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Mini férias

31.03.13

Quem me acompanha talvez recorde que já escrevi umas coisas sobre o imperador Adriano. Pois bem, estive de mini férias e, para além de livros, tive direito a um pouco mais de Adriano. Depois conto, mas fica aqui o primeiro momento em que ele se cruzou comigo, no museu municipal de Faro.

 

Foi completamente por acaso, mas ele apareceu no incício da viagem em que um dos destinos seria visitar o local onde ele nasceu.

 

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Como vou ter uns diazinhos de férias para a semana, e o David Copperfield é demasiado grande para levar comigo, andei pela minha estante há procura de algo mais fácil de transportar (o Kindle também vai - nesse ando a ler as 650 páginas do Liberdade do Franzen, mas aí o tamanho nunca interessa, está sempre no ponto). Ora, deparei-me com este Correr com Tesouras que já não me lembro quando comprei mas sei que estava, na altura, muito entusiasmado. Às vezes acontece, não se leem os livros logo na altura e vão ficando esquecidos. Foi o que aconteceu com este. Então peguei-lhe e comecei a ler. A ideia era ler 10 ou 20 páginas, só para perceber se o queria mesmo ler nas férias. Bom, acabei por ler 240 quase sem parar (tem 280, mas já estava mesmo com sono). Isto parece bom, certo? Certo, parece, mas não é. Li assim porque queria mesmo ler este livro mas percebi, ao fim de pouco tempo, que se o largasse nunca mais lhe pegava. Agora, como só faltam 40 páginas para terminar, claro que o vou fazer.

O livro é uma espécie de biografia de um rapaz com 12 anos e uma famíla, ou melhor, duas famílias altamente disfuncionais. Parece que a coisa é real e, por isso, suponho que tenha sido esse o factor de sucesso do livro. Não sei. Literariamente é pobre, mas isso até se podia desculpar se a história fosse realmente interessante. Claro que prende um bocado, apetece ficar a saber como se vai safando este pobre Augusten. Mas descobri depois que até há um filme e, se calhar, valia mais… Reconheço que não tenho paciência para estes livros tão “light” e que não são capazes de mover-se com a profundidade que os personagens até mereceriam. Para quem gosta, suponho que deve ser bastante divertido. Ri-me bastantes vezes. E também é bastante visual. Felizmente, foi uma leitura tão rápida que nem chateou.

 

Atualização: Já li as restantes 40 páginas. No final, tal como nos filmes, aparece uma breve descrição do que aconteceu a cada uma das personagens. O que aumenta ainda mais a falta de profundidade desta história enquanto livro. 

 

Entretanto, lá voltei à estante. Ainda lá tenho um V. S. Naipaul por ler. É desta. E vai ser bom!

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O dia exige poema. E acho que este é belíssimo. No entanto, parece-me que as traduções para português têm um problema qualquer com a última frase, que é  o verdadeiro músculo do poema, o que lhe dá um impulso para outra dimensão. Por isso, deixo aqui o original alemão e uma tradução para inglês. 

 

Archaïscher Torso Apollos


Wir kannten nicht sein unerhörtes Haupt,
darin die Augenäpfel reiften. Aber
sein Torso glüht noch wie ein Kandelaber,
in dem sein Schauen, nur zurückgeschraubt,

sich hält und glänzt. Sonst könnte nicht der Bug
der Brust dich blenden, und im leisen Drehen
der Lenden könnte nicht ein Lächeln gehen
zu jener Mitte, die die Zeugung trug.

Sonst stünde dieser Stein entstellt und kurz
unter der Schultern durchsichtigem Sturz
und flimmerte nicht so wie Raubtierfelle

und bräche nicht aus allen seinen Rändern
aus wie ein Stern: denn da ist keine Stelle,
die dich nicht sieht. Du mußt dein Leben ändern.



Torso of an Archaic Apollo

Translated by C. F. MacIntyre


Never will we know his fabulous head
where the eyes' apples slowly ripened. Yet
his torso glows: a candelabrum set
before his gaze which is pushed back and hid,

restrained and shining. Else the curving breast
could not thus blind you, nor through the soft turn
of the loins could this smile easily have passed
into the bright groins where the genitals burned.

Else stood this stone a fragment and defaced,
with lucent body from the shoulders falling,
too short, not gleaming like a lion's fell;

nor would this star have shaken the shackles off,
bursting with light, until there is no place
that does not see you. You must change your life.

 

From Rilke: Selected Poems (Univ. of California Press, 1957)
 
Tirado daqui: http://unix.cc.wmich.edu/~cooneys/poems/gr/Rilke.html

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Novo Saramago

18.03.13

Há notícias que me fazem um sorriso triste, mas ainda assim é um sorriso.

 

Um livro novo de Saramago, sai em Abril.

