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A vida, pelo menos a minha, é feita de viagens permanentemente adiadas. Pelo meio, há as que são feitas. Mas as viagens são como os livros: tantos destinos, tão pouco tempo. Também são como os livros porque se encavalitam umas por cima das outras para serem a próxima escolha. Também as prioridades mudam constantemente, também uma pode afetar as escolhas consolidadas de há muito e pôr tudo em causa.
Visitar as gravuras de Foz Coa tem sido uma dessas viagens sempre adiadas. E esta tem menos desculpa que as outras. É perto. Até já vivi bem mais perto de lá do que agora. Mas só há uns dias lá fui. Parace que em boa altura porque assim pude ver o Museu e fazer uma visita guiada em que se vai de jipe (pelo que me contaram as pessoas que lá foram, há uns anos não era assim).
O primeiro passo foi, portanto, visitar o Museu do Côa, magnífico exemplo de arquitetura que se integra no espaço, pelo menos quando estamos junto a ele. De longe, é capaz de não agradar a todos. Mas, adiante, nem tudo pode ser como o Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos (Faial, Açores), o qual foi “enterrado” debaixo das cinzas do vulcão que tenta explicar, ficando assim como que invisível.
Alguns pontos expositivos merecem destaque:
- a apresentação de vestígios em torres de vidros que funcionam como “camadas cronológicas”
- os desenhos técnicos em luz, permitem-nos ter uma noção mais precisa das figuras, facilitando imenso a tarefa de as identificar posteriormente nas pedras
- as pedras que se podem ver com lupas enormes
- a simpatia de um funcionário que veio ter connosco e se pôs a fazer-nos quase uma visita guiada, o que a tornou muito mais interessante
Depois de ver o Museu a vontade de ver as gravuras aumenta, claro. Mas não é logo ali, nem logo a seguir. Para se ver as gravuras é precisar sair do museu e percorrer alguns quilómetros, até chegar a um ponto de encontro na aldeia de Castelo Melhor. É daí que se vai de jipe para o local onde estão algumas gravuras. Pelo que percebi há três visitas que se podem fazer. A minha foi a das 16h à Penascosa. Há também uma visita noturna. Fiquei a saber que os estudiosos analisam as gravuras à noite, com os holofotes a incidir nelas parece que é a melhor forma de ver.
O que é fascinante nestas gravuras é que, na verdade, à primeira vista elas são apenas os tais rabiscos. Mas, com a ajuda da guia, e com o que aprendemos no museu, foi possível começar a ver os traços distintivos de algumas figuras. Não se sabe bem porquê mas os desenhos eram feitos uns a partir dos outros. A mesma linha pode servir de base a um cavalo de um lado e outro do outro.
A nossa guia, com uma vara, ia-nos mostrando os contornos das figuras. Era como que uma varinha mágica que, passando à frente da pedra, ia fazendo com que as figuras surgissem perante nós. O sentimento de começar, finalmente, a vislumbrar qualquer coisa é quase infantil. E tem o seu quê de emocionante.
O problema disto é que quero mais. Não é só em Foz Côa que muito ficou por ver. Uma nova viagem se anuncia ou, pelo menos, uma nova intenção: fazer um dia a rota das figuras rupestres Côa - Altamira - Lascaux - Chauvet. Espero um dia escrever um post sobre isso, significará que o fiz.
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