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 Lembro-me de, há muitos anos, ter ficado com uma estranhíssima sensação, com a leitura de Malone está a morrer, de Samuel Beckett. Voltei ao autor uns anos depois, com a peça, À Espera de Godot, esta bem mais fácil e agradável de ler.

 

Há poucos dias, tive a oportunidade de voltar a contactar com um texto beckettiano, desta feita, Primeiro Amor, numa interessante encenação no Trindade.

 

Voltando para casa, também voltou a vontade de pegar num livro deste autor e explorar essa literatura estranha, e difícil, sem concessões. Fica a sensação de que ali está escrito tudo o que havia para escrever, as situações são levadas até às últimas consequências, como se a escrita conseguisse emergir directamente da mente, sem censuras, sem disfarces. Claro que há também um pessimismo e desencanto que são de tal forma acutilantes que não dão espaço a muita alegria, mesmo considerando que o humor (um peculiar humor, terrivelmente negro) está sempre presente na obra de Beckett. Murphy é, aliás, considerado, por muita gente, um livro cómico.

 

O domínio da língua é outra característica que impressiona em Beckett, especialmente tendo em conta que escreveu em francês e em inglês. Poucas vezes encontrei, num só texto, tantas palavras que, para mim, eram desconhecidas, o que também não facilita a leitura de Murphy mas, claro, enriquece quem lê.

 

Um exemplo que não posso deixar de referir (sem revelar grande coisa da história, se é que ela existe), prova dos novos terrenos que Beckett consegue explorar, é a descrição de um jogo xadrez, jogada por jogada, um momento desconcertante mas fundamental. É possível encontrar na internet análises deste jogo e dos seus significados a nível matemático. Para mim, confesso, foi mais um momento de perplexidade. No fundo, é essa a impressão mais forte que Beckett sempre me deixa (nas peças de teatro é diferente, os textos são bem mais luminosos e fáceis, mas não menos ricos em significados e consequências). Eu não sei quem é Murphy e muito pouco fiquei a saber. E, porém, estive dentro dele, numa exploração esquisita de muitas das suas idiossincrasias.   

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