Por vezes, acontece isto: entusiasmo-me com um livro, devoro-o com avidez durante algum tempo e, a certa altura, tudo começa a mudar, o entusiasmo dá lugar ao cansaço e o livro passa a ser uma experiência frustrante.
Durante umas 150 páginas assisti, fascinado, à incursão do diabo por Moscovo. Bulgakov faz um retrato extraordinário dos vícios e defeitos da sociedade moscovita, parecendo o diabo um justiceiro, tal é a falta de virtude daquelas pessoas.
Para além disso, há a história de amor de Margarita. No entanto, quando a ela se chega, a fantasia já foi tanta que o interesse que o livro tinha se perdeu. O fantástico, quando servido em doses generosas, como é o caso, torna-se, para mim, profundamente aborrecido. E, neste livro, há bruxas que voam nuas em vassouras, sobre Moscovo. Há gatos que falam, há pessoas que são “teletransportadas”, há dinheiro que aparece e desaparece. Tudo isto muito divertido, tudo isto bem escrito. Infelizmente, não é para mim.
É verdade que este livro tem tudo para ser considerado um clássico, e é-o. A sua profunda originalidade e mestria na construção dão-lhe direito a esse estatuto, que eu não contesto. A nível pessoal, foi uma leitura fascinante até me parecer que se torna demasiado exagerado e perde a subtileza dos primeiros capítulos.
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