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Adoro Dostoievski e, no entanto, são mais os livros dele que li e não achei nada de especial do que aqueles que me marcaram de forma decisiva. Mas esses marcaram mesmo, bem fundo.

Tudo começou há muitos anos, na biblioteca, onde encontrei O Jogador e o Noites Brancas. Li-os e… pronto, não me encantaram, embora tenha ficado com a impressão de serem muito bons livros e um muito bom escritor.

Anos mais tarde lá peguei numa grande curiosidade que tinha Os irmão Karamazov. Acho que o mínimo que posso dizer é que este me ficou como o melhor livro que já li. É tão rico, tão intenso, tão empolgante que fiquei profundamente impressionado.

O livro seguinte foi Crime e Castigo - deu direito a um dos primeiros posts aqui do pedrices, está lá o que achei na altura. Não houve desilusão, confirmou-se o génio e a minha admiração por ele.

Foi há relativamente pouco tempo que voltei ao autor, desta vez com O Eterno Marido. Gostei mas sem sentir nada de especial.

Posto isto, ler Dostoievski pode ser, para mim, uma experiência fantástica, ou então uma leitura simples, sem nada de especial.

Mas este post é sobre O Idiota, e qual o lugar que esse livro ocupa na minha relação com Dostoievski? Pois bem, O Idiota  é mais um desses que me deixam insatisfeito, o pior é que tem mais de 600 páginas e, por isso, nos últimos tempos tenho-me dedicado a ele (com o Céline pelo meio, a acompanhar-me nas viagens de metro). Confesso que, a meio, pensei várias vezes em desistir, o que não é fácil quando já se percorreu tanto caminho - e eu detesto desistir de um livro, a não ser que seja logo nas primeiras 10/20 páginas. Mas, mais do que isso, é que não há propriamente uma razão para desistir. Estão lá todas as características de um grande livro, e mesmo as marcas do autor. Os personagens, até mesmo muitos dos secundários, são desenvolvidos com uma profundidade rara. Há densidade psicológica, há uma capacidade de criar momentos de grande intensidade. Há grandes personagens, com destaque para o próprio "idiota", o Princípe Míchkin. Tudo para ser um grande livro, e é. Mas creio que o leitor fica sempre um pouco à margem, mais como espectador do que noutros livros, em que Dostoiévski nos envolve de tal forma que nos sentimos parte da ação, vivendo com as personagens. Aqui, não senti muito disso. Pena para mim.

E ainda há muitos livros de Dostoiévski para ler :)

Entretanto, descobri no youtube uma adaptação do Idiota, e de outros clássicos russos. Parece interessante, a explorar com alguma atenção: http://www.youtube.com/watch?v=d5aNBjfgCS4

E há também este site, com informação útil e interessante para acompanhar o livro: http://community.middlebury.edu/~beyer/courses/previous/ru351/novels/idiot/idiot.shtml

 

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Noutro livro:

 

"(...) em qualquer ideia humana genial ou nova, ou simplesmente em qualquer ideia humana séria em vias de nascimento em qualquer cabeça, persiste sempre uma parte impossível de transmitir aos outros, nem que o autor escreva volumes inteiros e passe trinta e cinco anos a explicar a sua ideia; persistirá sempre qualquer coisa que não quer sair do seu crânio e ficará consigo para sempre; com isso morrerá, sem ter transmitido a ninguém a parte talvez mais importante da sua ideia."

 

p.408 de O Idiota, Dostoiévski

 

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Vários

20.10.11

Pronto, lá abandonei eu o meu pobre blog. Não é que não tenha lido nos últimos tempos. O tempo para escrever é que tem andado mais escasso. Pior, eu até vou escrevendo umas coisas, mas depois não chego a publicar.

 

Enfim, lamentos à parte, aqui fica um post que é uma manta de retalhos. São pequenas coisas que fui despejando para um documento word sobre várias coisas.

