa dar alguma ajuda financeira e, igualmente importante, permite-nos ir passear com eles e, assim, dar a estes cães uns momentos de felicidade que são incrivelmente compensadores.

Podia pôr aqui as fotos do estado destes animais quando chegaram à União Zoófila. Mas não vou fazê-lo porque me interessa mais o facto de hoje estarem bem melhor. Tenho muita pena de não os poder adotar, mas tenho muita sorte em poder estar com eles nestas visitas como padrinho. De qualquer forma, se alguém quiser adotar dois cães fantásticos, estes seriam uma ótima escolha.

Tito - um cão tímido e muito calmo, mas incrivelmente meigo e doce

 Pompónio - um cão super brincalhão e com uma dose de loucura saudável irresistível

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Sophia

03.07.14

Com atraso em relação à cerimónia de ontem de transladação para o Panteão, mas se é para lembrar Sophia nunca é tarde. Um dos poemas da minha vida:

 

Meditação do Duque de Gandia

sobre a morte de Isabel de Portugal

 

 

Nunca mais

A tua face será pura limpa e viva

Nem teu andar como onda fugitiva

Se poderá nos passos do tempo tecer.

E nunca mais darei ao tempo a minha vida.

 

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

A luz da tarde mostra-me os destroços

Do teu ser. Em breve a podridão

Beberá os teus olhos e os teus ossos

Tomando a tua mão na sua mão.

 

Nunca mais amarei quem não possa viver

Sempre,

Porque eu amei como se fossem eternos

A glória, a luz e o brilho do teu ser,

Amei-te em verdade e transparência

E nem sequer me resta a tua ausência,

És um rosto de nojo e negação

E eu fecho os olhos para não te ver.

 

Nunca mais servirei senhor que possa morrer

 

Sophia de Mello Breyner

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