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 Este foi o meu segundo livro de Yalom, depois de Lying on the bed (em português, chama-se Mentiras no Divã, e perde-se metade da piada…) e continuo a pensar que ainda bem que existem autores assim. Não só os seus livros são imensamente divertidos, no sentido de serem empolgantes e nos levarem a ler de forma compulsiva, como também são uma forma de entrar no mundo da psiquiatria e, neste caso concreto, permite conhecer um pouco desse filósofo extraordinário que foi Nietzsche.

 

Yalom é verdadeiramente eficaz na sua escrita. Vai lançando a acção, dá pequenas deixas que abrem a curiosidade para o capítulo seguinte e, como qualquer bom professor, sintetiza e reforça os pontos essenciais frequentemente. Para além disso, há reviravoltas surpreendentes no enredo, capazes de aproximar este livro de uma espécie de thriller filosófico.

 

Yalom está, no entanto, preocupado com aquilo que passa aos leitores em termos de rigor. A sua nota explicativa no final do livro permite distinguir o que é real do que é ficcionado. Em poucas páginas, esclarece tudo para que não haja dúvidas no espírito de quem leu e para que aquilo que é essencial fique registado. Esta é uma opção bem diferente da de outros autores que, ficcionando a vida de ilustres personagens, não dão ao leitor qualquer esclarecimento sobre as suas escolhas. Optando por este método, Yalom torna-se muito mais confiável do que seria se não houvesse esta nota final.

 

Não é fácil compreender Nietzsche e a sua filosofia. Se podemos, para muitos filósofos, atribuir-lhes uma ideia-força que é raiz e estrutura do seu pensamento, tal não é fácil quando a figura em causa é Nietzsche. Para além da complexidade do seu próprio pensamento, das inúmeras ramificações que o mesmo alcança e da abrangência, em termos de consequências, que se podem retirar das suas reflexões, Nietzsche é um filósofo que tem sido, ao longo do tempo, abundantemente mal interpretado, ou analisado de forma demasiado ligeira. O esforço de Yalom é notável, sendo capaz de pegar em várias das ideias de Nietzsche, criando um contexto ficcional verosímil e eficaz para as explicar. Não deixa de haver aqui a componente teórica do pensamento nietzscheziano mas a mesma é acompanhada com aquilo que vai acontecendo aos personagens, tornando-a concreta nos seus ensinamentos, mostrando para que pode ela servir, que acções podem ser desencadeadas com origem nas suas premissas.

 

Mas não é só de Nietzsche que se fala aqui, é também de Breuer e de Freud. Em grandes diálogos, de uma clareza esquemática, vamos tomando contacto com o pensamento destes homens. No caso de Freud, ele é ainda um jovem mas já se detectam aí as raízes daquilo que viria a ser um dos seus mais fascinantes objectos de estudo, os sonhos. Breuer, um dos pais da psicoterapia consegue reflectir a incapacidade que a medicina começou a sentir no tratamento de doenças psicológicas. Curiosamente, aqui, recorre a um filósofo, Nietzsche, para o ajudar. E há também o ambiente de Viena, onde começam a surgir os primeiros sinais de anti-semitismo que contribui para enriquecer a caracterização das personagens e da época.

 

Falta-me agora ler A cura de Schopenhauer,com o qual espero ter uma boa introdução a este filósofo. Para além disso, saiu há pouco tempo mais um livro, desta vez relacionado com o medo da morte. A julgar pelo que já neste é abordado sobre esse tema, baseado no pensamento de Nietzsche, não posso deixar de o ler.

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Conheci Coetzee através de Desgraça, um livro poderosíssimo e que faz inteira justiça ao título. Desde aí que tenho a firme intenção de ler toda a obra deste autor. O livro seguinte foi A Vida e o Tempo de Michael K. que me trouxe a sensação de um reencontro com algumas histórias kafkianas.

Neste A Idade do Ferro, Coetzee fixa a atenção na África do Sul citadina (Desgraça passa muito pela rural) e mostra-nos, na forma de uma longa carta de uma mãe para a sua filha, como é viver na África do Sul sob o regime do apartheid, como é viver nesse ambiente sendo uma velha mulher, perto da morte e com uma doença terminal, mostra-nos o que é o amor no fim da vida, ou a sugestão de amor para quem já não tem energia para se apaixonar.

Coetzee é cru e cirúrgico na escrita, parecendo até não ter estilo. No entanto, a verdade é que aquilo que Coetzee nos apresenta nas suas obras, só assim pode ser mostrado. Em vez de palavras pungentes, de lirismos a puxar à lágrima fácil, com a sobriedade quase cruel que o caracteriza, Coetzee agride-nos constantemente, destruindo a nossa indiferença.

Não é fácil, e muito menos agradável, ler um livro assim, é mais fácil usar a literatura para viajar por mundos mais bonitos. Mas é assim o que Coetzee nos conta: histórias do real, do concreto, de gente que existe e, mais do que vive, sobrevive.

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