 

As Vinhas da Ira, de John Steinbeck

Já há muitos anos que não lia um livro de Steinbeck, e também já há muito que o queria voltar a fazer. Em boa hora peguei nestas Vinhas da Ira, um monumental romance sobre a procura de oportunidades num contexto de grandes dificuldades.

O final deste livro é absolutamente brutal e inesquecível. Claro que não vou contar. E não vale a pena espreitar, o efeito nunca será o mesmo, se é que se percebe.

 

Lost, a série

Pronto, vá, admito. Se calhar não tenho tempo para o blog porque passoa a vida a ver séries, né? Pois, sim, pode ser… Culpado.

Isto das séries tem que se lhe diga. Eu até não sou dos mais viciados, o meu problema é outro: não consigo ver um episódio esporádico. Se gostar, tenho que ver tudo. O que, no caso que se segue, não é nada bom… O texto, a partir do próximo parágrafo, foi escrito em momentos diferentes:

- quem nunca viu não deve ler o texto que se segue -

 Sinceramente, apesar de já ter visto quase todos os episódios (faltam apenas dois para chegar ao fim), ainda não sei se me posso considerar um fã da série LOST.

A primeira impressão não foi brilhante. Fiquei até desapontado porque tive que fazer algum esforço para ver os primeiros três ou quatro episódios. É certo que, logo ali, começam a acontecer coisas misteriosas que provocam alguma curiosidade. Por isso, lá fui prosseguindo. A certa altura, estava relativamente “agarrado”. Mas aquilo que me movia era uma curiosidade de “já agora”, bem diferente daquilo que me aconteceu com outras séries, nas quais o interesse era o grande motivo, e a curiosidade funcionava como desulpa para “vou ver só mais um”. Talvez convenha dizer que sou fão de séries como Sete Palmos de Terra (para mim, a melhor de sempre), Desperate Housewives (isso sim, um vício), ou Dexter.

Gostei muito da segunda série. Aí sim, acho que me tornei um fã. Havia a curiosidade mas havia também o interesse. Note-se que, nessa altura, ainda me parecia possível que houvesse uma explicação racional para tudo aquilo. E descobri-la era um interessante desafio.

A partir da terceira, começa a ser difícil aceitar que o desfecho não vá ter que meter o sobrenatural ao barulho. E isso traz-me um travo amargo. Nada contra o sobrenatural, mas quando ele é assumido sem reservas. O Lost parece ser sempre verosímil ou, pelo menos, há sempre essa expetativa. De qualquer forma, o final da terceira série é, para mim, absolutamente avassalador. O último episódio é o mais fascinante de todos, sendo um daqueles momentos que justificam o visionamento de todos os outros. Quando se pensa que se está a ver uma projeção do futuro e a série acaba deixando a dúvida, há ali um momento intensíssimo. Só que daí parte-se para as 4ª e 5ª séries…

Viagens no tempo, gente que não envelhece, ressureições, física e mística, religião e paganismo, tudo se começa a misturar num bolo que perde consistência. Enfim, vê-se, claro que sim, como entretenimento, e do bom, mas se fosse assim do início era muito mais honesto. Desta forma, parece que não se conseguiu dar vazão ao que se foi criando e, portanto, vem o sobrenatural explicar porque é a única maneira de o fazer.

E pronto, a última temporada. Ainda não vi um episódio de jeito. E há momentos de profundo ridículo como a missão do guardião da ilha ser… proteger a luz. Pronto, ok, faltam dois episódios e ainda bem. É que mais achas para esta fogueira iam provocar, certamente, muitos feridos.

Pronto, já vi. Epá… os meus piores receios confirmaram-se. Não conseguiram estar à altura… Foi fraco, muito fraco, especialmente pela conclusão que é dada a um tempo paralelo que se tinha criado, no qual o avião não tinha caído. Esse elemento, o único verdadeiramente interessante da série 6, tornou-se um fiasco por se assumir como uma espécie de purgatório inconsequente. Uma treta…

Claro que a série valeu a pena. Mas que fica irremediavelmente mais fraca por causa deste final, lá isso fica.

