Ainda não tinha contactado com a obra deste escritor e, pelo que tenho lido por aí, este até é um livro algo diferente dos habituais. Parece-me que Reverte é extremamente competente na composição da história, na forma como escreve, na intenção de prender o leitor. Tudo muito bom, bem escrito, bem pensado, sem nada fora do sítio.
Note-se este início: um homem que vive numa torre junto ao mar. Está a pintar, nas paredes da torre, um enorme quadro sobre a guerra. Este homem foi fotógrafo de guerra durante muitos anos, tendo agora voltado à pintura, que já praticara antes. Um dia, um outro homem visita-o, apresenta-se como um soldado a quem ele fotografou, essa fotografia valeu, até, um prémio. Este soldado explica ao pintor que vem para matá-lo, mas não de imediato, antes disso, terão muito que conversar. Este é o mote e, a partir daqui, Reverte, nas conversas entres estes homens, e nas recordações do passado do pintor, desenvolve uma reflexão sobre a guerra, o mundo, a violência. A forma como o homem é um animal cruel e sanguinário. O mesmo homem que é capaz de ver fotografias do horror, ou imagens desse horror na televisão, ficando indiferente, incomodando-se mais por aquilo perturbar o seu jantar, do que com o facto em si.
E esta reflexão de Reverte está bem feita, está bem escrita mas está, também, a dizer o que já foi dito muitas vezes. Não creio que se ganhe aqui nenhuma nova perspectiva sobre a crueldade do homem, sobre a arte da fotografia, sobre os dilemas do fotógrafo de guerra e a sua (i/a)moralidade quando, perante um acto de violência, pode preferir que ele aconteça para o retratar, do que poder intervir e evitá-lo.
Não digo que não vale a pena. De forma alguma. Este é um livro que, pelas suas características de ser muito fácil de ler, muito acessível e, em parte, empolgante, pode levar estas temáticas a um grande número de leitores. Assim, pode ser do máximo interesse, especialmente para quem nunca leu sobre estes temas ou não está habituado a reflectir sobre eles.
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