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Nunca mais
a tua face será pura limpa e viva,
nem teu andar como onda fugitiva
se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
do teu ser. Em breve a podridão
beberá os teus olhos e os teus ossos
tomando a tua mão na sua mão.

Nunca mais amarei quem não possa viver
sempre,
porque eu amei como se fossem eternos
a glória, a luz e o brilho do teu ser,
amei-te em verdade e transparência
e nem sequer me resta a tua ausência,
és um rosto de nojo e negação
e eu fecho os olhos para não te ver.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

 

 

Sophia de Mello Breyner Andresen

 

 

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Sem que estivesse eu preparado para tal, aconteceu-me um dia, ao ler o Ensaio sobre a Lucidez, ter uma epifania, a mais intensa de sempre, quando durante um diálogo percebi ser aquele livro como que uma continuação desse outro ensaio, o da Cegueira. Tão perturbado fiquei que não mais o larguei enquanto não fiquei a saber tudo sobre o que acontecera aos cegos de anos antes. A Saramago ouvi-me dizer, Sabe, encontrar estes personagens, tantos anos depois, foi uma das maiores surpresas que tive na vida, respondeu-me ele, Para mim também, sabia lá, podia lá imaginar que eles me apareceriam de novo.

 

Foi mais ou menos isto, não traio a memória de nenhum de nós por assim o contar.

 

O discurso do Nobel, a ideia de que as personagens fazem o autor, percebe-se melhor em momentos assim. Eu, fiquei mais rico por ter tido o privilégio destas breves palavras. Hoje, infinitamente mais pobre, recordo-as e partilho-as, porque todas as palavras de Saramago são preciosas demais para ficarem fechadas na memória.

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Depois de uma primeira intermitência, antes da Viagem do Elefante, a morte não resistiu mais e abraçou definitivamente José Saramago, ainda que, em verdade, homens destes não possam morrer, estará ela melhor que nós, porque o tem junto a si.

 

 

 

 

Cá em casa, ergueu-se um altar, obrigado R.

 

 

 

 

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José Saramago

18.06.10

Podem as palavras ser lágrimas? Tivessem elas saído das mãos dele e seriam-no.

 

Eu, só com os olhos posso chorar.

 

Obrigado, José Saramago, por tudo o que me deste e poderei guardar para sempre.

 

 

"Antes eu dizia: 'Escrevo porque não quero morrer' Mas agora mudei. Escrevo para compreender o que é um ser humano."

José Saramago

 

 

 

Ocorre-me isto, de uma outra perda recente:

 

 

 

 

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Por vezes, a literatura aproxima-se da vida. Vem discretamente, sem se anunciar, apenas quando já estamos enredados no meio das linhas de um livro é que percebemos o quando ele se está a transformar num relato próximo. Li este livro como se estivesse sentado à lareira com os protagonistas a contarem-me as suas histórias, a linguagem concreta e realista, as idiosincrasias subtis mas vincadas, as incoerências naturais de cada um de nós, tudo isso está presente nestas páginas que ganham vida. É assim Yates, um escritor que deixa a escrita em segundo plano, em que ela é instrumental, ela serve para invocar pedaços da realidade.

De certa forma, é um livro cru, sempre concreto, onde o estilo sóbrio nunca nos faz sonhar, em vez disso, faz-nos ver a realidade. Pode não ser um grande livro, pode não ser de um grande escritor (fiquei com dúvidas porque a tradução tem momentos bastante duvidosos), mas é um grande Romance.

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Às vezes percorro a minha estante à procura de um livro que ainda não vou ler. Isto é, vou-me sentar no sofá, só tenho uns minutos, mas apetece-me folhear um livro. Mais para explorá-lo do que para lê-lo. Por isso, há uns dias, seguindo esta lógica peguei neste O Corpo Enquanto Arte de Don DeLillo. Não o ia ler mas li-o. Primeiro porque é bem pequeno Confesso, não custou muito. Mas, principalmente, porque é altamente intrigante e, até, comovente. A princípio parece que estamos a ler o guião para um filme, tal a abundância de pormenores sobre gestos e movimentos. Mas depois, à medida que o indefinível desta história se vai desenvolvendo, começamos a entrar, até demais, na mente de uma mulher e de um personagem que nunca percebemos se é real ou não. Lembrei-me muito de Bergman e do seu Persona.

 

Tenho andado a olhar com vontade para o novo livro de DeLillo, Submundo, que está nas livrarias e tem sido bastante falado. Depois desta introdução, já não tenho dúvidas, vou lê-lo.

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