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É oficial. Sinto-o desde criança e agora sei. Copenhaga é a cidade onde eu gostava de viver, sem dúvida.

 

Em breve, mais pormenores.

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Este é o dinamarquês que me vai acompanhar, a partir de amanhã, em Copenhaga. Acho estranho que não encontre em português (há uma edição da ASA mas está esgotada) porque as primeiras linhas passam-se em Lisboa, e há várias regiões e cidades portuguesas que são citadas.

 

 

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O Rui deixou um comentário interessante no post anterior. De facto, a história da Dinamarca que li não deixa de ser “densa”. Não é muito provável que um viajante queira necessariamente ler umas 30 páginas sobre as condições económicas dinamarquesas entre 1500 e 1800 (este deve ter sido o capítulo mais chato). Para mim, que gosto muito de ler história, é uma coisa natural. Mas há outros livros. Por isso, este How to be Danish (a parte chata é que não existe em português, tanto quanto sei) é o livro a recomendar a quem vá à Dinamarca e queira saber um pouco sobre o país.

O interesse do livro está na sua organização temática e do ponto de vista de estrangeiro. O autor é inglês e propõe-se olhar para a Dinamarca porque há várias coisas que vêm de lá e que os ingleses até dão muita atenção, mas sabe-se pouco sobre o país. Assim, vai levar-nos a um passeio em que fala das grandes séries (The Killing, The Bridge e Borgen - de que eu também ainda espero falar aqui), do sistema de educação, do estado social, dos impostos altíssimos, dos serviços públicos gratuitos, de como isso pode estar em causa, de como eles se chatearam com o mundo muçulmano por causa dos cartoons, de como a gastronomia, a arquitetura e o design se tornaram tão notáveis, das bicicletas, da xenofobia, da Lego, enfim, fala de quase tudo. Mas há esse grande quase que é ignorar quase completamente a literatura, a qual me parece tudo menos irrelevante - vamos aos óbvios Christian Andersen e a Karen Blix, mas há até 3 outros que foram prémio Nobel da literatura.

Mas que é um livro excelente antes de uma viagem, lá isso é. 

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Apesar de uma estrutura desajeitada, este é um livro interessantíssimo para se ler antes de ir à Dinamarca. Tenho agora uma visão muito mais completa sobre a singular história de um país onde o compromisso, a união, a responsabilidade e a solidariedade são valores de facto. E, agora, deixem-me lá ir ver na prática, dentro de alguns dias.

 

 

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Enquanto os corpos jaziam a céu aberto, as mulheres e raparigas foram obrigadas a deitar-se de rosto para baixo, sobre os cadáveres viscosos e nojentos. Com as coronhas das espingardas, os milicianos empurraram os rostos das suas vítimas contra aquela putrefação infernal. Desta forma os restos mortais enfiavam-se nas bocas e nos narizes delas. 64 mulheres e raparigas pereceram em consequência deste ato "heroico"(… )polaco.(testemunho anónimo)

 

Hesitei muito em retirar uma citação deste livro. Pensei em retirar várias, pensei em não retirar. Depois achei que é importante. Porque este livro denuncia tanta coisa, em tantos países, que é difícil aguentar. Este episódio, para o qual, como em tanta coisa relacionada com este assunto, não há provas (mas não é difícil de acreditar em bem pior que isto), não é um caso isolado. Faz parte de um período da história bem concreto e real, o qual não ocorreu assim há tanto tempo. Mas há um problema, é que este é o período para o qual muitos de nós estão habituados a olhar como o momento da celebração, da festa, da libertação, foi tudo menos isso. Este livro relata o que aconteceu na Europa entre 1945 e 1949. E a grande festa que houve foi a da vingança, do caos, do horror.  

 

Há uns poucos anos, a pretexto de uma viagem que fiz à Normandia, li o livro Europe at War de Norman Davies. E esse livro foi responsável por uma mudança enorme na forma como sempre olhei para a II Guerra Mundial. Na altura, deixei aqui um pequeno texto a dar conta disso. Mas é com o tempo que estas coisas mais evoluem e, de facto, continuo a ter essa visão diferente, em que o fim da guerra não foi bem em 1945, e que o fim da guerra não foi bem uma coisa boa para todos. Sendo que nós, deste lado da cortina de ferro, ficámos numa posição muito mais confortável. Agora, com este Continente Selvagem percebi ainda melhor o quanto a minha visão estava distorcida. No fundo, a Europa ocidental conta a história da vitória em meia guerra, nunca fala da guerra inteira.

