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Pronto, sim, eu sei que sou suspeito... Tudo o que tenha a ver com a Grécia faz-me sempre ficar em pulgas. Mas não posso deixar de estar completamente rendido com este livro. Depois de ter lido o Millenium, de que falei aqui há uns tempos, decidi passar logo a outro do Tom Holland. Nem sequer me tinha apercebido que este livro, apesar do título, é tanto sobre o império Persa como sobre a Grécia antiga. Depois de uma introdução à Pérsia e à forma como o império se constituiu, o livro concentra-se nas grandes batalhas entre gregos e persas.
Portanto, temos aqui a batalha de Maratona (para quem não sabe, o termo "maratona", aplicado à corrida, vem desta batalha em que foi preciso percorrer a distância entre a Maratona e Atenas para salvar a cidade), a das Termópilas (da famosa história dos 300 guerreiros espartanos) e a de Salamina. O relato é tão intenso e vibrante que, às tantas, parecia que já não sabia a história e de como tudo ia acabar.
Mas o melhor de tudo é que ainda há mais livros do Tom Holland para ler!
Voltando um pouco a uma questão de que aqui falei - o que ler antes de viajar - não posso deixar de partilhar o meu recém-chegado Blue Guide. Ando para comprar um guia destes há muito tempo, mas nunca tive a certeza. Agora lá me decidi e, de facto, este é o guia com que sonhava. Quer dizer, não posso deixar de o complementar com um guia Lonely Planet (são os que uso com mais frequência) para informação mais prática e de rápido acesso. Mas para aprender e ler com alguma profundidade, este é o guia.
Mas nem tudo é bom. Apesar de o livro, enquanto objeto, ser lindo, é terrivelmente pesado, de uma forma inacreditável e, acima de tudo, para usar na própria viagem. Bom, a verdade é que é capaz de ser perfeito para ler antes de ir. Para me acompanhar, vai ser difícil, até porque, para a próxima viagem à Grécia, teria que ir com todos estes atrás…
Se este livro é daqueles que dispensam apresentações, a verdade é que eu andei muito, muito distraído ao longo destes anos. Que posso fazer? Não sabia que era assim, certamente não teria deixado passar tanto tempo sem o ler.
O que eu não sabia é que este é um magnífico retrato do que foi a revolução russa. É um testemunho, é um documento, é um daqueles livros que não só contam a história, são parte da história.
Percorrendo os anos desde o início do século XX até aos anos 40, Pasternak envolve-nos numa história de pessoas que veem a sua vida mudar radicalmente devido aos acontecimentos políticos que se desenvolvem na Rússia. Entre sonhos, arrependimentos, remorsos, esperança, a revolução russa muda tudo e não muda nada daquilo a que se propunha. Há um desencanto neste livro que não é mais do que a força da realidade. O que é invulgar é a forma como estas páginas parecem tão vivas e tão assustadoras. Pasternak limita-se a contar, mas os seus personagens são tão fortes que quase sentimos as suas dores.
Vejamos um pouco:
Aquele período confirmava uma velha sentença: o homem é lobo do homem. Um viajante desviava-se do caminho ao ver outro viajante, um desconhecido matava outro desconhecido que encontrava, com receio de ser morto. Surgiam casos isolados de antropofagia. Acabaram-se as leis humanas de civilização, vigoravam as leis da selva. O homem sonhava os sonhos antigos da idade das cavernas.
O pior desta descrição é que ela não se refere ao período da revolução. Nem se refere à terrível guerra civil que se segui, opondo os exércitos branco e vermelho. Não, esta descrição surge depois já do final dessa guerra. Um sinal de que a Rússia que nasceu dali não ficou um lugar melhor. E, hoje, olhando para trás, para o que ainda viria depois da 2ª Guerra quase não podemos acreditar.
E como se não bastasse o poderoso retrato da história, a verdade é que ele funciona como suporte para nos dar a conhecer personagens incríveis. Desde os aristocratas até aos mais humildes trabalhadores, Pasternak não deixa ninguém de fora, pintando um quadro tão abrangente quanto possível dessa imensa Rússia e das mudanças incríveis a que foi sujeita neste período.
Ontem à noite vi o filme de David Lean. É notável a tentativa de passar um livro tão incrível para o cinema. E até me parece que está conseguido no essencial. Mas o livro é tão precioso que só mesmo lendo…
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