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Primeiro, foi a premissa do livro que me atraiu:

Através das ruas de Manhattan, um jovem médico nigeriano deambula sem destino. 

Promete, não é? Também pode não resultar mas fiquei entusiasmado, lá o comprei e, porque havia outros à frente, acabei por deixá-lo na estante e fui-me esquecendo dele. Em boa hora, muito boa hora, lhe peguei há uns dias. O livro não só cumpre o que promete mas, para mim, foi uma surpresa total. Esperava fragmentos interessantes, pequenas histórias de pessoas comuns, talvez ricas pela vertente humana. Mas o que li não é só isso. Há momentos neste livro que são quase tratados. Discussões acutilantes sobre problemas complexos, como o terrorismo ou a discriminação. É admirável a forma como o autor consegue, relatando pequenas conversas, captar o essencial mas sem ficar pela rama. Houve momentos em que tive que parar de ler para ficar só a pensar, raras vezes fiquei tanto tempo parado a olhar para um livro a tentar perceber o argumento do outro e as suas consequências. Portanto, aquilo que me parecia uma leitura engraçada foi muito mais do que isso.

Há também uma honestidade que surpreende. Por exemplo, quando o narrador descobre que um certo grupo de pessoas com quem está são ruandeses. A forma como eles mudam aos seus olhos, por saber de onde são. Quantas vezes isto nos acontece, mas não se vê escrito desta forma tão concreta.

Depois, hás as cidades, neste caso, Nova York, mas também Bruxelas; esta última, insuspeita de ser uma boa “personagem” para um romance, não ficou nada mal. Fiquei a pensar que deve ter sido a primeira vez que li algo sobre Bruxelas num livro de ficção. Uma cidade tão cosmopolita e tão central mas que parece estar sempre fora das atenções (a não ser, claro, que haja uma desgraça). De certa forma, as instituições que lá estão são protagonistas de tal forma poderosas que o cenário passa para segundo plano. Não sei porquê mas Londres ou Paris nunca se deixam abafar. Lembrei-me de alguns dias que passei em Bruxelas, há alguns anos, anos em que se podia olhar para a diversidade de Bruxelas, para o seu cosmopolitismo, como um sinal de dinamismo, de centralidade. Agora, quando tudo o que é diversidade aparece tantas vezes descrito como sinal de tensão, apeteceu-me recordar esses anos. Apeteceu-me passear no Martim Moniz, em Lisboa, o ponto da cidade onde mais se sente o mundo, e fazer o mesmo que o autor deste livro: deambular, ouvir, pensar, discutir, conhecer o outro para me conhecer melhor. As cidades abertas são tão melhores que as cidades fechadas.

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Black Mirror

01.11.16

E se todos tivessemos um implante que filma tudo o que fazemos e, portanto, pudessemos aceder às nossas memórias a qualquer momento? E se as pudessemos projetar, a qualquer momento, num ecrã e mostrar aos outros? Como seria uma discussão entre um casal, havendo esse recurso? Até que ponto poderíamos exigir ao outro que nos mostrasse as suas memórias para aferir da verdade do que nos está a dizer que fez?

 

E se estivessemos permanentemente rodeados de ecrãs com programas a passar e com publicidade que nos dava créditos para a vermos mas que também obrigasse a ter crédito caso não a quiséssemos ver?

 

E se a reação de um primeiro ministro à chantagem de um rapto estivesse refém dos tweets e reações do público nas redes sociais?

 

E se, perante a morte de alguém querido, pudessemos fazer upload de toda a sua informação online para um programa informático que seria capaz de interagir connosco como se fosse essa pessoa?

 

Estes são apenas alguns dos exemplos que servem de base a uma séria perturbadora que tenho andado a ver: Black Mirror. Está no Netflix e funciona com episódios independentes uns dos outros mas que são intrigantes e cheios de questões assustadoras sobre a tecnologia e a forma como ela nos pode trazer novos e incrivelmente complexos problemas éticos.

 

A ver, para pensar.

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