 

O fim da guerra trouxe o desenvolvimento espetacular à Europa Ocidental (muito ajudada pelo Plano Marshall) e mergulhou a Europa de Leste nas trevas da opressão soviética. Apesar das operações militares incríveis que houve na Europa Ocidental, apesar da luta heroica dos aliados, e apesar da resistência tenaz dos povos, só meia europa se libertou. As festas que associamos a 1945, as comemorações de vitória, a alegria das pessoas, a liberdade, tudo isso é uma imagem que reflete uma realidade mas esconde outra, porventura muito mais importante, a da vingança.

 

Na introdução deste livro, Lowe começa por nos pedir que imaginemos um mundo sem instituições, sem fronteiras, sem governos, sem escolas, universidades ou livrarias, sem cinema ou teatro, sem informação, sem transportes. Na verdade, não é imaginação, é um regresso ao passado “a história da Europa no período imediatamente após a guerra não é, como tal, uma história de reconstrução e reabilitação - é, antes de mais, uma história de queda na anarquia”. O autor diz que este é o único livro dedicado a analisar em pormenor os anos a seguir à guerra (há outros livros, nomeadamente o Pós-guerra de Tony Judt, mas a análise é mais abrangente e não detalhada).

 

Lowe não nos conta grande coisa sobre como a Europa se reergueu depois da guerra. Pelo contrário, conta-nos como ela se afundou tanto como durante a guerra, ou até mais, em alguns casos. A certa altura, este livro parece mais um desfile de horrores, um verdadeiro catálogo de crueldade, tortura, intolerância, crime. A europa mergulhou, depois da guerra, num caos absolutamente horrendo. E, claro, tudo foi muito pior a leste, nessa Europa que só se libertou décadas depois e que, agora, felizmente (goste-se ou não) está integrada (mal ou bem) na União Europeia. 

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Daqui a uns dias vou de férias e ainda nem sequer acabei de contar as últimas. Por isso, aqui fica, e com carácter de urgência, um pequeno relato sobre uma das melhores experiências que tive na Grécia.

 

Como se não bastasse tudo o resto, há algo em Creta que se torna uma experiência única e aberta a todo o tipo de perspetivas. Pode ser vista como um simples passeio, uma aventura, um desafio, um pesadelo, um sonho. Como quiserem, ou como sentirem. Descer o desfiladeiro de Samaria é o que cada um tirar. Por isso, só posso dizer o que foi para mim.

Antes de mais, foi um enorme problema de organização. Deixem-me pôr um mapa para se perceber melhor.

 

 

 

Agora imaginem que estão em Kastelli Kissamos e que querem ir descer o desfiladeiro. Bom, têm que arranjar maneira de ir até Omalos, depois descer a pé a zona verde no mapa e, no fim, estarão em Aghia Roumeli onde... não há estradas, portanto, não há como voltar para trás (a não ser que depois de 16 Kms a descer, queiram subir...). Para sair de Aghia Roumeli há barcos mas não propriamente para Omalos... Depois de muito ver preços, opções e problemas, foi assim: acordar às 4:30 da manhã em Kissamos e ir de carro até Paleochora – uns 60 kms em estrada que não ajuda a andar depressa. Chegada a Paleochora às 6:00, poucos minutos antes de sair o autocarro para Omalos. Em Omalos, às 8 da manhã, a uns 2000 metros de altitude e cheio de frio, começar a descer para, horas mais tarde, chegar a  Aghia Roumeli, ficar na praia até às 17 e qualquer coisa para apanhar o barco para Paleochora para ir buscar o carro e conduzir durante mais uma hora para Kastelli Kissamos. Pois, não foi fácil. Mas Samaria era um desafio irresistível.

Aviso prévio: não há um foto que fala justiça ao que aquilo é. E em todas elas deu para perceber que assim seria. Samaria é para se experimentar, e para nunca mais esquecer.

 

 

Quando se começa a descer, percebe-se que as pernas vão ter muito trabalho pela frente, mas dá ideia de que a coisa até é bastante organizada: 
Mas a verdade é que tem o seu quê de perigoso. Como o sinal e as pedras naquele pequeno troço que até tem uma vedação para proteger:

 

 

Quando se chega lá abaixo, acabou o ar "organizado" do "passeio".

Primeiro, porque uma pedra resolveu cair bem lá de cima. Foi assustador. Toda a gente parou a ouvir o pum, pum, pum que a pedra ia fazendo enquanto ia descendo. Não cheguei a vê-la, não percebi onde caíu mas aquele barulho ficou-me na cabeça para o resto o percurso. E olhar para cima passou a ser muito mais assustador. Fora este perigo, há também o risco de se torcer pernas, pés e tudo o resto. Só caí uma vez, acho que tive sorte, mas vi várias pessoas ficarem magoadas a sério. 

 

 

De qualquer forma, aquilo que nos é dado a ver sobrepõe-se a tudo o resto. Houve momentos em que parecia estar noutro planeta, até porque a luz ali tem um brilho diferente, como se fosse mais opaco.