 

O Cisne Negro, o filme de Darren Aronofsky

(alguns spoilers, não aconselho a leitura a quem não viu)

Não sei muito bem se devia escrever algo sobre este filme. Por um lado, claro que sim, porque é um objeto interesantíssimo mas, por outro, não gostei de tanta coisa que não sei se vale a pena. Pois, o problema é esse: gostei muito e não gostei nada de imensas coisas neste filme.

Comecemos pelo talvez óbvio, a dança, vista por dentro, com uma câmara que acompanha os movimentos do bailado de uma forma quase indecente (aliás, esta câmara é definitivamente indecente, muito para lá das cenas de dança, e não só nas cenas de sexo. Bom, mas quanto a isso, viva a indecência!). Isto já bastava para eu querer ver o filme mas foi muito melhor do que eu esperava.

Depois há a Natalie. Acho que a interpretação é notável, ainda para mais, implicando tudo o que implicou, em termos de esforço físico de aprendizagem. Mas não é só isso, ela é aquilo que esta personagem podia ser, e é-o inteiramente. Veja-se a cena em que ela fala com a mãe ao telefone, a dizer-lhe que ficou com o papel. A alegria contida é tão extrordinariamente interpretada que fica, para mim, como uma cena clássica.

Mas, depois, há, aqui e ali, um mistério, ou um elemento de surrealismo. Enfim, qualquer coisa que parece querer levar este filme a ficar entre o The Others e o Persona. E isso era profundamente dispensável.

Há o final extraordinário também. Mas parece-me ensombrado pelos tais laivos de surrealismo que parecem só existir para dar alguma ocupação aos efeitos visuais e mostrar talento de quem os fez. É chato, é estúpido, e tira ao filme uma aura profundamente humana que ele tinha.

 

Bel-ami, de Guy de Maupassant

Um livro delicioso, com uma dessas histórias de alpinismo social como se lê em tantos outros romancistas do séc. XIX. Só que este é um dos melhores.

 

Paris, o filme de Cédric Klapisch

Quando escrevi este post não sabia que, alguns meses depois, iria voltar a Paris J:

Um filme que vale pela cidade, antes de mais. Depois, há o que acontece. Ou melhor, o que não acontece. Não há bem uma história, não há bem personagens bem construídos. Há momentos, acontecimentos, aqui e ali, na vida de algumas pessoas. E vamos assistindo a tudo isto da mesma forma que, no final, um dos personagens percorre Paris de táxi e se vai cruzando com os outros. Assistimos e revemo-nos, num ou noutro caso. Ou não. Este não é um filme de exemplos ou de lições, é apenas um filme sobre aquilo que acontece, ou vai acontecendo, tendo como pano de fundo uma cidade que é, como sempre, ela própria, uma grande personagem.

 

The Humbling, de Philip Roth

Mais um livro de Philip Roth e, desta vez, creio que é um livro a aconselhar a quem quiser conhecer este escritor. Em primeiro lugar, por ser bastante pequeno, mas, por outro lado, contém um pouco de tudo o que Roth é capaz de fazer.

A história é curta e limitada. Desenvolve-se em três atos, sendo que, no primeiro, temos um Roth clássico, a desenvolver os seus personagens. Depois, no segundo, é a estranheza que se começa a desenvolver, quando o improvável começa a acontecer e a mudar tudo. O terceiro ato, leva-nos ao Roth provocador, com descrições sexuais ao nível do Portnoy.

O livro é limitado porque estes personagens poderiam ser desenvolvidos a um nível muito maior. Num livro de 300 ou 400 páginas, muitos dos acontecimentos que aqui mais marcam seriam apenas episódios. Neste caso, tornam-se o principal da história. Não sei bem até que ponto isso é bom. O que sei é que este é um livro para ler de um trago, para nos prendermos apenas naquilo a que a história nos leva. É um livro de liberdade de um autor que já fez tanto e tão bem que não precisa de justificar linha a linha as opções que toma.

À parte algumas inverosimilhanças, e eu não sei até que ponto isso interessa aqui, há nestas breves páginas uma espécie de peça de teatro, um livro que se lê no mesmo tempo em que se vê uma peça, um livro que termina com uma perfeição formal impressionante. Mesmo quando é previsível, Roth é um mestre.

