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Eu não sei muito bem o que acontece neste livro. Quer dizer, sei muita coisa, não há propriamente passagens difíceis ou enigmáticas, a escrita é corrida, relativamente simples, não é por aí.
Há muitos escritores assim, escrevem porque… querem dizer coisas. Não têm uma estrutura para as dizer, não têm propriamente uma história, usam a escrita de forma invulgar. Confesso que aprecio menos este género do que a capacidade de criar um verdadeiro argumento e colocar, dentro dele, aquilo que se quer dizer, até porque a ficção continua a ser das melhores formas de explicar e expor um ponto de vista.
Este livro fica algures entre o ensaio e o romance. E, dentro desse género, Thomas Bernhard é realmente bom. O texto está cheio de pequenas pérolas que valem por si só, mas também é verdade que valem mais do que o livro em si.
Portanto há um rapaz, o pai dele é médico e leva o filho nas suas visitas aos doentes. Pronto, é mais ou menos isto. Só isto, e tanto mais do que isto. Porque o que estas pessoas contam sobre o que pensam é a matéria sobre a qual Bernhard se debruça.
O que surpreende é o elevado interesse que o livro consegue manter do princípio ao fim. A par disso, há uma musicalidade na escrita, com a repetição constante de certas palavras ou expressões, que torna difícil parar de ler. Durante grande parte do livro há pequenos parágrafos, separados por espaços, é fácil querer ler só mais um. A certa altura, sem que nada o fizesse prever e sem que haja um sentido aparente, surge um título “O Príncipe”. A partir daí os parágrafos passam a ser extensos, muito extensos, alguns com dezenas de páginas.
É também neste “discurso” do Príncipe (é um dos “doentes” que eles visitam) que o autor eleva, definitivamente, a sua escrita a planos invulgares. No fundo, são reflexões, sobre a vida, muito em particular sobre a morte, sobre os filhos, a família, a solidão, as relações sociais, enfim, sobre um pouco de tudo. Como se um homem, à beira da morte, se pusesse a reflectir sobre o que foi, ou o que é, existir. Há pessimismo e há optimismo. Há fé e há desencanto, há espaço para um vasto leque de emoções, com os seus vários matizes.
Perturbação é, acima de tudo, um objecto estranho. Não há forma de aconselhar ou desaconselhar algo assim. Quem gosta de romances, não encontra aqui grande coisa que lembre o género. No entanto, quem gosta de ler, ler como exercício de exploração, dificilmente resistirá.

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