Depois há a forma como as árvores aparecem nos locais mais improváveis, e deve ser graças a elas que não há mais pedras a cair.

O passeio termina na tal terrinha onde só vão os barcos. Passei umas horas na praia que foram fantásticas, tirando a parte em que o vento começou a soprar de tal forma que deixou de ser praticável estar ali a comer areia. Restou a viagem de barco, com a chegada a Paleochora ao pôr do sol. Ainda houve tempo para jantar, pegar no carro e voltar a Kissamos. Fiquei tão esgotado que claro que só deu para ir dormir, mas com passagem por uma esplanada para beber Ouzo (uma espécie de aniz lá da Grécia) e ficar a pensar que Creta não é bem um sítio que se visite e dê para contar o que por lá se viveu. Tudo fica pálido quando começo a contar. Enfim, há que voltar.

 

 

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A história do império Bizantino é bem capaz de ser um tema muito pouco apelativo. Por um lado, é muito pouco conhecido, pelo menos visto deste canto da Europa. Por outro, muitos foram os historiadores que denegriram o próprio interesse de se estudar este período da história.

A mim, moveu-me a curiosidade do costume, ou seja, Grécia e Roma levaram-me a Bizâncio. No fundo, quis compreender melhor o que é que aconteceu à Civilização Romana (que, simplificando, já tinha incorporado a grega) quando o Império colapsou. É verdade que parte dessa continuação da história está no continuar a estudar a história de Europa. Mas, e a Grécia? O que aconteceu aos gregos quando Roma “acabou”? E que divisão foi essa entre império romano do ocidente e império romano do oriente? Então mas o império romano acabou mesmo, ou não? Como se vê, havia uns buracos por preencher… Em português não encontrei nenhum livro, assim de repente, que me pudesse explicar de forma sintética mas esclarecedora o que foi o Império Bizantino e se seria ele que ia responder às minhas dúvidas. Bom, acabou por ser no itunes que encontrei uma espécie de resposta. Fiz download de uma palestra de uma professora que falava por ocasião de uma exposição sobre o Bizâncio, creio que em Londres, mas já não me lembro bem. Era muito engraçada a introdução dela. Explicava que um dia uns construtores que andavam lá pela faculdade e lhe bateram à porta do gabinete para perguntar o que era isso de “Professora de História Bizantina”, o que era isso de bizantino, que tinha escrito na porta do gabinete. Parece que da conversa resultou um desafio “porque é que não escreve algo sobre isso?”. E Judith Herrin ficou a pensar no assunto - como apresentar Bizâncio a quem não conhecesse grande coisa sobre o assunto. Lá pensou e lá escreveu um livro. Livro esse que eu não conhecia e, na verdade, não procurei. Ouvi este podcast no ipod quando andava na rua e a coisa passou.

Alguns meses depois, numa livraria de Londres, encontrei este livro. O tema Bizâncio estava pendente e eu até o ando a reservar para quando um dia visitar a Turquia. Quando comecei a ler a introdução apercebi-me de que era a mesma história que tinha ouvido no podcast. Aquele era, portanto, o livro que a professora tinha escrito na sequência do desafio dos construtores. Claro que não resisti. E apesar de ter demorado (a verdade é que não fazia sentido ter lido este Bizâncio sem fazer toda uma outra série de leituras prévias sobre a Grécia e Roma - muitas delas, fui dando conta aqui), li-o agora e em muito boa hora (embora a viagem à Turquia ainda não esteja programada…).

Com isto tudo, ainda não falei do livro que é, de facto, uma excelente introdução a Bizâncio. Judith conduz-nos com uma mestria rara. A estrutura do livro é a sua grande força porque consegue ir construindo, através de camadas cuidadosamente pensadas, um fio condutor em que somos levados a compreender a importância do império no contexto da Europa. A sua afirmação de que a Europa não existiria sem o papel protetor de Bizâncio no conter da “ameaça” árabe, pode parecer exagerada, mas leva-nos na direção certa para reconhecer o contributo de Bizâncio para a história

Tudo começa com Constantino e a formação de Constantinopla. É a partir daí que a história da cidade é também a história do império. Uma história de lutas e de um quotidiano surpreendente. Há capítulos dedicados aos eunucos, ao papel das mulheres, há a melhor explicação que já vi sobre a “guerra” dos iconoclastas, há o saque perpetrado pelos cruzados, há a conquista final pelos otomanos. Há tudo isto tudo em capítulos curtos e muito bem estruturados (fiquei com a sensação de que podem ser lidos separadamente de forma eficaz, até porque a autora remete de uns para os outros para aprofundamento de temas).

Basicamente, não podia ter tido mais sorte em encontrar este livro. 

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