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Catalogar este livro não é fácil. Vê-lo como romance não é convincente. Vê-lo como autobiografia é melhor, mas não se percebe onde começar a acaba a realidade. Por outro lado, talvez isso não interesse muito. Encarei-o como um ensaio. E é um ensaio sobre a morte e como é que se vive com essa ideia de que vamos morrer. Ou melhor, como é que o narrador vive com isso. Sinceramente, não é o livro mais interessante sobre o assunto. Para quem se interesse pelo tema, o livro De Frente para o Sol, de Irvin D. Yalom, acho eu, é bem mais compensador. Mas Barnes é um escritor, e Yalom um contador de histórias. Por isso, a comparação é capaz de não ser justa.

Foi o meu segundo livro de Barnes depois de ter lido o magnífico O Sentido do Fim. Claro que, se for comparar, este Nada a Temer fica a perder, mas talvez também não seja uma comparação justa. Lá está, este é um ensaio, o outro é ficção. Concluo apenas que vale a pena ler Barnes mas, para já, fico com a ideia de que é muito melhor ler a sua ficção. Mas ainda voltarei a este tema porque está cá em casa um outro livro de Barnes, e também de ensaio...

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Este livro e eu tivemos um caso, um desses casos de amor à primeira vista. Lembro-me que o vi pela primeira vez num blog, onde alguém falava de como a capa daquele livro, na altura ainda por sair, era bonita. E eu, que também achei, fiquei imediatamente rendido. Quase me apeteceu fazer um post só para dizer que ali estava um caso de um livro que apetece mesmo comprar só por causa da capa. Mas claro que não passava disso, julgava eu.

Uns dias depois, conheci-o numa livraria. Peguei-lhe e fui lendo um pouco. Fiquei logo preso. Deixei-o com a convicção de que haveria de voltar. Já não era só a capa, era algo mais. Já não o achava apenas bonito por fora, comecei a achar que era também bonito por dentro. Não é isso o mais importante?

Bom, passados alguns dias, ofereceram-mo. Resisti durante algum tempo, até porque havia outros livros já a meio. Mas foi mais forte do que eu. Ontem à noite, como quem não quer a coisa, fui buscá-lo à estante. Li-o quase todo e, agora já chega de desvios, vamos lá falar deste O Sentido do Fim. Apesar de eu ter tido algum cuidado, o texto que se segue pode ter elementos que revelam demasiado do livro para quem nunca o leu.

O início do livro invoca recordações. Não sabemos ainda o que são, mas avançamos com curiosidade. Pelos vistos, trata-se de uma história de adolescentes. Amizades, literatura, amor, sexo, todos os ingredientes de uma história com alguns rapazes. Os apontamentos filosóficos abundam, mas surgem completamente integrados na história, com um sentido de oportunidade acutilante, nunca nada é forçado na escrita de Barnes.

Depois, esta primeira parte acaba. E a vida passa depressa, o nosso protagonista, ainda agora tão jovem, já está no fim da vida. E o resto do livro é o de um olhar para trás. Mas agora o olhar é diferente, a idade avançou e, por isso, também a forma com se vê e sente a vida são diferentes. Um elemento do passado regressa e faz com que Tony, é este o nome do nosso rapaz-que-agora-é-velho, tenha que recuar nas suas memórias para rever o que fez, quem foi, o que sentiu. A grande descoberta é que o passado, afinal, muda no presente, e muda muito por influência do futuro. Recordar pode ser, também, transformar. E esta talvez seja a grande reflexão que este magnífico livro nos oferece.

Mas ainda há mais, perto do fim. Quando o livro já parecia ter dado tudo o que teria, há mais. É então que a história, propriamente dita, se revela, alguns traços inesperados começam a aparecer, certos mistérios começam-se a revelar. O livro sobre o tempo e a memória transforma-se também no livro sobre o remorso.

 O Sentido do Fim tem apenas 150 páginas. Mas tudo nele é tão rico que se sai delas com muito mais do que o tamanho faria adivinhar. Percorrer um período que vai desde a adolescência até à velhice, em tão pouco espaço, de uma forma tão eficaz, não é para todos. Barnes é um mestre na forma como organiza a narrativa, e faz deste livro uma pérola, bem brilhante.

   

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