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Ora aqui está um livro com tudo para eu gostar. E não, não aconteceu. Com a ação em dois tempos, no século XI e no início do século XX, este livro começa por contar a história de  Omar Khayyam e, até aí, é realmente interessante. Embora o ache seco e sem paixão. Ou seja, uma rigorosíssima reconstituição histórica, mas sem chama. Já a segunda parte, achei simplesmente sem interesse.

Enfim, não resultou comigo. Mas não é nada mau, nada mesmo.

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Andava há imenso tempo para ler um livro desta autora. E este é capaz de ser aquele que menos me interessava. Mas foi ele que apareceu lá em casa, portanto, havia que aproveitar. Em boa hora o li, embora me pareça muito sobrevalorizado no que por aí vejo escrito/dito sobre ele. Em primeiro lugar, talvez seja injusta a crítica que vou fazer de seguida. O livro é o que a autora escreveu ou aquilo que dizem sobre ele? Esta discussão, que passa por saber se a obra ainda pertence ao autor depois de este a “libertar”, não pode ter lugar aqui, não é o espaço nem o tempo para isso. O que ressalta é que se O Retorno fosse o que dizem que ele é, seria um péssimo livro, muito fraco. Se O Retorno é o livro que a autora escreveu, sem mais pretensões do que abordar a questão dos retornados, a partir da visão de um adolescente, então é um livro interessante e, acima de tudo, uma leitura agradável. O problema, se é que há algum, está, portanto, numa certa ambivalência que é provocada, antes de mais, pela opção tomada em relação ao narrador. A verdade é que a visão de um adolescente não permitiria que o livro fosse além de uma relativa superficialidade que, no caso desta temática, parece desaconselhável. Mas o texto não é fiel ao seu pressuposto, e este adolescente descreve muito mais do que se esperaria, está atento de uma forma ago estranha. E isto provoca uma relativa sensação de artificialidade porque, logo a seguir, voltamos a ser recordados de que é um adolescente quem fala. Enfim, adolescente bastante adulto, mas só às vezes. Não consegui resolver este conflito na minha leitura. Ora, este é um dos aspetos que eu tenho visto mais elogiados – a coerência da narrativa, a precisão estilística, etc. Eu vejo um narrador que numas coisas é “muito à frente” e faz uns comentários muito interessantes e adultos e, noutros, se refugia no óbvio, ou seja, não vai mais à frente porque não seria normal que um adolescente o fizesse. Depois há a mãe, que podia ser um contraponto interessante, trazendo à história elementos que o narrador não poderia trazer. Mas não, a mãe não é boa da cabeça, por isso, não serve. Enfim, há o pai, esse parece um homem de ideias firmes, talvez o personagem que mais valeria a pena conhecer, aquele que mais nos poderia mostrar o que era ser um português em Angola que, de repente, se vê a peder tudo. Mas não, o pai é arredado da narrativa e vai aparecendo e desaparecendo, ao sabor das conveniências e não ao sabor daquilo que era bom que fosse. Nada contra. Mas é pena. Nada disto faz com que O Retorno seja menos agradável de ler. Na verdade é bastante. O estilo é eficaz e fluido, embora seja, muitas vezes, Lobo Antunes. O que não é nada mau, tendo em conta que é um Lobo Antunes com uma narrativa inteligível para contar. Tudo isto para dizer que O Retorno, como livro sobre o ultramar e o drama dos retornados, como documento de uma época, não é grande coisa. Porque é que o classificaram como tal, então? Eu diria que é precisamente por faltarem livros sobre o tema. Se houvesse mais, este seria mais um, apenas mais um e, se calhar, um dos mais agradáveis de ler, de forma alguma um dos mais profundos. No fundo, o problema deste O Retorno não é provocado por ele, mas sim pelo que não existe à volta. É como se ele tivesse a obrigação de ocupar um espaço que clama por ser preenchido e que, por isso, ao mínimo vislumbre de um candidato, logo se levantam vozes a dizer que chegou o prometido. Libertemos então o livro de tudo isso. O Retorno é um livro que conta a história de um miúdo que é um dos chamados retornados. Através dessa história, conhecemos um pouco do drama que esse episódio da nossa história foi para os seus protagonistas. E pronto, o livro fica exatamente onde está, na história de um episódio da vida de um puto e da sua família. E isto já fez dele um livro a ler, mas só porque é giro. Para ser justo, devo admitir que pouco percebo de literatura portuguesa que se tenha debruçado sobre o tema dos retornados. Em parte este crítica é altamente condicionada por aquilo que li de outros. Mas, outra vez invocando a justiça, devo referir os livros de Guilherme de Melo (especialmente A Sombra dos Dias) que, não sendo literariamente nada de especial, entram bem fundo nisso de ter vivido nas antigas colónias portuguesas. Que pena O Retorno não ser esse grande livro sobre os retornados, uma espécie de reencontro de um certo país com a sua história. Que pena e, no entanto, não temos o direito de exigir que ele seja mais do que aquilo que é. Eu não sei o que a autora quis mas aos críticos pedia-se um pouco mais de ponderação, acho eu.