 

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Temos, cá em casa, o hábito de classificar as pessoas que achamos interessantes em termos de saber se são alguém com quem gostaríamos de jantar ou não. Ou seja, é uma espécie de prova dos nove, se eu digo, "o escritor x é muito interessante", logo vem a pergunta, "mas era interessante para ir jantar, ou só para beber café?". E assim nos vamos entretendo a classificar os interesses.
Orhan Pamuk é, definitivamente, uma das pessoas com quem eu mais gostaria de jantar. Em primeiro lugar, por ser turco. Pode parecer pouco, pode parecer parvo mas há muitos anos que mantenho um intenso interesse pela Turquia. Por isso, e porque não há muito da cultura turca que chegue até nós, Pamuk é um dos poucos escritores turcos que conheço. Mas, para além disso, há a sua obra que eu acho admirável, especialmente porque nos leva precisamente para aquilo que a Turquia tem de mais interessante, as suas contradições, a sua (o)posição ocidente-oriente, os conflitos, as mudanças brutais que têm afetado o país. Tudo isso está nos romances de Pamuk, e está também muito mais. Há nos seus textos um humanismo invulgar, uma honestidade crua mas bela. Este livro de que falo não é um dos seus romances, tem como subtítulo "Ensaios sobre a vida, a arte, os livros e as cidades", é um longo e delicioso jantar com Pamuk. A verdade é que ainda não acabei de o ler. Tenho-o há uns 3 anos e ainda não o acabei. É uma espécie de livro de cabeceira para ir lendo, e cada vez que lhe pego delicio-me. Por isso, não preciso de acabar de o ler para deixar aqui este texto, até porque não sei durante quantos mais anos continuarei a lê-lo sem o terminar. Não interessa, quero apenas recomendá-lo a quem goste de ler sobre literatura, ler sobre Istambul, ler sobre as relações ocidente-oriente, sobre arquitetura, sobre pintura, sobre tanta coisa. Para mais, este volume inclui também o belíssimo discurso de aceitação do Nobel. Enfim, como o próprio descreve na primeira linha, "este é um livro feito de ideias, imagens e fragmentos de vida que ainda não encontraram lugar num dos meus romances.", e ainda bem que ele decidiu partilhar isso connosco.
Olhando para trás, percebo também que o pedrices existe, em parte, por causa de Pamuk. Um dos primeiros textos que escrevi foi sobre Neve, talvez o seu romance mais extraordinário. Escrevi o texto porque a experiência de o ler foi tão intensa que senti essa necessidade. Depois, comecei a fazê-lo para outros livros. E, pronto, nasceu o pedrices. E, já que digo isto, devo dizer também que o primeiro livro que li dele foi A Vida Nova, um intrigante romance sobre um livro que muda a vida de quem o lê e que é pretexto para uma singular viagem de autocarro pela Turquia. Não posso dizer que os livros de Pamuk mudaram a minha vida, mas tornaram-na melhor, de uma forma que só os livros de Saramago fizeram.

imagem tirada de: http://www.orhanpamuk.net/

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Babei...

14.03.13

Uma viagem de sonho, com um pretexto de sonho:

 