 

No Coração desta Terra, de J.M. Coetzee

Um dos melhores livros de Coetzee, ao nível de Desgraça e A Idade do Ferro. Frio, seco, brutal, sempre brutal. Frases inesquecíveis de um personagem que acompanhamos sem perceber onde está o real e o imaginado, com o estilo concretíssimo de Coetzee. Como é que algo tão bruto pode ser tão belo? Como é que Coetzee consegue ter um estilo tão único e vincado, parecendo que não tem estilo e apenas sendo simples?

ou

Acho que já esgotei os meus elogios ao Coetzee e, no entanto, pego em mais um livro dele e, de repente, tudo o que eu já disse parece pouco. Este No Coração desta Terra tem entrada direta para o top dos meus livros preferidos de Coetzee. Lado a lado com o Desgraça e com A Idade do Ferro. Porém, este é um livro muito diferente, com laivos de surrealismo que não existem normalmente no autor. Por exemplo, aqui nunca se sabe o que é real e o que é imaginado. Somos levados a explorar o interior de uma personagem de uma forma tão íntima que é perturbadora. Mas sempre sem sabermos onde está a fronteira entre aquilo que é uma alucinação, ou um desejo, e aquilo que efetivamente aconteceu.

Mas o mais interessante disto é ficar a pensar: como é que algo tão bruto, tão cru, tão perturbador, pode ser tão belo? Como é que um livro tão desencantado pode ser tão extraordinário?

É Coetzee… Pois.

 

 

 

Auto-de-Fé, de Elias Canneti

Este livro provocou-me uma curiosidade enorme. Vi-o nas livrarias e apaixonei-me logo por ele. Li as primeiras páginas e fiquei encantado. Continuei a ler, até ao fim da primeira parte, completamente fascinado.

Depois. Foi-se. Parece que o livro que eu estava a ler morreu e se transfomou numa coisa bizarra e sem interesse.

Pode ser muito bom na mesma mas, para mim, acabou quando acabou a primeira parte.

 

Solaris

Epá, desisti quando já ia em cento e tal páginas. Não, não é para mim. ‘Bora ver o filme do Tarkovsky.

 

A Melhor Juventude, o filme de Marco Tullio Giordana

Este filme, divido em duas partes de umas três horas cada, merece cada segundo da duração que tem. Ainda bem que me deu na cabeça para tentar vê-lo. Nunca mais pensar em não ver um filme por ser demasiado grande. Como diz o Roger Ebert na sua crítica (http://rogerebert.suntimes.com/apps/pbcs.dll/article?AID=/20050331/REVIEWS/50310004/1023) são seis horas de duração mas também são seis horas de profundidade. E que nenhum filme, quando é bom, pode ser grande demais.

 

Uma Abelha na Chuva, de Carlos de Oliveira

Este livro é uma pérola. Onde é que eu andava? Pequeno mas escrito de forma tão magistral e tão cheio de literatura que apetece guuardá-lo para ler mais vezes, muitas vezes.

 

O Eterno Marido, de Dostoievsky

Há algum tempo que eu não me dava mal com um livro de Dostoievsky. Quer dizer, não é mau e tal. Mas eu espero sempre tanto dele que nem sempre acontece. Não aconteceu.

Não me interpretem mal, é um ótimo livro e aconselhável. Mas se nunca se leu O Crime e Castigo ou Irmãos Karamazov é  para esses que é urgente correr.

 

A Solidão dos Números Primos, de Paolo Giordano

Pronto, sim, é giro. Tem uma boa estrutura, uma história que entretém. Mas porque é que este livro teve tanto sucesso? É mesmo só giro.

 

Canino, o filme

Muito mau o que foi feito com algo que podia ser tão bom. Veja-se Haneke e os seus Jogos Perigosos para perceber como este filme podia ter sido extraordinário. Este Canino não serve para nada. E é pena, uma grande pena.

