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Já que hoje é dia do livro vou falar de uma coisa diferente: um jogo de consola. E porquê? Porque eu ando há imenso tempo para ler As Cruzadas Vistas Pelos Árabes, de Amin Maalouf mas, desde que li o Samarcanda, fiquei desanimado. Bom, no outro dia a coisa resolveu-se, e da maneira mais inesperada. Estava eu a jogar Assassin’s Creed na Playstation quando me lembrei do livro. O jogo é verdadeiramente interessante (mas também chato, às vezes) porque a ação ocorre durante o tempo das cruzadas e em algumas das cidades mais importantes (Damasco, Jerusalém). O jogador é um dos assassinos de uma seita que existiu realmente. Mas andar ali de um lado para o outro, a saltar telhados e a localizar “inimigos” fez-me largar a consola e pegar no livro. E em boa hora o fiz. Primeiro, porque o livro é fantástico e lá fiz as pazes com o Maalouf. Segundo, porque o jogo se tornou muito mais interessante, agora que estou ainda mais envolvido no contexto histórico.

 

Isto tudo para dizer que no mundo de hoje, onde se fala tanto do declínio do livro, ele continua a ser o melhor dos companheiros, até para jogar playstation.

 

Bom dia do livro!

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Há uma coisa de que gostei muito neste livro - o título. De resto, deixem-me começar por dizer que também gostei muito do segundo livro de Rui Cardoso Martins até escrevi aqui, na altura, "palpita-me que a literatura portuguesa ganhou um autor de peso". Esse segundo livro chama-se Deixem Passar o Homem Invisível. Bom, mas não é sobre esse que agora escrevo.
Se Eu Gostasse Muito de Morrer está cheio de tentativas. Quer ter estilo, quer ser polémico aqui e ali, quer ser interventivo (denunciando um massacre em África perpetrado por portugueses), quer ser reflexivo. Quer muita coisa. Mas, na minha opinião, consegue muito pouco daquilo a que se propõe. O principal problema é ser tão óbvio na procura de efeitos que acaba por ser mais o projeto de um livro do que um livro propriamente dito. O problema começa com um narrador que até parece interessante por falar consigo próprio e alternar diálogos e intervenções de outros no seu discurso. Mas é inconsistente. Tão depressa parece simplório como, de repente, se atira a discursos sobre o niilismo num diálogo com um padre que é tão inverosímil como deslocado naquele momento do livro. Porém, é precisamente aí que o texto começa a enveredar por um campo diferente que o torna relevante como até aí não o fora.Mas, mais uma vez, perde-se. Há uma sequência sobre suicídios e os seus tipos que parece uma colagem de textos retirados da internet. Pode até ser essa a intenção, mas empobrece o texto de forma irremediável. Pior, só mesmo a citação de clássicos como Crime e Castigo, revelando o enredo de forma descarada e desnecessária.
Saíu há pouco tempo um novo livro. Não sei se o lerei. Se tivesse começado por este, nunca teria lido o segundo que é tão bom... Por isso, fico num dilema.

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Novo Coetzee

17.04.13

Ainda não tem edição portuguesa. Por isso, é desta que eu o leio no original. Está lá em casa, à minha espera. Mas já foi lido e diz que é bom. Pois claro, é Coetzee. 

Já agora, não, não é esse Jesus, não tem nada a ver!

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Ora aqui está um livro daqueles de que se pode gostar muito e nada. E, note-se, estou a falar das duas coisas ao mesmo tempo. 

Coisas boas: o livro é francamente divertido, muitas vezes hilariante, com um personagem incrível - Reilly que se pode caracterizar como um gordo de cerca de 30 anos que vive com a mãe, é terrivelmente misantropo, e torna infernal a vida de quem está à sua volta. A mãe não é muito melhor e, devido a um incidente, vai ser preciso que o gordo arranje um emprego. Mas é tão estúpidamente arrogante que é capaz de insultar tudo e todos mesmo quando está a fazer as mais inacreditáveis idiotices.  

Coisas más: este Reilly é terrivelmente estúpido, e não é o único neste livro. E eu fico, a certa altura, a pensar que estou a ver um daqueles programas em que as pessoas têm protagonismo por não valerem nada. 2 ou 3 minutos e já chega. No caso deste livro, gostava que tivesse menos de 200 páginas (tem 300). É que, a partir de certa altura, já não estamos a obter nada, pelo contrário, estamos a dar demasiado tempo e demasiada atenção a um idiota absoluto.