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Há livros que sabemos o que são mesmo sem os lermos. Podemos até falar sobre eles com alguma propriedade e, no entanto, nunca os termos conhecido realmente. Este é um desses casos. Muitos sabem o que é o big brother e tem noção do que “orweliano” pode querer dizer. Acontece muito com estas chamadas distopias, o número de leitores é bastante diferente do número daqueles que conhecem a história. E isto não deixa de revelar algo sobre a qualidade dessa mesma história, ou do seu poder. Infelizmente, na minha opinião, esses livros também podem ser fracos em termos literários. É o que se passa com o Nós de Zamiatine ou o Fahrenheit 451 de Ray Bradbury, ambos comentados aqui no pedrices, ambos livros em que apreciei a importância da história, mas em que a leitura não foi propriamente agradável.

1984 distingue-se por ser um livro que leva mais a sério as suas premissas, que literariamente não é extraordinário mas está muito bem escrito, que se preocupa não só em ser coerente consigo próprio mas também com  o mundo em que se inseria, na época do autor, e em que se inseriria, se esta distopia se concretizasse. Até uma nova língua Orwell inventa, e usa-a durante o livro, dedica-lhe um apêndice, explica-nos com assinalável detalhe como ela funciona.

Escrever livros sobre algo que afeta todas as dimensões da vida e à escala planetária, é uma tarefa gingantesca. Por isso, normalmente usam-se pequenos microcosmos que sejam representativos do todo, e daí tiram-se as consequências para o resto do conjunto. Mas Orwell atira-se com coragem à tarefa de explicar todo o mundo (até com o requinte de um ensaio sobre geopolítica e geoeconomia). E nem sequer se fica por apenas um dos lados, explicando o ponto de vista do estado totalitário do Grande Irmão, mas também o ponto de vista dos seus detratores. As teses são, aqui e ali, forçadas. Especialmente a ideia de que a multiplicação do bem estar leve a cidadãos mais conscientes e mais exigentes em termos políticos. No entanto, raramente ficamos com a ideia de que aquilo que Orwell preconiza é completamente descabido.

Não é, de facto, preciso ler 1984 para poder falar sobre ele, ou saber do que ele trata. Mas é um livro demasiado importante para não ser lido, e lê-lo é uma experiência quase radical, de imersão num mundo alternativo, que toca o nosso de tantas formas que, no limite, é capaz de criar algum embaraço. Ainda bem, se assim for.

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Já há muito tempo, escrevi eu aqui no pedrices que andava a ler uns contos de Bolaño em espanhol, e que dava para perceber que ele era um grande escritor. Os contos eram realmente viciantes e diferentes do habitual.

Agora estou a olhar para este Os Detetives Selvagens, um livro de 500 páginas que se fosse um livro de contos, e em grande medida até o é, eu provavelmente consideraria excelente, e não consigo evitar esta sensação de que estive a assistir a um enorme exagero.

Bolaño é um grande escritor. E isto é pura literatura, de grande nível. Certo. Mas Bolaño devia também ser o primeiro admirador de si próprio. Posso estar a ser injusto, claro, mas é a sensação que me dá. Escreve tanto, tanto, que enjoa. As ideias repetem-se, os tiques estilísticos são muitas vezes os mesmos, a história tem um rumo tão desordenado que parece pretender ser um puzzle só porque o efeito de ser um puzzle é giro e provoca sensação.

Mas claro que no meio disto se percebe que há ali uma escrita assombrosa. O livro é quase todo constituído por fragmentos (e nem sequer acho interessante a tarefa de tentar dar-lhes sentido) e, por isso, pode ser lido como se leem contos. Aí sim, há grandes histórias e o livro chega a ser brilhante.

Mas 500 páginas disto é claramente chover no molhado. Ao princípio, enquanto esta sensação não se instala, especialmente na primeira parte do livro, que tem uma estrutura de diário, a leitura é altamente viciante e agradável, pena é que dure apenas cento e tal páginas e depois comecem os fragmentos, quase até ao fim, altura em que é retomado o diário. Tarde demais, o enjoo já se instalou.

Grande livro, sim senhor, grande escritor, sim senhor. Mas menos…

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