 

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(leitura não aconselhada a quem não leu o livro) 
 


Crime e castigo é, antes de mais, um livro de sonho, classificação estranha para um livro como este mas que se explica brevemente. Qualquer leitor de policiais (género que não visito muito mas que me entusiasma particularmente) deseja, ou, lá está, sonha, com um livro assim. Isto porque a leitura é empolgante, porque as personagens têm uma densidade invulgar e, porque, o suspense se mantém da primeira à última linha, apesar de o principal ser revelado desde o início.
Já se sabe que Dostoiévski é um artesão perfeito da explicação das profundezas da natureza humana. E é também alguém que consegue colocar tudo o que um homem é entre as capas de um livro. O que Dostoiévski acrescenta em Crime e Castigo, às suas habituais explorações, é a tese da superioridade de alguns em relação a outros. O personagem principal deste livro é um criminoso que comete um crime porque acredita que tem o direito de o fazer. Esta tese é não só aplicada como, também, explorada academicamente num artigo escrito pelo próprio personagem que depois a debate com outros ao longo do livro. Ora, de uma tese deste tipo nasceria, possivelmente, um livro perigoso. No entanto, Dostoiévski apresenta o seu personagem, e esta sua “ideologia”, de forma tão subtil, tão bem sustentada, e tão admiravelmente condenada ao absurdo, que não há forma de deturpar o pensamento e a lógica daquelas premissas.
Muito se fala do arrependimento, e da análise do mesmo, na análise desta obra. Para muito, o castigo é, verdadeiramente, o calvário que o arrependimento provoca. Ao pé disso, a reclusão não parece, sequer, suficiente ou poderoso. Porém, acredito mais num Crime e Castigo como análise do fracasso. Note-se que Dostoiévski conviveu com criminosos quando esteve na Sibéria. A partir desta obra conclui-se, facilmente, que os conheceu muito bem e que ficou apto a estudá-los em profundidade. Por isso mesmo, porque nem toda a gente se arrepende daquilo que fez; e porque todos procuramos um sentido, algo que justifique as nossas acções, parece-me que Crime e Castigo é, sim, uma análise do fracasso de um homem. Alguém que cometeu um crime porque achou que era melhor do que a vítima, tendo, por isso, esse direito. O grande desafio parece ser, muito mais, o de conseguir cometê-lo sem ser apanhado do que o acto em si. Há até comentários sobre como toda a gente erra e acaba por falhar. Raskolnikov tentou ser melhor, achou que foi melhor mas, pelo pânico de achar que podia ter cometido erros, acabou por se enredar numa teia que o leva a várias consequências diferentes das que desejava: é descoberto, num caso; confessa o crime, noutro. Para mais, nesta confissão, acaba por ser ouvido por uma terceira pessoa que passa, assim, a saber também que foi ele o autor do crime.
O fracasso é, aqui, já absoluto. Quando Raskolnikov, finalmente, se vai entregar, já falhara em tudo aquilo a que se propusera. O desprezo pelos objectos do roubo levam-nos a perceber que nada mais interessava do que cometer o crime perfeito, aquele em que não se é apanhado ou descoberto.
Acrescente-se também que o “pecado original”, o crime a cometer, leva a um efeito colateral, uma outra morte. Também esta não aparece como motivo para se pôr em causa o principal.  Nas reflexões de Raskolnikov, nos seus reforços de como matar uma velha inútil e má não é motivo de arrependimento, esta segunda morte é relegada para segundo plano. Aparece mais como um incómodo, algo que foi necessário fazer, um detalhe infeliz. Isto só reforça a tese principal, os fins justificam os meios.
O fracasso de Raskolnikov é total porque acaba por ser apanhado e, em parte, por sua própria culpa. O que resulta na conclusão óbvia de que quem se julga superior aos outros, quem se arroga a ser melhor, matando sem escrúpulos, por vaidade pessoal, acaba por ser algo bem diferente de um homem melhor que os outros. O que nos tornamos, nesses casos, pelo contrário, é algo de muito inferior, e fracassado.

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