http://www.cnc.pt/Noticias.aspx?ID=1133

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Tenho alguma dificuldade em escrever sobre este livro. Por um lado, deu-me um enorme prazer lê-lo e é, num certo sentido, um interessantíssimo livro de história, de sociologia, de psiquiatria, e até mais. Por outro, contém uma tese que me parece a vulgar resistência à mudança, ou o vulgar lamento por se perder aquilo que de que se gosta, mas o gosto pessoal não deveria ser assim tão importante, no que diz respeito a analisar a realidade. E o problema é esse, é que querer estar contra uma série aspetos que mudaram na nossa vida por causa da internet, é correr contra a realidade. Por mais que seja necessário que nem sempre nos acomodemos ao que muda, também me parece certo que há mudanças que são de outro tipo, acontecem naturalmente e, se as lamentamos, isso é apenas uma questão pessoal.
Mas o curioso neste livro é que eu, não concordando com a sua tese central, o recomendaria a toda a gente, tanto aos mais "internéticos" como aos mais pessimistas. Lembrar que também houve quem achasse que a escrita nos ia transformar numa coisa menos interessante é, no mínimo delicionso. Tão delicioso como será, daqui a umas centenas de anos, olhar para o surgimento de algum tipo de movimentos contra a internet, ou contra a evolução tecnológica.
Pessoalmente, não gosto de algumas mudanças que a tecnologia trouxe, como as redes sociais. Não gosto porque não me revejo na forma como muitos dos "meus amigos" as usam. Acho que são amplificadores da banalidade, muitas vezes da estupidez. Mas isso é uma coisa pessoal. Por isso, cá vou mantendo o meu pequeno blog de número mínimo de visitantes (quase que me orgulho disso, na verdade). No entanto, reconheço vantagens e maravilhas nisso, não tenho é paciência para o "lixo" que invade a página principal do facebook. Não deixa de ser verdade que também pouco me dou ao trabalho de o configurar para não ser tanto assim. Ou então é dor de corno por quase nenhum dos meus amigos conhecer o meu blog mas todos me perguntarem sobre o facebook e se eu não vi não sei o quê que já toda a gente sabia menos eu...
Também não gosto dessa forma de estar em que o telemóvel é rei absoluto e tem um protagonismo excessivo. Eu, de vez em quando, ando sem ele. Vou correr sem ele, gosto de o deixar em casa nas férias. E isto é uma forma de estar, em nada afeta as vantagens dos telemóveis e, pelo contrário, me faz usá-lo tirando partido daquilo que realmente ele me traz de vantajoso para o dia a dia.
Isto tudo para dizer que, como sempre, as ferramentas têm muito a ver com a forma como são usadas e eu não consigo aceitar o contrário. É verdade que Carr tem razão, a ferramenta não é completamente neutra e modifica-nos. Mas isso não deixa de ser, em grande parte, responsabilidade pessoal. O mundo atual não tem tecnologia a mais, tem é responsabilidade a meno e (e muitas outras coisas, mas fiquemo-nos por essa). E a tecnologia tanto pode piorar como melhorar isso.
Também não me consigo identificar com o autor naquilo que talvez o tenha motivado a escrever o livro: o facto de ter dificuldade em se concentrar, em ler de forma profunda. Quanto mais uso a internet e, acreditem, uso muito, imenso, até para estrelar um ovo a consulto, não perdi a vontade de ler livros. Precisamente pelo carácter fragmentário da informação que encontro na rede, passei a ter ainda mais necessidade de aprofundar temas. O google ajudou-me muito. É espantoso poder ver no google imagens algumas das coisas sobre as quais estou a ler. É que há algo que é fundamental, e Carr aborda levemente, os conteúdos não são orientados para "ensinar", como é natural. Mas quando são, ou quando nós os sabemos usar para aprender, então o melhor de dois mundos junta-se: a nossa capacidade cognitiva encontra um recurso que lhe permite consultar quase tudo o que é preciso para construir conhecimento.
Que a maior parte das pessoas não tira daqui vantagens intelectuais, que não se torna menos "superficial", que não aproveita as oportunidades, também me parece evidente. Mas essas pessoas iriam a uma biblioteca pesquisar livros anteriormente? Não me parece. Os superficiais continuarão a sê-lo e serão cada vez mais. Os outros também, como sempre.
Mas deixem-me voltar ao início. Este livro é imperdível. Provoca desconforto, faz diagnósticos certeiros e outros completamente ao lado, faz pensar. E é de leitura compulsiva. Enfim, faz aquilo que, há séculos, os livros andam a fazer aos nossos cérebros, modificando-os, tal como faz a internet.

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Pronto, sim, eu sou uma daquelas pessoas que “não percebe nada de matemática”. Ainda não sou capaz de fazer contas sem usar os dedos e os “problemas” que são apresentados às crianças na escola continuam a ser um desafio para mim. Assim de repente, tenho que pensar muito, e provavelmente não chego lá, se me perguntarem qual é a definição de um número primo, ou o que é afinal o Pi (embora goste muito do filme do Aranofsky com o o mesmo nome).  Posto isto, de vez em quando, lá faço umas incursões nestes domínios obscuros, e até já li o Matemática para Totós.

 

Bom, mas então vamos lá ao livro do post. Este Alex no País dos Números não ensina propriamente a fazer contas. Explica, isso sim, a evolução que a matemática foi tendo e as grandes questões que foram sendo colocadas.  É absolutamente fascinante. Desde perceber porque raio é que precisamos de contar (e falando de povos que praticamente não têm esse conceito), até às questões que levanta a existência do Pi, passando pelos jogos tipo Sudoku, o autor leva-nos a percorrer enigmas e soluções com um ritmo espantoso. É, sem dúvida nehuma, o mais agradável e informativo livro que já li deste tipo. Diria que está para a matemática como o Cosmos do Carl Sagan para a ciência (estou a ser muito pouco preciso na utilização do termo “ciência”, mas acho que me podem desculpar). Mas a verdade é que não sou nenhum especialista na matéria e, portanto, é bem possível que haja por aí outros livros bem marcantes que eu não conheço.

 

De qualquer forma, este é daqueles que não é preciso gostar do tema. É mesmo muito bom. E, finalmente, posso enfrentar conversas onde falem de geometria não euclidiana sabendo o que isso é. E o quanto uma batata pringle pode ser útil para o perceber…

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É através da leitura de romances, contos e mitos que acabamos por compreender as ideias que governam o mundo onde vivemos; é a ficção que nos dá acesso às verdades mantidas em segredo pelas nossas famílias, escolas e sociedade; é a arte do romance que nos permite perguntar quem realmente somos.


in Outras Cores, Orhan Pamuk, p. 237

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