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Outros Livros

16.06.09

 

Isto das férias e de ter mais tempo para ler faz com que seja impossível ter o blog actualizado. Já nem vou tentar… Para além de um texto sobre Kadaré, ainda por escrever, os outros vão ficar aqui, não por serem livros menores mas porque obrigariam a um comentário muito mais elaborado do que aqueles que por aqui tenho deixado. A verdade é que nem costumo pôr aqui as minhas impressões sobre livros que não sejam do tipo romance. No entanto, creio que vale a pena destacar alguns dos que li neste período.

 
Em primeiro lugar, O Mundo Pós-Americano, de Fareed Zakaria. Trata-se da apresentação de uma tese na qual estamos a chegar ao mundo multipolar, a grande realidade das próximas décadas será a ascensão de países como a índia e a China. Nesta análise, Zakaria (autor do igualmente interessante O Futuro da Liberdade) faz uma análise tão lúcida sobre aspectos que por aí se vão comentando sem rigor e isenção que, creio, este devia ser um livro obrigatório para quem gosta de frases do tipo “não gosto de americanos”. É que perceber minimamente o mundo na sua multiplicidade, e em particular as relações internacionais, não se coaduna com típicos comentários de treinador de bancada. Zakaria tem uma tese perfeitamente refutável um muitos pontos, limitada noutros, brilhante aqui e ali. Porém, o que ressalta é a seriedade do estudo e das conclusões. E isso já é muito mais do que se consegue ler por aí sobre estes temas.
  
George Steiner é um pensador extraordinário. Para além do seu saber enciclopédico é um escritor vivo e sedutor. Por isso, ler Os Livros Que Não Escrevi, é um prazer. Porque nos permite privar com a forma como Steiner pensa (parece pensar connosco) e, neste caso, conhecer os temas que lhe interessam e sobre os quais gostaria de ter escrito. Para além disso, o alcance e ecletismo do seu pensamento surpreendem e, ainda mais, porque é difícil que alguém encontre interesse em todos estes ensaios (de tão diferentes que são) mas não é difícil que em todos eles se encontre o prazer de uma deliciosa leitura.
 
Gostava também de aproveitar para destacar um pequeno livro que li há algum tempo: História da Filosofia, de Rafael Gambra. Não se trata de uma obra de grande fôlego, destinada a tornar-nos mestres na matéria. Mas é uma excelente síntese, útil a quem queira conhecer as bases ou a quem queira relembrar um ou outro aspecto da evolução filosófica. Gambra aborda as grandes correntes da filosofia e os grandes pensadores de uma forma sedutora e esclarecedora. É capaz de ser um livro para estudantes do secundário, é certo, mas que pena eu não o ter lido na altura, tudo teria sido tão mais fácil. E talvez já o tivesse relido mais vezes…
 
Por último, a poesia, género que não frequento e com o qual não simpatizo particularmente. Por um lado, porque me sinto preso à língua (a tradução, na poesia, é ainda mais problemática que na prosa e, num certo sentido, muito mais infiel) e raramente a leio se não souber lê-la na sua língua original. Por outro, pelo facto de a prosa me parecer capaz de fazer tudo o que a poesia faz, sem que o contrário se verifique. Passando ao que interessa, li Na Terra e no Inferno, de Thomas Bernhard. E não, não sei alemão, li a tradução. Confesso que alguns dos poemas me pareceram impressionantes. Todavia, este é um primeiro livro de Bernhard em que ele parece querer experimentar um pouco de tudo, dar a sua própria voz a vários dos modelos típicos da poesia. E a voz de Bernhard acrescenta valor, embora de forma desigual. É certo que deixou de escrever poesia porque apenas a prosa lhe permitia dizer aquilo que queria. E eu acho que ainda bem. Ainda bem que ficaram estes poemas, ou alguns deles, porque são uma grande experiência; ainda bem que procurou a sua expressão na prosa, porque o imenso poder da sua escrita pôde assim encontrar o seu melhor caminho.

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Eu não sei muito bem o que acontece neste livro. Quer dizer, sei muita coisa, não há propriamente passagens difíceis ou enigmáticas, a escrita é corrida, relativamente simples, não é por aí.
Há muitos escritores assim, escrevem porque… querem dizer coisas. Não têm uma estrutura para as dizer, não têm propriamente uma história, usam a escrita de forma invulgar. Confesso que aprecio menos este género do que a capacidade de criar um verdadeiro argumento e colocar, dentro dele, aquilo que se quer dizer, até porque a ficção continua a ser das melhores formas de explicar e expor um ponto de vista.
Este livro fica algures entre o ensaio e o romance. E, dentro desse género, Thomas Bernhard é realmente bom. O texto está cheio de pequenas pérolas que valem por si só, mas também é verdade que valem mais do que o livro em si.
Portanto há um rapaz, o pai dele é médico e leva o filho nas suas visitas aos doentes. Pronto, é mais ou menos isto. Só isto, e tanto mais do que isto. Porque o que estas pessoas contam sobre o que pensam é a matéria sobre a qual Bernhard se debruça.
O que surpreende é o elevado interesse que o livro consegue manter do princípio ao fim. A par disso, há uma musicalidade na escrita, com a repetição constante de certas palavras ou expressões, que torna difícil parar de ler. Durante grande parte do livro há pequenos parágrafos, separados por espaços, é fácil querer ler só mais um. A certa altura, sem que nada o fizesse prever e sem que haja um sentido aparente, surge um título “O Príncipe”. A partir daí os parágrafos passam a ser extensos, muito extensos, alguns com dezenas de páginas.
É também neste “discurso” do Príncipe (é um dos “doentes” que eles visitam) que o autor eleva, definitivamente, a sua escrita a planos invulgares. No fundo, são reflexões, sobre a vida, muito em particular sobre a morte, sobre os filhos, a família, a solidão, as relações sociais, enfim, sobre um pouco de tudo. Como se um homem, à beira da morte, se pusesse a reflectir sobre o que foi, ou o que é, existir. Há pessimismo e há optimismo. Há fé e há desencanto, há espaço para um vasto leque de emoções, com os seus vários matizes.
Perturbação é, acima de tudo, um objecto estranho. Não há forma de aconselhar ou desaconselhar algo assim. Quem gosta de romances, não encontra aqui grande coisa que lembre o género. No entanto, quem gosta de ler, ler como exercício de exploração, dificilmente resistirá.

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