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Este livro andava lá por casa há uns anos. E eu há uns anos a prometer-lhe atenção. Há uns dias peguei nele, meio desconfiado mas decidido a dar-lhe o benefício da dúvida. É grande, a letra é pequena, se calhar ainda não vai ser desta, pensei. Bom, a verdade é que foi. Logo na primeira página dei por mim a sorrir, e foi melhorando. Embora se possa pensar à partida que esta é a história de um hermafrodita - e do seu percurso na vida, a verdade é que é muito mais do que isso.

Agora desculpem lá mas este livro é tão bom que só contando alguns dos detalhes da história é que eu consigo explicar. Por issso, o resto do texto não é aconselhável a quem não leu.

Surpreendentemente, logo no início somos transportados para a anatólia, onde Grécia e Turquia ainda disputam os territórios que virão a ser turcos. Está lá Mustafá Kemal, estão lá as idiossincrsias da região, o retrato do povo grego, e os avós do narrador que, nesse ano de 1922 irão partir, ou melhor, fugir, para a América. Uma vez lá, passam pela implantação do fordismo (com esta frase - "Um facto histórico: as pessoas deixaram de ser humanas em 1923."), pela lei seca, tornando-se o avô do narrador um traficante. Há também a crise de 29 e as mudanças a que esta obrigou. Há toda uma série de referências históricas que nos vão situando no mundo, por um lado, e no quotidiano das pessoas, por outro. Tanto somos introduzidos na revolução que é a emancipação femina, como assistimos à invasão de Chipre pela Turquia. Henry Kissinger, por exemplo, aparece neste livro, sempre visto como as pessoas comuns o terão visto. Só que estas pessoas comuns são invlugarmente interessantes.

Depois de mais de 300 extraordinárias páginas, então sim, vem a história do heramfrodita a sério. Por essa altura, apetecia continuar a assistir à história da família mas, afinal, temos mesmo que nos preocupar um pouco com a/o protagonista.

A forma como o narrador está desenhado é um dos pontos fortes da obra. Ilimitadamente omnisciente, é alguém que consegue relatar acontecimento de quando ainda não existia, e o seu próprio nascimento. Parece um narrador da literatura latino-americana e, no entanto, não o é (naquilo que em que isso é uma coisa boa). A forma como vai articulando os vários tempos da história, a forma como sabe ir situanado o leitor, como até é capaz de prever as suas dúvidas, tornam-no irresistivelmente divertido. Em português o sexo de quem fala é mais vezes identificável do que em inglês e isso deve tornar a leitura do original ainda mais peculiar. Enfim, a tradução portuguesa está correta e, às vezes, é memos muito boa. Mas esbarra, aqui e ali, numa indefinição um bocado embaraçosa. Identidade  genérica em vez de Identidade de Género? Enfim, o tema deixa qualquer um confuso/a…

Em resumo, quando um livro se "atreve" a ter mais 500 páginas, deve ter mesmo algo para dizer e, já agora, não deve ser uma repetição constante de uma mesma ideia. Eugenides começa bem, acelera, lança-se num romance fantástico e apenas se lembra da história principal lá mais para o fim. E é absolutamente delicioso assistir a isto.

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Acho que nunca me tinha acontecido nada assim. Em dois dos livros que estou a ler há uma espécie de citação comum.

Murakami, no 1Q84, fala sobre Chékov e, em particular, sobre a sua célebre afirmação de que se uma pistola surge na história, então ela tem que ser disparada.

No outro livro, Middlesex de Jeffrey Eugenides, a mesma referência à história da pistola.

Ainda não acabei nem um nem outro. Portanto, não sei se vão obedecer à regra, ou se alguma destas pistolas vai ficar sem disparar. Até agora, tanto uma como a outra resistem…

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