 

Conclusão: valeu a pena e fartei-me de rir mas… 

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Belo texto, este, sobre o novo dos The National:

 

http://ipsilon.publico.pt/musica/texto.aspx?id=318665

 

Já falta pouco para voltar a ouvir as canções de uma das bandas mais consistentes da atualidade. Já há várias "amostras" no youtube. Vou deixar aqui esta, Humiliation, e não digo mais nada...

 

http://www.youtube.com/watch?v=rXS9xlaL1sk

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Li Naipaul há muitos anos e sempre tive vontade de voltar. Especialmente porque, embora o “tema” África não me seduza nada, adorei o livro. Naipaul dá às suas histórias, e aos seus personagens, contornos tão ricos em termos de diversidade de origens (ele próprio é assim) que consegue tornar tudo muito mais sedutor do que poderia ser.

 

Finalmente, voltei a lê-lo. Neste caso, a estrutura do livro é curiosa. É um misto entre romance e livro de contos. Primeiro, lê-se uma história, depois outra e, às tantas, chega-se a uma maior, com o mesmo título do livro. As histórias são, de facto independentes, e até se passam em locais diferentes. Mas a impressão de unidade é notável. São pessoam num limbo, talvez desenraizadas, talvez só perdidas, talvez só insatisfeitas.

 

Não é, suponho, do melhor Naipaul que se pode ler, mas serve como introdução e é, de facto, uma viagem porque o poder de nos transportar para o cenários em que as histórias ocorrem é, aqui, invulgarmente poderoso.

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Tenho uma rotina quase sagrada há anos. Sempre que vejo um filme, ou sempre que quero saber se devo ver um filme, vou ao IMDB e, depois de entrar nos detalhes do filme, consulto as “external reviews”. Não me interesso pela classificação do público, ou os votos, ou essas coisas que hoje são tão absurdamente valorizadas. Nesses external reviews há links para críticos, especialistas, pessoas que escrevem a sério e com conhecimento de causa sobre sobre cinema. Foi aí que me habituei a consultar sempre 2 críticos: James Berardinelli e Roger Ebert.

É sobre Rogert Ebert que gostava de deixar algumas palavras. Já com atraso, assinalo aqui a sua morte. Tinha 70 anos, dezenas de livros escritos sobre cinema e esse site que é um tesouro onde se podem ler os seus textos. Não se concorda sempre com ele, longe disso, mas ganha-se sempre qualquer coisa com o que escreveu.

 

Vou ter saudades de lhe “perguntar” a opinião sobre novos filmes. Felizmente, no que diz respeito ao passado, vou poder continuar a seguir a minha rotina.  

http://rogerebert.suntimes.com/

Thumb_roger-red-seats

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Pronto, está reposta a verdade, já vi o filme de que falei no post anterior. E valeu bem a pena. Em primeiro lugar, foi uma grande surpresa. Esperava que o Mitchell fizesse um filme ousado, eventualmente polémico, com choque. Mas não, há um respeito tão grande pelo tema, uma abordagem tão contida, tão manifestamente envolvida emocionalmente, que fiquei rendido.

Quem não quiser saber o tema do filme não deve continuar a ler. Mas é difícil não saber, tão difícil quanto lamentável. É que o filme demora a revelar a sua história. Trata-se de um casal que perdeu um filho há 8 meses, uma criança de 4 anos. Demoramos algum tempo a saber. Durante uma parte do filme vamos percebendo que aconteceu qualquer coisa, mas não sabemos o quê. Não é difícil perceber mas, de qualquer forma, é apreciável a forma como tudo nos vai sendo revelado. A partir do momento em que sabemos, o filme assume a sua narrativa e as consequências daquela morte. Não há nada de espetacular, não há cenas de fazer chorar as pedras da calçada, não. Há apenas um desfilar de pequenos momentos, de conversas, de tentativas de aproximação, de deterioração de relações. Há momentos de choque mas construídos com palavras, gestos, olhares, sem concessões comerciais. Longe, tão longe, das imagens absolutamente radicais de Shortbus, o filme choque de Mitchell.
Não gosto menos dos filmes anteriores por este ser tão diferente e, num certo sentido, um filme tão mais maduro e tão mais completo enquanto objeto cinematográfico. Pelo contrário, só comprova a enorme sensibilidade artística de John Cameron Mitchell.

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Só pode. É que não se trata de ainda não ter visto: Não se trata de estar na “lista” e nunca mais chegar a vez dele. Não, trata-se de pura e simples ignorância - eu não sabia sequer que este filme existe. Primeiro ainda pensei que tinha acabado de estrear. Mas não, é de 2010.

