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Gosto da ideia. Alguém que se prende a um lugar, a um edifício, a um templo, seja o que for. A verdade é que há algo que me fascina na entrega de um homem a algo que não é outra pessoa, mas sim uma “coisa” ou, neste caso, um templo, um lugar em particular.


Neste livro, Mishima escreve na primeira pessoa e eleva a sua escrita a um patamar tão confessional e peculiarmente sincero, nas suas consequências, que quase me envergonho por penetrar tão fundo na mente (perturbada) de alguém.

O protagonista desta história parece, muitas vezes, ser arrastado, pelas circunstâncias, para o mal. Ao mesmo tempo, mostra uma irresistível atracção por esse mesmo mal, não optando pela resistência, por se afastar do que é incorrecto. É preciso, para aceitar o que vai acontecendo, aceitar os pressupostos do protagonista. As explicações que ele arranja para as suas acções não são, a uma luz racional, convincentes. O que é interessante aqui é perceber isso mesmo, como é que alguém vai derivando de uma posição de quase inocência para uma assinalável crueldade. Mishima leva-nos, assim, numa viagem onde se perde a inocência, à medida que se vai construindo uma identidade. A emancipação, ou uma forma dela, leva à revolta contra o que representa a tradição. O amor e o ódio estão afastados apenas por milímetros, nesta história. Um facto, um acontecimento na vida de uma criança pode marcá-la profundamente e resultar em acções condicionadas no futuro. O que é estranho em Mishima é a forma como aponta esse facto mas nunca explica como é que de um ponto se chega ao outro. A descoberta do pecado não tem que levar alguém a ser pecador, embora seja isso que aconteça nas histórias deste autor, tal como em O Marinheiro que perdeu as graças do mar.

Ler Mishima enriquece nessa perspectiva, a de que entramos noutra mente, descobrimos caminhos surpreendentes sem que, no entanto, os consigamos perceber inteiramente. E não é assim com tudo? Não ficamos tantas vezes perplexos com as atitudes dos outros, incapazes de compreender, sem saber que sentido faz aquilo? Em suma, Mishima não serve para nos dar novas explicações, não nos mostra todos os pontos de vista. Mishima serve para descobrir uma escrita que vem do mais íntimo e que revela, não necessariamente o que devia ser, mas apenas o que foi.
 
Recomendaria este livro a quem gosta de pessoas estranhas, que tomam atitudes estranhas. Talvez O Marinheiro que perdeu as graças do mar seja uma melhor opção, pelo menos, como introdução. Para quem quer uma história com tudo no seu lugar, sem elementos de choque, sem bifurcações complexas e inexplicadas, é melhor ficar longe.

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