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Tenho alguma dificuldade em escrever sobre este livro. Por um lado, deu-me um enorme prazer lê-lo e é, num certo sentido, um interessantíssimo livro de história, de sociologia, de psiquiatria, e até mais. Por outro, contém uma tese que me parece a vulgar resistência à mudança, ou o vulgar lamento por se perder aquilo que de que se gosta, mas o gosto pessoal não deveria ser assim tão importante, no que diz respeito a analisar a realidade. E o problema é esse, é que querer estar contra uma série aspetos que mudaram na nossa vida por causa da internet, é correr contra a realidade. Por mais que seja necessário que nem sempre nos acomodemos ao que muda, também me parece certo que há mudanças que são de outro tipo, acontecem naturalmente e, se as lamentamos, isso é apenas uma questão pessoal.
Mas o curioso neste livro é que eu, não concordando com a sua tese central, o recomendaria a toda a gente, tanto aos mais "internéticos" como aos mais pessimistas. Lembrar que também houve quem achasse que a escrita nos ia transformar numa coisa menos interessante é, no mínimo delicionso. Tão delicioso como será, daqui a umas centenas de anos, olhar para o surgimento de algum tipo de movimentos contra a internet, ou contra a evolução tecnológica.
Pessoalmente, não gosto de algumas mudanças que a tecnologia trouxe, como as redes sociais. Não gosto porque não me revejo na forma como muitos dos "meus amigos" as usam. Acho que são amplificadores da banalidade, muitas vezes da estupidez. Mas isso é uma coisa pessoal. Por isso, cá vou mantendo o meu pequeno blog de número mínimo de visitantes (quase que me orgulho disso, na verdade). No entanto, reconheço vantagens e maravilhas nisso, não tenho é paciência para o "lixo" que invade a página principal do facebook. Não deixa de ser verdade que também pouco me dou ao trabalho de o configurar para não ser tanto assim. Ou então é dor de corno por quase nenhum dos meus amigos conhecer o meu blog mas todos me perguntarem sobre o facebook e se eu não vi não sei o quê que já toda a gente sabia menos eu...
Também não gosto dessa forma de estar em que o telemóvel é rei absoluto e tem um protagonismo excessivo. Eu, de vez em quando, ando sem ele. Vou correr sem ele, gosto de o deixar em casa nas férias. E isto é uma forma de estar, em nada afeta as vantagens dos telemóveis e, pelo contrário, me faz usá-lo tirando partido daquilo que realmente ele me traz de vantajoso para o dia a dia.
Isto tudo para dizer que, como sempre, as ferramentas têm muito a ver com a forma como são usadas e eu não consigo aceitar o contrário. É verdade que Carr tem razão, a ferramenta não é completamente neutra e modifica-nos. Mas isso não deixa de ser, em grande parte, responsabilidade pessoal. O mundo atual não tem tecnologia a mais, tem é responsabilidade a meno e (e muitas outras coisas, mas fiquemo-nos por essa). E a tecnologia tanto pode piorar como melhorar isso.
Também não me consigo identificar com o autor naquilo que talvez o tenha motivado a escrever o livro: o facto de ter dificuldade em se concentrar, em ler de forma profunda. Quanto mais uso a internet e, acreditem, uso muito, imenso, até para estrelar um ovo a consulto, não perdi a vontade de ler livros. Precisamente pelo carácter fragmentário da informação que encontro na rede, passei a ter ainda mais necessidade de aprofundar temas. O google ajudou-me muito. É espantoso poder ver no google imagens algumas das coisas sobre as quais estou a ler. É que há algo que é fundamental, e Carr aborda levemente, os conteúdos não são orientados para "ensinar", como é natural. Mas quando são, ou quando nós os sabemos usar para aprender, então o melhor de dois mundos junta-se: a nossa capacidade cognitiva encontra um recurso que lhe permite consultar quase tudo o que é preciso para construir conhecimento.
Que a maior parte das pessoas não tira daqui vantagens intelectuais, que não se torna menos "superficial", que não aproveita as oportunidades, também me parece evidente. Mas essas pessoas iriam a uma biblioteca pesquisar livros anteriormente? Não me parece. Os superficiais continuarão a sê-lo e serão cada vez mais. Os outros também, como sempre.
Mas deixem-me voltar ao início. Este livro é imperdível. Provoca desconforto, faz diagnósticos certeiros e outros completamente ao lado, faz pensar. E é de leitura compulsiva. Enfim, faz aquilo que, há séculos, os livros andam a fazer aos nossos cérebros, modificando-os, tal como faz a internet.

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1 comentário

De João a 17.03.2013 às 02:03

Olá.

Achei este post interessante, não porque tenha lido o livro, mas sim, porque abordas nele a questão da superficialidade.

Apenas queria comentar a certa altura em que dizes que quem era superficial antes continua a sê-lo agora.

É verdade, mas não podemos deixar de distinguir a acessibilidade da informação. Penso que muitas vezes a superficialidade se deve mais a uma preguiça mental to que a ter um acesso mais ou menos dificultado.
Na maior parte das vezes as pessoas têm é uma preguiça em descodificar a informação. Esperam que todas as respostas estejam no google, o que âs vezes acontece, mas muitas vezes não é bem assim. Essa preguiça é que provoca a falta de iniciativa para conhecer e saber mais.

Por muito que à nossa geração seja, agora, natural a convivência com o mundo da informação actualizada ao segundo, temos que ver que é algo que aconteceu demasiado rápido. O mundo evolui a uma velocidade exponencialmente maior e as pessoas, apesar de acharem que sim, ainda não se habituaram a essa nova velocidade. E se calhar nunca se vão habituar, mas voltando ao que eu dizia, esta velocidade alterada com que as coisas se processaram e continuam a processar apanha toda uma geração que cresceu sem internet a viver agora com ela e, em muitos casos, a não saber o que fazer, exceptuando o transporte dos acontecimentos curriqueiros do dia-a-dia para um plano cibernético. Basicamente o que eu quero dizer é que vinte anos não é o suficiente para toda uma população utilizadora da internet conseguir usar a mesma de forma abrangente.

Contudo, não deixa de ser chocante a forma como algumas pessoas quase rejeitam o conhecimento que está à mão de semear.

Mas bem, não é que venha concordar ou discordar do que disseste (ou do que o livro dirá) mas de facto, o tema é algo no qual costumo perder bastante tempo a pensar e então decidi dar a minha opinião.

Cumprimentos.

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