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Não foi nada fácil esta leitura. Há muito pouco de agradável em Céline como, acho eu, provam os vários posts que fui fazendo com o "Diário de Leitura". E, como se vê, Céline tem, no mínimo, isto, uma capacidade de mexer connosco que é poderosíssima e invulgar. Ler Céline implica algum estômago. O texto é corrosivo, cru, muitas vezes de mau gosto. Mas é assim mesmo, é uma viagem ao fim da noite, uma viagem de escuridão, de coisas podres, um retorno a algumas ideias-base que são, no fundo, aquilo que mais genuinamente somos. Céline pode ter sido um homem execrável, provavelmente foi-o; ao ler isto, acredita-se ainda mais. Isso não lhe tira mérito enquanto observador implacável, e desencantado, sem ilusões, daquilo que nós somos. A literatura também é isto, esta força, esta acidez.

 
Para saber mais sobre de que trata o livro, recomendo: http://oqueeuleio.blogspot.com/2011/05/viagem-ao-fim-da-noite-louis-ferdinand.html

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"Como não passamos de recintos com tripas mornas e quase apodrecidas, havemos sempre de ter dificuldades com o sentimento. Estarmos apaixonados não é nada, mantermo-nos os dois juntos é que é difícil. A imundície, essa, não procura resistir nem desenvolver-se. Aqui, neste ponto, somos bem mais infelizes do que a merda; no nosso estado, a fúria de preservação constitui uma tortura incrível."

 

p. 287, Viagem ao Fim da Noite, Céline

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ainda Céline:

 

"(...) a juventude talvez não seja senão isso, entusiasmo em envelhecer.

Em todo o nosso passado ridículo descobrimos tanto ridículo, tanta aldrabice, tanta crueldade, que talvez desejássemos acabar de vez com isso de sermos jovens, esperar que a juventude se desprenda, esperar que nos ultrapasse, vê-la ir-se, afastar-se, olhar para toda a sua vaidade, chegar com a mão ao seu vazio, vê-la passar de novo à nossa frente e depois partirmos nós, ficarmos certos de que realmente a juventude se foi e tranquilamente, pelo caminho que é muito nosso, passarmos vagarosamente para o lado de lá do Tempo, e então observarmos como as pessoas e as coisas realmente são."

 

p. 248

 

"Que não se alimentem ilusões, as pessoas nada têm a dizer umas às outras, sabido é que cada qual só fala das suas próprias mágoas. Cada um por si, a terra para todos"

 

p. 252

 

 

"No fundo de todas as músicas há que ouvir a ária sem notas feita para nós, a ária da Morte."

 

p. 256

 

Viagem ao Fim da Noite

 

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Ainda Céline:

 

"À medida que nos deixamos estar num lugar, as coisas e as pessoas vão ficando descompostas, apodrecem e começam expressamente a cheirar mal por nossa causa."

 

p. 238

 

 

E sobre Veneza:

 

"Morria-se lá de fome tão bem como noutro lado... Mas respira-se um cheiro a morte sumptuosa, que depois não é fácil esquecer."

 

p.247

 

in Viagem ao Fim da Noite

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Mais Céline: 

 

"Do aglomerado saía um cheiro de entrepernas urinado, como no hospital. Se nos falassem, tínhamos de evitar-lhes a boca porque o interior dos pobres já cheira a morte." 

 

"Tornamo-nos rapidamente velhos, e de forma irremediável. Apercebemo-nos disso pelo jeito que apanhamos de amar a nossa própria desgraça, mesmo sem crer."

 

"Os estudos modificam-nos, fazem o orgulho de um homem. É preciso passar por eles para entrarmos no fundo da vida. Antes, só giramos à sua volta. Supomo-nos libertos mas esbarramos com ninharias. Sonhamos de mais. Escorregamos em todas as palavras. Isto não é isto. Só em intenções, aparências. Um homem resoluto precisa de outra coisa."

 

in Viagem ao Fim da Noite

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Ler Céline é um pouco como passear por Roma. Tropeça-se constantemente em algo que nos assombra. É capaz de não ser propriamente belo, é decadente e grotesco, mas impressiona sempre.

 

Na Viagem ao Fim da Noite tenho encontrado coisas como:

 

"Com a desesperadora estabilidade do calor, todo o conteúdo humano do navio coagulou numa bebedeira em massa."

 

"Imagine-se que estava de pé, a cidade deles, completamente direita. Nova Iorque é uma cidade de pé. Já tínhamos visto cidades, pois claro, e muito belas também, e portos, e por sinal famosos. Mas entre nós as cidades estão deitadas, não é verdade?, à beira-mar ou junto dos rios, estendem-se na paisagem, esperam o viajante; enquanto aquela, a americana, não ia em desmaios, não, mantinha-se ali toda empinada, nada disposta a que se pusessem nela, empinada de meter medo."

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