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Steven Saylor, pelo que tenho visto, é famoso pela vertente “policial” dos seus romances históricos. Gordiano, o Descobridor, é uma detetive que vive na Roma antiga e tem sido o grande personagem de uma série que é a Roma sub-rosa. Eu, até agora, tinha estado um pouco à margem disso porque tanto Roma como Império, os dois livros que li do autor, são um caso à parte e não estão relacionados com essa vertente “policial” nem com Gordiano.

Este livro é uma espécie de prequela a todos os de Gordiano. Passa-se quando ele passa a ser adulto e faz uma viagem pelas 7 maravilhas da antiguidade. Ao longo da viagem, em cada destino há um pequeno mistério que Gordiano resolve. Assim, ficamos a saber como é que ele acaba por se tornar o aventureiro dos outros livros.

A sensação, após a leitura, é a mesma do costume. Estes livros são giros, fazem-nos viajar, divertem, e permitem uma introdução à antiguidade. Para quem gosta mesmo de história a insatisfação é inevitável e os mistérios vão do fraco ao parvinho mas o resto vale bem a pena e passam-se uns bons momentos. Nunca percebi o conceito de livros de verão mas, se calhar, este é um desses.

 

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Este texto revela alguns aspetos da história. Embora sejam dados históricos, caso se queira ler o livro sem informação prévia, não aconselho a leitura. Podem saltar, com segurança, para os dois últimos parágrafos.

 

Não consigo deixar de sentir que, de certa forma, estou em dívida para com o Steven Saylor. Não escrevi nada sobre o livro Roma que li há uns anos, nas vésperas de uma viagem a Itália. Não o fiz precisamente porque fui de férias logo a seguir e depois passou o tempo.

Mas o que li agora foi a continuação desse livro. Ou seja, Roma conta a história da cidade ao longo de várias gerações, desde antes da fundação até à morte de Júlio César (cerca de mil anos). Império continua a história, desta vez centrando-se na história dos imperadores (de Augusto até Adriano, cerca de 130 anos).

Para conseguir contar esta história com um fio condutor, Saylor “criou” uma família que é quem vamos acompanhando ao longo das gerações que se vão sucedendo. E é na interação dos protagonistas desta família com os acontecimentos históricos, que vamos avançando na narrativa.

Império é um livro empolgante. Só podia. Os ingredientes são os melhores: o imperador Cláudio, meio idiota, que é enganado pelas suas esposas e envenedado pela última; Calígula, o louco que se declara deus e comete atos tão humilhantes e degradantes que é difícil ler; Nero, outro imperador maldito mas a quem Saylor dá um tratamento dúbio que é interessante mas, suponho eu, bem capaz de gerar polémica; Domiciano, talvez ainda mais terrível e nojento que Nero e Calígula… Bom, e isto são as figuras. Os acontecimentos são ainda piores, as descrições de torturas, da aplicação de tratamentos degradantes, nomeadamente na inauguração do Coliseu, obrigaram a que me encolhesse váris vezes e tivesse que parar um bocado. Mas nunca senti que Saylor escrevesse isto de forma gratuita. É que o império romano também era isto. Já visitei o Coliseu uma vez e, quando voltei a Roma, não quis lá ir novamente. Porque era precisamente o local onde havia espetáculos abjetos que, felizmente, não fazem já sentido por estes lados. Mas existiram. E conhecer a história de Roma é também conhecer isto. Se Saylor dá demasiado destaque a isso? Talvez. Mas não creio que o livro perca mérito por causa disso.

Para quem sabe muito sobre a história de Roma, talvez sejam romances inevitavelmente incompletos. Será impossível não contestar algumas das soluções encontradas pelo autor (a amizade entre Trajano e Adriano é demasiado efeminada e parece pouco convincente), e especialmente concordar com todas as suas escolhas e omissões. Mas o trabalho é de fôlego e merece alguma tolerância. Para quem sabe pouco, pelo contrário, talvez o livro apresente informação a mais. Também este resultado é inevitável.

Feita as (minhas) contas, adorei ler este Império. E espero que ainda haja um terceiro volume porque poucas histórias são tão fascinantes como a de Roma.

Uma última palavra para o lado “literário”. Não é de forma alguma um grande livro - é um livro eficaz, escrito de forma escorreita e simples . Quem quiser ler grande literatura a propósito do tema, tem nas Memórias de Adriano, de Yourcenar, o melhor exemplo do que é o romance histórico enquanto obra de arte. Vou ter que o reler, absolutamente.

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