 

Por isso, peço desculpa ao John Cameron Mitchell que deve ser um dos artistas que mais admiro mas que tanto tenho desprezado. Quer dizer, ele anda sempre no meu ipod (a banda sonora de Hedwig é cantada por ele próprio), e o Hedwig e o Shortbus são dois filmes que nunca esqueço quando penso nos que mais gosto (especialmente o primeiro), mas é incrível que eu não soubesse deste filme. Ainda por cima, sendo um filme com a Nicole Kidman, nem deve ser assim tão desconhecido.

 

Bom, vamos lá ver este Rabbit Hole.

 

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Eu sei que muita gente ficou desiludida com este livro por causa das expetativas geradas em redor dele. Mas isso das expetativas é uma coisa a que tento não dar qualquer tipo de importância. Um livro não devia valer por aquilo que eu espero que ele valha, mas sim valer por si ou, e isso também é importante, por aquilo que ele provoca em mim.
Posto isto, a pergunta óbvia é o que é que este livro provocou em mim. A primeira resposta é: um intenso prazer. E este prazer digamos que o posso dividir em duas vertentes; a primeira, a do entretenimento, senti-me a ler o argumento de uma telenovela. Há anos que me deixei disso e, sinceramente, é coisa que desprezo. Mas lembrei-me ao ler este livro de como as histórias de intrigas familiares, de casamentos, de traições, de segredos, de diários secretos, podem ser entusiasmantes quando são bem escritas. Os diálogos, por exemplo, são extraordinários, complexos mas muito, muito concretos. Lê-se como se se ouvisse. Convém notar que li o original em inglês, não sei se sentirá o mesmo em português (o pouco que fui espreitando da edição portuguesa pareceu-me muito bem). Mas este livro não é só entretenimento, é também uma análise bastante interessante da sociedade americana dos últimos anos. Franzen contruiu personagens que realmente apetece seguir, e isso facilita, claro. Num livro onde há gente que tem Thomas Bernhard como escritor preferido, há qualquer coisa de salutar. Enfim:

 

"Richard is one of those bizarre people who actually still read books and think about things", Walter said.

 

Pois. É isso. Os personagens de Franzen parecem pensar. Pensar para além das suas histórias particulares. Eles discutem, eles mostram as suas ideias. Alguns são ativistas (Walter defende os pássaros mas, sobretudo, defende que não devíamos ter tantos filhos por causa da sobrepopulação do planeta). Falam do Iraque, do Afeganistão, de Obama, de decisões políticas, do 11 de Setembro, do apoio dos EUA a Israel, estão ligadas à realidade. Mas sempre de uma forma muito concreta e verosímil, apresentando um retrato que, se calhar, faz falta. Note-se isto:

 

In terms of locking up habitat to save it from development, it's a lot easier to turn a few billionaires than to educate American voters who are perfectly happy with their cable and their Xboxes and their broadband.

 

Não há cinismo aqui, embora pareça. Mas é a forma de fazer com que aconteça o que se quer que aconteça. E aqui está-se a falar de ativismo a favor do ambiente.

 

Mais interessante ainda é a forma como os partidos são caraterizados nas discussões. Selecionei esta entre várias:

 

(...) that's what I find so refreshing about the republican Party. They leave it up to the individual to decide what a better world might be. It's the party of liberty, right? That's why I can't understand why those intolerant Christian moralists have so muche influence on the party (...)

 

Talvez seja porque eu ando a ler os livros errados, mas adoro estas discussões que são sobre a vida atual, sobre o que está a acontecer agora no mundo. E este livro está cheio disso. Méritos literários à parte, até porque não os sei avaliar da mesma forma fora da minha língua, este é um romance à Dostoievski, naquilo que o grande mestre russo tem de capacidade de pintar um retrato completo a partir das suas personagens.

Nas mais de 600 páginas há momentos que parecem desequilibrar o romance. A autobiografia de uma das personagens, escrita na terceira pessoa e com o mesmo estilo do resto do livro, parece pouco convincente (estou a falar da técnica, não do conteúdo). Há um ou outro momento (estou a evitar spoilers) em que acontece algo demasiado conveniente para o enredo mas demasiado forçado para a vida real. De resto, a estrutura é complexa: anda-se para trás e para a frente e vê-se a história a partir de diferentes personagens. Explicar isto seria complicado, ler é fácil. Nunca me senti perdido, pelo contrário, fui-me sentindo cada vez mais bem informado.

Tenho lido por aí que o livro anterior, Correções, é melhor. Hei de tirar isso a limpo.

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